• Maroísa Baio – Limeira/SP
Prezado leitor, não se impressione com o título deste artigo. Trata-se de uma fake news (notícia falsa) divulgada por um padre francês que, em 1862, passou a atacar a vida particular de Kardec, no aspecto ¬financeiro. Segundo o tal padre, Kardec enriquecera com as vendas dos livros sobre Espiritismo, sobretudo na Inglaterra; em sua casa, havia somente pratarias finas, tapetes valiosos, mesas fartas; possuía uma carruagem, acompanhada sempre por um “trem principesco”. Dizia ainda que havia conhecido Kardec quando menino de família pobre, em Lyon.
Kardec divertiu-se quando tomou conhecimento dessas acusações. Embora não tivesse que dar satisfações de sua vida particular e financeira a ninguém, achou melhor satisfazer os mais curiosos, com a seguinte declaração:
“Sempre honrei os meus negócios, não importa a que preço de sacrifícios e de privações; nada devo a quem quer que seja, enquanto muitos me devem, sem o que teria mais do dobro do que possuo, com o que, em vez de subir, desci na escala da fortuna.”
Mas o fato que ele julgou mais importante para um esclarecimento melhor foi sobre a venda dos livros espíritas de sua autoria. Aliás, esse é um aspecto que não chegamos a considerar, levando em conta as facilidades para a venda de livros na atualidade. De que forma eram vendidos os livros de Kardec? Essa é a questão por ele tratada em seus esclarecimentos:
“Se tivesse vendido meus manuscritos apenas teria usado do direito que todo trabalhador tem de vender o produto de seu trabalho; mas não vendi nenhum: alguns até dei pura e simplesmente, no interesse da causa e que são vendidos como querem, sem que me venha um tostão.”
Quando da primeira edição de O Livro dos Espíritos (1857), eis os “grandes lucros” que, segundo ele, conseguiu obter:
“Fiz por minha conta e risco; não teve editor que dela quisesse encarregar-se e, feitas as contas, esgotada a edição, vendidos uns exemplares, dados outros, rendeu-me cerca de quinhentos francos, como posso provar documentadamente. Não sei que tipo de carruagem poderia ser comprada com isto.”
Não podemos conceber que Kardec desperdiçasse o tempo ocupando-se com as vendas de seus livros espíritas e muito menos que ¬ ficasse preocupado com os lucros obtidos pelos livreiros. Sua postura sobre essa questão nos surpreende:
“Na impossibilidade em que me encontrei, não possuindo ainda os milhões em questão, para enfrentar os gastos de todas as minhas publicações e, sobretudo, de me ocupar com as suas vendas, cedi por algum tempo o direito de publicação, mediante um direito do autor, calculado em uns poucos cêntimos por volume vendido; assim, estou inteiramente estranho aos detalhes das vendas e às transações que os intermediários possam fazer com as remessas feitas pelos editores aos seus correspondentes, transação de cuja responsabilidade eu declino, obrigado, no que me concerne, a abrir conta nos editores, a um determinado preço por exemplar que retiro, vendo ou dou de presente.”
Em relação ao possível lucro advindo das vendas de suas obras, ele não se sentia obrigado a dar satisfações, nem do montante recebido nem do emprego desse valor mas, sabendo das possíveis controvérsias futuras sobre esses fatos, esclareceu:
“Deixarei memórias circunstanciadas sobre todas as minhas relações e todos os meus negócios, sobretudo no que concerne o Espiritismo.”
Kardec levava vida modesta e laboriosa, o que talvez nos surpreendesse, enfrentando obstáculos sem conta para que sua conduta honrada não prejudicasse a história do Espiritismo!
Coluna Espírita – Os milhões de Kardec
jul 18, 2020RedaçãoColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em Coluna Espírita – Os milhões de KardecLike
Previous PostColuna Esplanada - ‘Santinho’ virtual
Next PostFé e Razão - Poema, a linguagem do invisível