• Ricardo Baesso de Oliveira – Juiz de Fora/MG
Tradicionalmente identificamos o conceito amar a Deus com o conceito amar ao próximo, e afirmamos comumente que amamos a Deus quando amamos o nosso próximo. Esse tipo de conclusão não é tão simples como parece. Um dos maiores estudiosos judeus de todos os tempos, o rabino Akiba, que viveu na Palestina, no primeiro século da era cristã, disse, em seu leito de morte, que nunca entendeu como se podia cumprir o mandamento “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com todas as tuas forças, com todo o teu ser”.
A leitura atenta do texto evangélico onde Jesus reporta-se a esses pensamentos parece mostrar que o amor a Deus e o amor ao próximo são coisas diferentes.
Vejamos o relato de Mateus 22: 34 a 40:
“Os fariseus, tendo sabido que Ele fechara a boca dos saduceus, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, propôs-lhe esta questão, para o tentar: Mestre, qual é o maior mandamento da lei? – Jesus respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este é o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. Toda lei e os profetas se acham nesses dois mandamentos”.
Devemos observar que Jesus explicitou que os dois mandamentos são diferentes, embora se pareçam: o primeiro, maior, ou seja, o mais importante é amar a Deus, e o segundo, amar o próximo.
O sentido da expressão amar o próximo parece bem claro na proposta de Jesus: fazer ao outro todo o bem possível, ser-lhe útil no limite de nossas forças, respeitar seus direitos, perdoar sempre que preciso, compreender, tolerar etc. Mas como compreender o pensamento amar a Deus, desvinculando-o do amor ao próximo? Como poderia Jesus pedir que amássemos “algo” que nos é incompreendido, inabordável pela nossa mente obtusa?
Uma possível alternativa para compreensão dessa ideia podemos encontrar na conhecida obra Vida feliz, que Joanna de Ângelis ditou, através de Divaldo Franco, especificamente em seu último texto, de nº 200, quando a benfeitora escreve:
“Agradece a Deus a tua existência. Louva-o mediante uma vivência sadia. Exalta-lhe o amor por meio dos deveres retamente cumpridos”.
Chamamos a atenção que a autora relaciona o amor a Deus aos deveres retamente cumpridos.
Outro texto digno de nota está em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, Sede perfeitos, Instruções dos Espíritos, na mensagem assinada por Lázaro, intitulada O Dever:
“O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que às criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo”.
Lázaro estabelece no texto, de forma inequívoca, que o amor a Deus (primeiro mandamento na proposta de Jesus) se estabelece no cumprimento do dever, tal qual a citação anterior de Joanna.
Entendendo-se o dever como a “obrigação de fazer ou deixar de fazer alguma coisa”, ou seja, “o conjunto das obrigações” (Michaelis), o amor a Deus deveria estar condicionado ao respeito e devoção a algumas obrigações pessoais.
Segundo estabelece Emmanuel, no livro Pensamento e vida, “o dever define a submissão que nos cabe a certos princípios estabelecidos como leis pela Sabedoria Divina, para o desenvolvimento de nossas faculdades”. Acrescenta o benfeitor que “dessa forma, pode-se simbolizar o dever como sendo a faixa de ação no bem que o Supremo Senhor nos traça à responsabilidade, para a sustentação da ordem e da evolução em Sua Obra Divina, no encalço de nosso próprio aperfeiçoamento”.
Concluindo, podemos sugerir como proposta de reflexão que o amor a Deus se identifica com o culto ao dever, o compromisso com a retidão de caráter, a atitude responsável e a priorização dos princípios éticos.
Tais condutas, aplicáveis em nossa vida no atual estágio evolutivo, não dependem da compreensão da natureza de Deus, por ora, para nós, inalcançável.
Coluna Espírita – O que significa amar a Deus
jul 20, 2024RedaçãoColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em Coluna Espírita – O que significa amar a DeusLike
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