• Anselmo Ferreira Vasconcelos – São Paulo/SP
Não há muitas iniciativas voltadas a aferir concretamente quantas palavras falamos por dia. Um raríssimo estudo publicado pela revista Science em 2007, de autoria do psicólogo James Pennebaker, da Universidade do Texas, com uma amostra de homens e mulheres dos Estados Unidos e México, detectou que, em média, elas falavam 16.215 palavras, enquanto eles expressavam 15.669. Vê-se que não há uma diferença substancial entre os gêneros – chacoalhando, assim, certo mito. Todavia, mais importante do que o número de palavras emitidas diariamente é a natureza delas.
Se o assunto não fosse importante, Jesus não teria efetuado tão incisivas recomendações a respeito. Por exemplo, em Mateus (12: 37) lemos: “Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado”. Ainda em Mateus (15: 11) encontramos outra séria advertência: “O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem”. O raciocínio também é, por extensão, válido para aquilo que escrevemos. Afinal, na atualidade, expressamos a nossa forma de pensar com muita desenvoltura, assim como irrefreável volúpia pelas redes sociais, blogs e artigos. Aliás, nunca se escreveu tanto antes no mundo. Há, sem dúvida, franca liberdade de expressão na grande maioria dos países, mas cumpre lembrar que, com a liberdade, vem também a responsabilidade…
Com efeito, nem todos conseguem prestar a devida atenção quanto ao teor das suas palavras. O tópico requer constante reflexão, já que as palavras são o meio pelo qual externamos os nossos pensamentos, valores e opiniões. Em síntese, as palavras embutem o teor do nosso estado d’alma, bem como a nossa condição evolutiva. Desse modo, cabe indagar: são elas endereçadas a criar otimismo e esperança? São elas manifestações de acusações injustas e descabidas? Visam, sobretudo, construir ou destruir? São chulas ou equilibradas? São, enfim, agressivas ou edificantes?
Definitivamente, as palavras enfeixam enorme poder. Nesse sentido, o momento presente tem sido marcado pela disseminação das chamadas fake news, que distorcem a realidade dos fatos, bem como atacam a honra e a dignidade das pessoas. Por isso tudo, devemos repensar, com seriedade, como usamos as palavras em nossas comunicações. Há profissionais de imprensa, por exemplo, que abusam de adjetivos altamente depreciativos em suas críticas e análises. É verdade que o país abriga, infelizmente, considerável contingente de pessoas despreparadas em várias áreas da administração pública. Também é incontestável que a nação ainda patina clamorosamente em aspectos éticos e morais. Enfim, há muito a ser feito em várias frentes para que avancemos individual e coletivamente.
Apesar disso, recordemos as admoestações do Espírito Emmanuel, na obra Dicionário da Alma (psicografia de Francisco Cândido Xavier), “Examina o sentido, o modo e a direção de tuas palavras, antes de pronunciá-las”. Criticar por criticar não ajuda muito na melhoria das coisas. Será que não poderíamos tentar ajudar o alvo das nossas críticas a encontrar o caminho das soluções? Segue daí a sensata orientação do Espírito Meimei, na citada obra, “A caridade nos pensamentos, nas palavras e nas ações é o processo de renovar nossas almas”.
Às vezes um pouco de caridade com quem está mergulhado na ignorância e erro pode auxiliar na sua recuperação. Para os que lidam com as palavras, por outro lado, não custa “Evitar anedotário chulo ou depreciativo, reconhecendo-se que as palavras criam imagens e as imagens patrocinam ações”, conforme observa o Espírito André Luiz, no livro Sinal Verde (psicografia de Francisco Cândido Xavier). André ainda sugere que afastemos as palavras agressivas de nosso vocabulário. De modo geral, elas não fazem bem ao indivíduo criticado e tampouco a nós. Por isso, Emmanuel propõe em Fonte Viva (também psicografada por Francisco Cândido Xavier): “Retém contigo as palavras da vida eterna, porque são as santificadoras do espírito, na experiência de cada dia, e, sobretudo, o nosso seguro apoio mental nas horas difíceis das grandes renovações”.
O Espírito Joanna de Ângelis, a seu turno, constata, na obra Florações Evangélicas (psicografia de Divaldo Pereira Franco), que: “Mesmo entre os chamados à lavoura do Evangelho, não poucos se utilizam da riqueza da palavra. Usam-na destrutivamente no comércio da maledicência, na alfândega da calúnia, no tribunal da acusação, no intercâmbio da intriga. E a palavra pode transformar-se, no entanto, em rota luminescente, pão de sustento, água refrescante e benefício de incontáveis corações…”
Neste momento delicado de transição planetária, onde as trevas buscam de todas as formas confundir e desvirtuar o pensamento humano, precisamos muito ouvir e ler palavras de incentivo, esclarecimento, fé, compaixão, amor e amizade. Posto isto, averiguemos, então, como estamos empregando as palavras em nossas vidas.