• Gerson Sestini – Rio de Janeiro/RJ
Depois de visitar três igrejas, naquela véspera de Natal, o abastado fazendeiro, prepara-se para retornar ao lar, acompanhado de sua desfalcada família. A paz que almejara não fora alcançada naquela busca. Com a crença abalada, sentia-se triste e acabrunhado porque não encontrara a consolação que buscava. Apenas levava algo de positivo de um dos templos, ao observar a alegria e a felicidade que os abraços causavam entre os fiéis ao término dos ofícios, despertando-lhe o desejo de estar entre eles.
O filho caçula toma a direção da luxuosa caminhonete e sugere uma volta pelas cercanias da cidade antes de voltarem. O pai concorda e o passeio é iniciado pelo contorno de bela lagoa ajardinada. Com o acaso dominando o volante, o chofer toma uma estrada que levava a um descampado de onde poderiam gozar de vista panorâmica. Uma casa solitária, mostrando os restos da imponência que gozara, chama-lhes a atenção. Algumas pessoas abanam as mãos como se estivessem a esperá-los. O rapaz encaminha a caminhonete para lá e dois jovens se aproximam desejando-lhes boas-vindas.
“Os senhores são os primeiros a chegar,” falam. “Estamos só passando, não somos convidados…” diz o condutor. “Mas agora estão!” Retruca o mais alegre… Um tanto curioso indaga-lhes: “O que é aqui?”
“Este é o ‘Retiro da Colina’, uma casa que recebe pessoas necessitadas… Disseram que hoje iríamos receber visitas importantes. Devem ser vocês, sim”. E corre a chamar o responsável. “Não somos nós… fala o caçula, mas não foi ouvido.”
Tomado de emoção o patriarca pede que esperem.
Este logo chega mostrando-se jubiloso. Convidados a descerem, todos o fazem, e como se fossem os visitantes esperados dirigem-se para a casa de acolhimento. Observam a seriedade da instituição que abrigava pessoas com variados tipos de carência e suas necessidades específicas, constatando ainda que, apesar das dificuldades que enfrentavam com aquele sistema igualitário que os nivelava, todos ali eram bem tratados e uniam-se em respeitosa amizade .
O fazendeiro mostra-se interessado em ter contato com aqueles assistidos. Antes, porém, isola-se com o dirigente e entrega-lhe um cheque para ajudar na manutenção da casa, pedindo-lhe para que não os deixassem saber sobre a dádiva que fazia.
Juntando-se aos familiares, foi ter com os assistidos que os aguardavam no pátio. Senta-se um pouco e fica a observar aquelas criaturas que o saudavam abanando as mãos, enquanto mentalmente fazia uma avaliação de seus problemas e mágoas, confrontando-os com o que cada uma delas poderia estar enfrentando. Quem ali os teria maior que os seus?
Tomado de coragem, levanta-se e dirige-se a eles: “Vocês devem ter notado que eu e meus familiares nos mostramos como gente ‘bem de vida’” … (Faz uma pausa procurando reação de suas palavras) … Todos se mantinham atentos. “Isso de certa forma é verdade”, continua. “Porém, a nossa vida é a mesma vida que Deus dá a todos, com momentos de alegrias e outros de grandes sofrimentos, como os que estamos enfrentando agora, com a partida de minha esposa, deixando meu coração partido, seguindo-se por uma tragédia… o acidente que levou o meu filho mais velho, a nora e dois netos. Se eu estou aqui, diante de vocês, pergunto-me se não foi um convite do Céu, pois não foi ninguém da Terra que o fez. E por isso, nada de material lhes trouxemos nesta véspera de Natal. Apenas podemos abraçar cada um de vocês, em nome de Jesus, a fim de que recebam sua luz para alegrar seus corações. É tudo que podemos oferecer esperando transmitir alguma alegria também.”
Admirados pela inusitada situação que aqueles visitantes os colocavam, os assistidos preparam-se para a singela oferta daquela família. Na fila que se formara, os abraços se sucediam: a cada homem ou rapaz, a cada senhora ou moça, o fazendeiro sorria e repetia: “Com Jesus em seu coração”.
Em troca, recebia poderosa carga energética aliviando seu próprio coração, liberando-o dos sombrios enleados fios formados por mágoas e repletando-o com paz, o que fazia com que renascesse nele a esperança de dias mais luminosos.
Ao terminarem o abraços, ainda comovido, fala a todos eles:
“Só quem conhece a dor no mais profundo do ser tem maior capacidade de minorar a dor do seu próximo. Se houve algum presente de Natal entre nós, este foi o que eu ganhei de vocês, através de seus confortantes e curadores abraços.”
Alguém levanta a mão pedindo para falar, era uma senhora:
“Insignificantes que somos, não fomos nós, meu senhor… Foi Jesus que esteve presente entre nós, atendendo-nos a todos. Ele não prometeu estar junto dos que se reunissem em seu nome? Quanto mais na comemoração de seu aniversário!…”
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Natal de 2020
Hoje, com a pandemia que assola a humanidade, necessitando do distanciamento social para auxiliar a contê-la, os abraços físicos se restringem e se transformam em imagens virtuais, carecendo por isto de maior potencial energético para a transfusão das vibrações que animam e pacificam os que se abraçam fisicamente. Contudo, em se tratando do Natal de Jesus, Ele certamente anulará esta dificuldade, oferecendo-nos o seu próprio abraço àqueles que O procuram para saudá-lo.
Feliz Natal a todos!