• Anselmo Ferreira Vasconcelos – São Paulo/SP
Nada mais enganador do que a percepção de que as conquistas humanas, inclusive as espirituais, podem sem alcançadas sem esforço. Na verdade, se há algo que tangencia os ângulos e nichos das nossas vidas, são as dificuldades e problemas. Praticamente, toda vez que nos propomos a realizar algo haveremos de colidir com obstáculos de toda sorte. Eles estão em nosso caminho, mas por motivos justificáveis. Personagens respeitáveis, atletas consagrados, profissionais de renome e indivíduos ansiosos por vencer deparam-se, em dado momento, que não há como subir sem o enfrentamento dos obstáculos. Afinal, há igualmente neles elementos transcendentes que precisam ser compreendidos.
Em termos de desenvolvimento espiritual, assunto que nos interessa em particular, não se avança sem a firme disposição de superar as enormes peias do caminho. Se o(a) irmão(ã) tem dúvida, por favor, recorde, então, de Jesus, que nos prometeu a “cruz” redentora aos que desejavam segui-lo. Com efeito, se ele sucumbiu pregado a um madeiro infame para nos trazer a verdade divina, a palavra libertadora, então, por que nós haveremos de aguardar maneirismos?
Consideremos que os obstáculos estão ali para testar a robustez da nossa fé, paciência, resistência e do nosso universo emocional, entre outras coisas. Portanto, se as suas condições de vida vêm lhe amortecendo as asperezas do caminho, não espere que isto seja para sempre. Outras certamente haverão de surgir, talvez mais complexas ainda. Ao escrever esse texto, por exemplo, fui interrompido algumas vezes até poder concluí-lo.
E assim é com quase tudo que nos envolve ou nos propomos fazer. Em se tratando de coisas do bem, os desafios tenderão a ser mais difíceis ainda. Por que acontece isso? Em primeiro lugar não podemos nos esquecer que vivemos na Terra. De fato, o planeta abriga um contingente respeitável de almas consideravelmente imperfeitas, e que, não raro, até mesmo se alegram em criar problemas para os outros visando justificar a sua relativa importância. Ou seja, fazem do seu ofício e ocupação a manifestação cabal da ignorância e falta de compaixão. Sob tal condição de atraso espiritual é-lhes saliente a ausência dos recursos salutares da empatia.
Em segundo, os obstáculos, quando adequadamente interpretados, constituem as provas indispensáveis e intransferíveis ao indivíduo sequioso de luz. Por meio delas, o postulante obtém as forças e capacidades necessárias para alçar voos mais altos. Em decorrência disso, habilita-se a cooperar de maneira mais intensa e aguda em missões celestiais.
Da mesma maneira que não se confia a uma criança a pilotagem de um avião, Deus também não delega a Espíritos despreparados ou de mentalidade perturbada tarefas complexas.
Chegar a um elevado patamar evolutivo requer denodo e imensa dedicação à autoiluminação.
Não nos iludamos, não há outro jeito. A propósito, não sem razão, alertou-nos o mestre Jesus sobre os sacrifícios para adentrarmos pela “porta estreita”. O Espírito Emmanuel, por sua vez, recomenda-nos, conforme consta na obra Caminho, Verdade e Vida (psicografia de Francisco Cândido Xavier), a desconfiarmos “de todas as promessas de facilidade sobre o mundo”, pois, além de vãs, elas nada proporcionam ao nosso amadurecimento interior.
Com muito acerto, o citado benfeitor pondera: “Deves saber que foste criado para gloriosa ascensão, mas que só é fácil descer. Subir exige trabalho, paciência, perseverança, condições essenciais para o encontro do amor e da sabedoria”.
Emmanuel é um exemplo perfeito de Espírito que buscou esse caminho. Como fiel devoto do Cristo lutou e continua lutando para avançar na senda espiritual. Graças ao seu esforço exegético de iluminar a nós, que ainda teimamos em buscar a luz, somos advertidos de que “Aquele que compreende o tesouro oculto nos obstáculos, e dele se vale para enriquecer a vida, está subindo e é digno de ser seguido”.
Desse modo, conclui-se que há, sim, um enorme valor espiritual nos obstáculos e dificuldades. Portanto, se há no(a) leitor(a) amigo(a) o desejo autêntico de progredir espiritualmente, tenha em mente que os obstáculos são oportunidades concedidas pelo alto para desenvolvermos, por assim dizer, os “músculos da alma”.
Ademais, como observa Emmanuel, no livro Vinha de Luz (também psicografia de Francisco Cândido Xavier), “… todos nós, encarnados e desencarnados, oscilantes ainda entre a animalidade e a espiritualidade, entre o vale do homem e a culminância do Cristo, estamos constrangidos a batalhar até o definitivo triunfo sobre nós mesmos pela posse da Vida Imortal”.
