“Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.” (Romanos, 7:19.)
• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
Uma das poucas fatalidades nas leis de Deus é a certeza de alcançarmos uma relativa perfeição, queiramos ou não atingiremos a condição de Espírito puro.
Para alcançar esta finita perfeição há três possíveis caminhos: ou fazemos apenas o bem desde a nossa individualização como Espírito imortal; ou fazemos somente o mal; ou andamos a errar e acertar pelas veredas da vida, entretanto, independente de qual caminho inicial tomamos, estaremos sempre progredindo; não é possível estacionar eternamente e, muito menos regredir.
É pouco conhecida a possibilidade de um Espírito ter agido sempre no bem, desde o início de sua caminhada, sendo esta a razão de se poder afirmar categoricamente não haver a necessidade absoluta de trilhar o mau caminho para evoluir.
Allan Kardec assim registrou estas possibilidades: 1
124. Uma vez que há Espíritos que, desde o princípio, seguem o caminho do bem absoluto e outros o do mal absoluto, haverá, talvez, gradações entre esses dois extremos? “Sim, certamente, e constituem a grande maioria.”
Desconhecendo esta realidade, alguns alegam ser preciso necessariamente praticar o mal, tendo essa experiência, creem, chegarão à correta compreensão do bem. Esta proposta é um total absurdo, pois, caso isto fosse verdade, todos nós precisaríamos assassinar alguém, torturar, martirizar o próximo, participar de atrocidades mil, para bem entender serem essas condutas totalmente inadequadas.
Chega-se à mesma conclusão analisando-se esse outro registro do Mestre de Lyon: 2
634. Por que está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral. Não podia Deus ter criado a Humanidade em melhores condições? “Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115). Deus deixa ao homem a escolha do caminho. Tanto pior para ele, se toma o mau caminho: sua peregrinação será mais longa. Se não existissem montanhas, o homem não compreenderia que se pode subir e descer; e se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito adquira experiência e, para isso, é necessário que conheça o bem e o mal. Eis por que existe a união do Espírito e do corpo.” (Negritamos)
O primeiro destaque indica haver a possibilidade de tomar-se o mau caminho, deste modo, deve existir também, por oposição, a opção de tomar-se o bom caminho, com consequente encurtamento da peregrinação. No outro destaque, observa-se que conhecer não é viver, praticar, exercer, experimentar; para conhecer é suficiente estudar, ler, pesquisar, observar, refletir e concluir por agir desta e não daquela forma. A observação das consequências dos atos de outros, neles mesmos e em terceiros, nos dá uma boa medida para decidir se houve mal ou bem.
A propósito, recorde-se São Luís:3 Será repreensível observar as imperfeições dos outros, quando daí não resultem nenhum proveito para eles, mesmo que não as divulguemos?
“Tudo depende da intenção. Certamente não é proibido que se veja o mal, quando ele existe. Seria mesmo inconveniente ver em toda a parte somente o bem, pois essa ilusão prejudicaria o progresso. O erro consiste em fazer que essa observação redunde em prejuízo do próximo, desacreditando-o, sem necessidade, na opinião pública. Também seria repreensível fazê-lo apenas para dar expansão a um sentimento de malevolência e de satisfação em apanhar os outros em falta. Dá-se inteiramente o contrário quando, lançando um véu sobre o mal, para ocultá-lo do público, limitamo-nos a observá-lo para proveito pessoal, isto é, para nos exercitarmos em evitar o que reprovamos nos outros. […]” (Negritamos)
Veja-se este outro registro do Sábio Gaulês:4
120. Todos os Espíritos passam pela fieira do mal para chegar ao bem? “Não pela fieira do mal, mas pela da ignorância.”
O Espírito ignorante é um livro em branco a ser preenchido de acordo com as condutas e atitudes do próprio Espírito. No início de nossa evolução ainda no reino animal como princípio espiritual, não possuíamos tendências, nem para o mal, tampouco para o bem.
Nas fases humanas iniciais da jornada, Espíritos mais evoluídos já se apresentam como nossos protetores, a figura do anjo guardião já se faz presente, é a forma determinada por Deus para nos ajudar desde o início: jamais nos encontramos sós ou abandonados.
Existem conselhos, intuições, por parte dos protetores, de modo a já iniciar o aprendizado e consolidação do processo de escolhas e do exercício de nosso livre arbítrio. Se o Espírito, ainda na simplicidade de entendimento, faz opções pelo caminho do bem, vai consolidando gradativamente um padrão de conduta que o acompanhará, e vice-versa.
Somos daqueles que optaram por avançar entre o bem e o mal absolutos. Diante de tal realidade, por qual razão não nos esforçarmos agora um pouco mais por fazer mais bem do que mal?
Sobre esta luta interna para não cometer mais desvios aos postulados de Deus, lembremos de uma característica importante de nossa personalidade a ser sempre fortalecida: a vontade em praticar o bem!5
636. O bem e o mal são absolutos para todos os homens? “A lei de Deus é a mesma para todos; mas o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal é sempre o mal, seja qual for a posição do homem; a diferença está no grau da responsabilidade.” (Negritamos)
Quem sabe não é o momento de darmos o brado de libertação das atitudes contrárias às leis divinas? A Doutrina aí está para nos ajudar e nortear nas escolhas.
Além disso, temos a ajuda incansável de nossos guias espirituais: do que mais precisamos? O mundo de regeneração se apresenta, e se tornará uma realidade na razão direta de nossos esforços em agir apenas no bem. A hora é agora!
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB. q.124.
2. ______, _____. q. 634.
3. ______. O evangelho segundo o espiritismo. FEB. cap. 10, it. 20.
4. ______. O Livro dos espíritos. FEB. q.120.
5. ______, _____. q.636.
Coluna Espírita – O bem e o mal
abr 28, 2020RedaçãoColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em Coluna Espírita – O bem e o malLike
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