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segunda-feira 25 novembro 2024
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Coluna Espírita – O esquecimento das vidas passadas segundo o Espiritismo

• Eder Andrade – Rio de Janeiro/RJ
No imaginário popular, muitas pessoas gostariam de remover a sombra do esquecimento que cobre o passado, tendo acesso às vidas pregressas e aos acontecimentos que nelas ocorreram para melhor compreender os desdobramentos na atual encarnação, como se a responsabilidade do sucesso reencarnatório, na atual existência física, recaísse exclusivamente na compreensão dos acertos ou dos erros das últimas existências.
Observamos em O Livro dos Espíritos as perguntas 392 até 399, onde o esquecimento do passado é uma necessidade para a evolução do Espírito, pois se ele viesse a se lembrar de determinados acontecimentos em um momento inoportuno, poderia comprometer sua atual existência. Segundo os Espíritos, quando retornamos à matéria para uma nova oportunidade reencarnatória, solicitamos do mundo maior o esquecimento das vidas passadas com o objetivo de superar as dificuldades que nos levaram a cometer imprudências, para não reincidir nos mesmos erros.
Para os antigos gregos, o esquecimento por completo das vidas anteriores é quase impossível, pois nossa história faz parte da nossa essência e dessa forma trazemos no nosso âmago as reminiscências das lembranças adormecidas do pretérito, que às vezes eclodem com objetivo de nos lembrarem das faltas que temos por obrigação reparar em uma nova existência física.
No imaginário popular, gostaríamos de ter o pleno acesso às lembranças do pretérito sem nenhum tipo de cautela ou de ressalva, já que a curiosidade na condição de vigília leva o encarnado em alguns casos a cometer certos abusos e imprudências.
Se Deus na sua infinita bondade e misericórdia permitisse o livre acesso ao inconsciente profundo da alma, na avaliação do psiquiatra e espírita Jorge Andréa1, poderia atrapalhar a reencarnação de muitos Espíritos, uma vez que nem todos amadurecem moralmente ao mesmo tempo, no mesmo ritmo, para lidar com equilíbrio e prudência as revelações das suas encarnações mais remotas.
Até mesmo nos mundos mais evoluídos nem todos os Espíritos têm permissão para acessar suas lembranças de vidas passadas e quando o fazem já apresentam um relativo grau de amadurecimento. Somente buscam o conhecimento de suas antigas encarnações por motivos terapêuticos e não por curiosidades frívolas, típicas de um planeta de provas e expiações, como ocorre na Terra.
Se desejarmos saber um pouco mais das nossas antigas encarnações basta observar nossas inclinações ou aptidões e já teremos uma forte indicação do tipo de vida que levamos ou tivemos.
Segundo nos contam os Espíritos em obras, como na série de André Luiz, “A Vida no Mundo Espiritual”, nem todos os problemas que precisamos superar têm origem em vidas passadas, algumas falhas ou dívidas morais foram contraídas nessa atual existência por abusos cometidos de forma imprudente e até mesmo pueril! Certas revelações poderiam desencadear um processo de perturbação, levando em alguns casos até mesmo a uma obsessão, por isso a necessidade do esquecimento.

Na obra Ação e Reação3, podemos observar que André Luiz e Hilário, orientados por Druso na Mansão Paz, procuram conhecer casos intrincados de processos de desequilíbrio, cuja explicação reside no mau uso do livre-arbítrio em vidas passadas, gerando um comprometimento que só pode ser corrigido em uma nova encarnação, quando os Espíritos na condição de algozes tiraram a vida de suas vítimas, se utilizando das mais variadas artimanhas para atingir seu intento. Vários casos nos chamam atenção, porém, o mais surpreendente é que alguns desejam reencarnar para usufruírem do abafamento que o corpo de carne promove nas lembranças que o Espírito é portador na erraticidade. Vários desencarnados trabalhavam na enfermaria atendendo aos necessitados que chegavam das regiões umbralinas em profundo desequilíbrio e um senhor idoso, trôpego e cambaleante, que já estava na Mansão Paz há vinte anos, pergunta ao dirigente Druso quando ele teria oportunidade de reencarnar, para sua mente ficar livre das lembranças que o atormentavam de forma contínua gerando um grande desconforto, e Druso lhe diz que tivesse paciência, pois em momento oportuno a espiritualidade iria providenciar essa oportunidade abençoada3. Esse relato reforça a ideia de que apenas os Espíritos, moralmente amadurecidos, solicitam de forma consciente e responsável o conhecimento das vidas anteriores de forma terapêutica e não por mera curiosidade frívola.
Fazendo uma análise dessa narrativa podemos perceber que o processo de reparação é muito individual de cada um, pois desconhecemos as vidas anteriores dos companheiros que nos cercam e a reforma íntima se faz necessária para ressignificar a maneira como interagimos com as pessoas e com a sociedade. Esse processo de reeducação do espírito não se limita a uma única encarnação, porém, quando temos a oportunidade de iniciá-lo, passamos a ter um compromisso redobrado, pois não somos mais meros espectadores da realidade e sim agentes de nossa transformação pessoal e dos outros que nos cercam. Sabemos que a natureza não dá saltos e precisamos nos esforçar para dar um testemunho de boa vontade, no qual demonstraremos aos desencarnados que percebemos a necessidade de renovação com a reforma íntima, através do estudo e da mudança de padrão vibratório, assim como o exercício da caridade material e moral. Um autoconhecimento representa o primeiro grande passo para a renovação dos sentimentos que nos transformarão em individualidades mais livres e evoluídas.
Referências:
1) Andréa, Jorge; Psicologia Espírita; Ed. Societo Lorenz; v: 1 e 2.
2) Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; FEB.
3) Xavier, Francisco C.; Ação e Reação; FEB. Cap. 2.