• Marcus De Mario – Instituto Brasileiro de Educação Moral-IBEM/RJ
João Carlos é um garoto esperto, agitado, cheio de energia e com enorme dificuldade de respeitar os outros e obedecer limites. Está com sete anos de idade e não consegue ficar quieto, concentração em algo por mais de cinco minutos parece ser impossível para ele. Sem saber mais o que fazer, os pais entraram no Centro Espírita para submeter o João Carlos a um tratamento espiritual, pois o menino parecia ter o diabo no corpo. Explicamos que na visão espírita o diabo, também chamado de demônio, satanás e outros nomes, não existe. Existem os espíritos inferiores, alguns voltados ao mal, que podem, ou pelo menos vão tentar, nos influenciar. Eles acataram a explicação e informaram que o problema do filho só poderia ser espiritual, pois psicólogo e psiquiatra, escola e neurologista, nada tinham conseguido para a sua melhora. Além de desobedecer e desrespeitar, era violento e adorava fazer escândalos em público.
Enquanto tínhamos essa conversa, João Carlos não parava no lugar. Abriu porta de armário, quase atropelou outras pessoas, subiu em cadeiras, ou seja, realmente parecia um tsunami, levando tudo de roldão, deixando a todos bem preocupados. E os pais, tentando manter a calma e a educação, afinal estavam em ambiente desconhecido e à frente de pessoas desconhecidas, limitavam-se a lhe chamar a atenção, o que, naturalmente, o menino não obedecia. Então tivemos que tomar uma atitude, antes que aquela criança de sete anos de idade acabasse com o Centro Espírita. Levantei-me, fui até o João Carlos, e falei:
– Boa noite, meu filho, tudo bem com você?
Ele me olhou de forma curiosa e ao mesmo tempo um tanto sarcástica, e não me respondeu. Antes que aprontasse mais alguma coisa, coloquei-me à sua frente e repeti a saudação, olhando firme para seus olhos. Ele deve ter pensado que esse senhor à sua frente não sabia com quem estava lidando, e resolveu provar a sua força, dando um salto e correndo para o outro lado da sala, me ignorando e a todos os demais que ali estavam. Fui até ele, agora recostado na parede, agachei-me e, olho no olho, repeti a saudação. E antes que pudesse fazer algo, peguei-o pela mão e o coloquei sentado numa cadeira, dizendo-lhe:
– João Carlos, aqui não é a sua casa. Aqui é um Centro Espírita, onde lhe recebemos com muito carinho, com muito amor. Você, então, não pode fazer o que bem entende num lugar onde as pessoas só querem o seu bem. Se você quer ser respeitado, então respeite os outros.
Surpreso, pois acredito que seus pais nunca tomaram uma atitude mais firme na sua educação, ele perguntou, em tom de desafio:
– Quem é você?
Foi aí que iniciei um diálogo firme e ao mesmo tempo carinhoso, como nos pede o Evangelho, e finalizei convidando-o a conhecer nosso trabalho de evangelização infantil, para o qual ele ficou curioso, o que me deu ensejo para levar pais e filho pelas dependências do Centro, mostrando as atividades até chegar nas salas de evangelização. Foi então quando convidei os três para frequentarem a evangelização espírita da família, onde também receberiam a terapêutica do passe e da água magnetizada. Detalhe: em nenhum momento larguei a mão do João Carlos que, embora quisesse, não conseguiu se desvencilhar de mim.
Os pais prometeram vir no dia da evangelização, trazendo o João Carlos, o garoto tsunami, para iniciar o tratamento espiritual e aprender a fazer o Evangelho no lar.
Essa história aconteceu há mais de seis anos. Hoje o João Carlos é um adolescente de treze anos de idade, muito participativo, e que adora estar no Centro Espírita. Ainda é irriquieto, nem sempre consegue dosar com equilíbrio suas energias, mas vem se transformando, aprendendo a se dominar e, vez e outra, dá explicações sobre a vida, através dos princípios espíritas, com muito acerto.
Quanto àquele primeiro dia, o primeiro contato, ele sorri quando o fato é recordado, e vive dizendo que comigo ele aprendeu a respeitar os outros graças a eu ter exercido sobre ele a autoridade moral.
Pois bem, autoridade moral é o que os pais precisam ter sobre os filhos, muitos deles espíritos ainda rebeldes diante da lei divina, compromissados consigo mesmos e com os outros, trazendo revolta, mágoa, indolência, que pedem educação, influência moralizadora. Como realizar a educação moral do filho se os pais não agem com firmeza para corrigir as más tendências que o espírito está apresentando?
Não estamos dizendo que o trabalho de pedagogos, psicólogos, psiquiatras, neurologistas não seja importante e, em muitos casos, necessário, nem que o Espiritismo possa substitui-los, mas sim dizendo que a maior competência educacional pertence aos pais. Muitos casos podem e devem ser trabalhados e resolvidos no lar, com diálogo, doses de muito amor e paciência, e exercício da autoridade moral, que deve ser seguida sempre de bons exemplos.
Se o filho está destruindo a sala, não se pode ficar lá na cozinha apenas dizendo “não mexa aí”, “já disse para ficar quieto”, “se quebrar mais alguma coisa vai ficar de castigo”, e outras tantas frases que não são acompanhadas por uma atitude efetiva. Esse comportamento por parte dos pais libera mais ainda as más tendências que o filho está trazendo.
A evangelização espírita da família é muito importante, e os pais e responsáveis devem compreender que precisam fazer sua parte no lar. É assim que crianças terremoto, furacão, tempestade, tsunami aprenderão, com o tempo, que viver com educação é muito mais prazeroso do que quebrar, xingar, bater, desrespeitar, comportamentos que somente geram males para elas mesmas e para os outros, a começar dos seus pais.
Como nos disse Pitágoras, na longínqua Antiga Grécia, eduquemos as crianças, para não termos que punir os adultos.
Coluna Espírita – O garoto tsunami
fev 18, 2020RedaçãoColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em Coluna Espírita – O garoto tsunamiLike
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