• Altamirando Carneiro – São Paulo/SP
A julgar pela data em que surgiu o Espiritismo – 18 de abril de 1857 -, muitos de nós, como Espíritos, na nossa jornada evolutiva, estamos entrando em contato com o Espiritismo pela primeira vez. Somos os primeiros Espíritos espíritas!
Isto nos confere uma responsabilidade muito grande. Os ensinamentos da Doutrina Espírita – o Consolador prometido por Jesus – são claros no que dizem respeito à nossa conduta ética e moral, que deve sempre se nortear pela conduta do Cristo, nosso maior modelo.
Jesus pregou e exemplificou. Devemos também seguir o Mestre, neste sentido. Ainda mais nós espíritas, que tanto lemos, que tanto recebemos. Nossa responsabilidade é sentida inclusive pelos que não são espíritas. Acham que devemos ser modelos de perfeição. Mas se não podemos sê-lo, no mínimo devemos ter uma conduta exemplar.
O espírita consciente de seu papel deve ter a consciência de que é o trabalhador da última hora, classificado como os poucos que foram escolhidos, dentre os muitos que foram chamados. Atribuições a desempenhar devem ser consideradas como instrumentos, através das quais forjamos o progresso do nosso Espírito.
O espírita inteligente sabe que somente uma coisa é permanente, duradoura: a própria Doutrina Espírita. Atribuições são situações passageiras, auferidas a cada um por méritos próprios. Não somos donos de nada. Nossos talentos individuais são como empréstimos, que a Providência Divina nos concede, para através deles, evoluirmos.
Em O Livro dos Espíritos, livro terceiro: As Leis Morais, capítulo XII: Perfeição Moral, item Caracteres do Homem de Bem, Allan Kardec pergunta aos Espíritos (pergunta 918):
“Por que sinais se pode reconhecer no homem o progresso real que deve elevar o seu Espírito na hierarquia espírita?”
Resposta: “O Espírito prova a sua elevação quando todos os atos da sua vida corpórea constituem a prática da lei de Deus e quando compreende por antecipação a vida espiritual”.
A seguir, os comentários sobre a questão: “O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade na sua mais completa pureza. Se interroga sua consciência sobre os atos praticados, perguntará se não violou essa lei, se não cometeu nenhum mal, se fez todo o bem que podia, se ninguém teve que se queixar dele, enfim, se fez para os outros tudo o que queria que os outros lhe fizessem.
Se a ordem social colocou homens sob a sua dependência, trata-os com bondade e benevolência porque são seus iguais perante Deus; usa de sua autoridade para lhes erguer a moral e não para os esmagar com o seu orgulho.
O homem de bem não é vingativo. Respeita, nos seus semelhantes, todos os direitos decorrentes da lei natural, como desejaria que respeitassem os seus.
Para o homem de bem, todo dia, toda hora, todo instante é tempo de socorrer o semelhante. Como fez Jesus, que foi perseguido pelo fato de ter curado um paralítico num sábado. Em resposta, Jesus disse que o Pai trabalha todos os dias, sem cessar.
Na verdade, a divisão do tempo do jeito que o homem a fez, serve apenas para a sua orientação; todavia o tempo, da forma que o vemos, não passa da modificação das coisas à nossa volta e nada mais. Gira a Terra em torno de seu eixo gerando os dias e as noites em torno do Sol, dando origem aos anos.
Ainda hoje a Humanidade não chegou a um consenso de medir o tempo, pois há calendários diferentes em diferentes pontos da Terra. Perguntemos a um cego de nascença o que é o tempo e ele, por certo, terá dificuldade em explicar.
Na verdade, o que existe é movimento. Desde o pequenino átomo, passando pela energia e chegando ao Espírito, tudo é ação, seja sábado ou domingo. A permuta de energia entre os astros não cessa. Não há dia nem lugar para que algo fique parado. Toda a Obra Divina se baseia na Lei do Movimento a que podemos chamar de Trabalho.
Eleger um dia da semana para reverenciar-se a Deus é mostrar gratidão para quem nos criou, mas, transformar essa reverência em dogma a ponto de não se ajudar a quem precisa, é ir-se longe demais. Foi esse exagero que Jesus quis desfazer ao dizer que o Pai, desde sempre, trabalha sem cessar.
Sendo Deus perfeito, de nada necessita. Aceita a nossa reverência, como aceitamos a doação espontânea de um pedaço de bolo oferecido por uma criancinha, porém, enviou seu Filho para nos dizer que a sua vontade é a de nos fazer evoluir para que um dia alcancemos a felicidade e que nos sintamos inebriados por ela.
Jesus é o grande libertador das almas. Veio para nos abrir novos caminhos. “Aquele que tenha ouvidos de ouvir que ouça”, dizia, e toda a orientação foi para que nos amássemos uns aos outros, durante todo o tempo.
Jesus curou o paralítico no sábado como o teria curado em qualquer outro dia que o tivesse encontrado. Importante para o nosso aprendizado é o ensinamento que nos deixou, ao dizer: “Vai e não peques mais…”
Evoluir é tarefa a que somos convidados em todos os momentos de nossa vida e somente doando-nos é que o conseguimos. Estamos num mundo em que as necessidades e os necessitados são muitos e por isso somos permanentemente convidados à tarefa. “A seara é grande e os trabalhadores são poucos”, disse-nos o Mestre.
Ouçamos-lhe o convite e administremos o nosso tempo de tal forma que, mesmo sendo sábado, possa ele contar com nosso concurso. Afinal, estaremos na verdade trabalhando em prol de nós mesmos.