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quarta-feira 27 novembro 2024
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Coluna Espírita – O lírio e o charco

• Cláudio Bueno da Silva – Osasco/SP
Podemos ler na Revista Espírita de abril de 1859 um excelente artigo de Allan Kardec intitulado “Quadro da vida espírita”. O mestre demonstra ali alta capacidade como escritor, e a sua visão abrangente sobre os assuntos causa a impressão de que nada lhe escapa à análise justa e perspicaz.
É certo reconhecer em Allan Kardec um espírito evoluído, preparado para a exposição das melhores ideias. Claro que os espíritas sabem disso, mas nunca é demais realçar suas qualidades, como estímulo para que se leia cada vez mais sua obra, seus ótimos trabalhos, inclusive os publicados na Revista Espírita, de 1858 a meados de 1869.
Nesse artigo, Kardec trata da situação dos espíritos na erraticidade e das várias formas de compreensão moral a que estão submetidos, segundo o nível de adiantamento em que se encontram. É um escrito bem esclarecedor.
Ele explicita a situação dos espíritos mais elevados, descendo na hierarquia aos menos elevados, passando pelos espíritos vulgares, nem bons nem maus, até chegar ao “que se pode chamar de a escória do mundo espírita, constituída de todos os Espíritos impuros, cuja preocupação única é o mal”. A estes últimos, descreve-os como sofredores que desejam que todos sofram; são invejosos de toda superioridade; investem contra os homens, excitando-lhes as paixões ruins; instigam a discórdia, separam os amigos, provocam rixas, espalham o erro e a mentira, em suma, o que os domina é o desejo de desviar do bem.
O desfecho de “Quadro da vida espírita” é interessante e exatamente o que se poderia esperar de um homem totalmente compromissado com a verdade e com o esclarecimento dos seus semelhantes, como foi Allan Kardec.
A desigualdade de níveis evolutivos entre os habitantes da erraticidade, descrita no artigo, e as características abomináveis da “escória do mundo” espiritual poderiam indignar a maioria: “Mas por que permite Deus que assim seja?” E Allan Kardec surpreende, finalizando o texto: “Deus não tem que nos prestar contas. Dizem-nos os Espíritos superiores que os maus são provações para os bons e que não há virtude onde não há vitória a conquistar. Aliás, se esses Espíritos malfazejos se acham na Terra, é que aqui encontram eco e simpatia. Console-nos o pensamento de que, acima deste lodo que nos cerca, existem seres puros e benevolentes que nos amam, nos sustentam, nos encorajam e nos estendem os braços, atraindo-nos, a fim de nos conduzirem a mundos melhores, onde o mal não encontra acesso, desde que saibamos fazer aquilo que devemos para o merecer”.
Orientação bem própria para os dias que vivemos. O lírio pode florescer em meio ao charco.