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domingo 24 novembro 2024
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Coluna Espírita – Nem todo livro que se diz espírita é espírita

• Rogério Miguez
Como se tem debatido a questão das obras espíritas! Artigos, palestras, exposições, farto material e recursos humanos têm sido dispendidos para orientar, em alguns casos alertar os leitores sobre a literatura oferecida como sendo espírita.
O ritmo de publicação de livros ditos espíritas é impressionante. Vários médiuns, após alguns poucos anos de trabalho mediúnico na psicografia, já se apresentam desejosos de tornar público o material recebido do Além. Por outro lado, praticantes do Espiritismo frequentemente se apresentam para produzir literatura dita espírita oriunda da escassa experiência adquirida ao longo de alguns anos de envolvimento com a prática doutrinária, fato este de grande risco para o caminhar do Espiritismo.
Já o diga, por exemplo, Geraldo Campetti Sobrinho1, quando informou sobre a existência de mais de dois mil títulos espíritas publicados no Brasil, ao final da década de 90, e mais, de lá para cá já se foram mais de 20 anos. Poder-se-ia argumentar que nada há com que se preocupar sobre esta montanha de livros, considerando a sociedade moderna tão desejosa pela aquisição de conhecimentos novos, deveria ser visto como excelente indicador da expansão do Espiritismo, infelizmente, não é o caso.
Este verdadeiro tsunami de livros poderia ser benéfico, se todos tivessem realmente sido analisados sob o ponto de vista estritamente doutrinário, lamentavelmente, temos a absoluta certeza de que boa parte não o foi.
Para resolver este dilema, facilmente, alegam alguns desavisados que todo livro contemplando na contracapa a palavra Espiritismo, é, sem sombra de dúvida literatura espírita! Veja-se assim a que ponto chegamos.
Por comodismo, incompetência ou mesmo desconhecimento doutrinário, muitos dirigentes espíritas entendem que qualquer literatura trazendo em sua capa os dizeres: Livro mediúnico, ditado pelo Espírito tal, seria comprovada garantia de que a obra é de boa qualidade, podendo ser incorporada às bibliotecas, livrarias e feiras literárias, ou de ser vendida como livro usado, quando recebida por doação.
Como é possível um dirigente dito espírita promover a divulgação de livros quando jamais leu a obra, desconhece quem é o médium, não sabe se existiu mesmo um Espírito ditando a obra – pois há inúmeros casos de animismo -, e muito menos ouviu falar do autor encarnado, tampouco da Editora!?
Contudo, como distinguir a Verdadeira Doutrina da falsa doutrina? Certamente não seria observando os Índices para Catálogo Sistemático, constando na contracapa dos livros, porquanto, o autor, junto como seu editor, quando não são os mesmos, ali colocam o que desejam, e se o autor é um falso profeta desejando se misturar à Doutrina, é óbvio informará ser o livro espírita. Não pode ser este o critério, o bom senso, a razão, a sensatez assim em coro o dizem.
Recordemos o pensamento de Joaquim Travassos2: “O sistema de educação intelectual experimenta a supervisão constante de inspetores, fiscais e conselhos de ensino que verificam os mínimos incidentes do currículo escolar; entretanto, nas casas espíritas, em muitas ocasiões, se um companheiro de boa vontade assinala esse ou aquele senão, em favor da segurança da obra, muito dificilmente escapa de ser apontado à conta de elemento indesejável, corroído de obsessão…”
As agremiações espíritas assemelham-se aos educandários, pois têm também como objetivo primordial educar, contudo, moralmente. Então, como podemos entender que não se acolham recomendações e questionamentos sobre a literatura divulgada na casa espírita?
Se a casa não possui trabalhadores experientes capazes de ajuizar se uma obra é verdadeiramente espírita ou não, opte-se pelo lado seguro, isto é, só utilize obras consagradas, ou seja, as escritas por Allan Kardec e, para apoio, de outros autores que pela sua própria seriedade e exemplos de dedicação, ganharam a confiança do movimento espírita, entre outros: Léon Denis e Gabriel Delanne. O primeiro na vertente filosófica da Doutrina, o segundo na parte científica.
Em relação aos autores pós-Kardec: obras psicografadas por Zilda Gama, Yvonne Pereira, Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco e Raul Teixeira. Apenas estes cinco autores produziram várias centenas de confiáveis livros, podendo ser estudados por uma vida inteira.
Sugerindo este quinteto, jamais poderá se inferir não existir outros autores de verdadeiros livros espíritas, sejam encarnados ou desencarnados, a lista de livros seguramente espíritas é considerável, entretanto, não seria factível citá-los todos.
Estudando estes livros mencionados, primeiramente os escritos por Kardec, poder-se-á no futuro avaliar qualquer outra obra dita espírita, decidindo se é ou não é uma legítima representante do acervo de livros doutrinários.
Na dúvida, não compre, se houver qualquer incerteza sobra a obra, indague, se informe antes de adquiri-la, pois assim o fazendo, se a obra for falsa, contribuiremos para a manutenção do tsunami literário pseudoespírita assolando o movimento.
Erasto, discípulo dileto de Paulo de Tarso, registrou no único tratado existente sobre mediunidade, O livro dos médiuns3: Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea, todavia, nos tempos atuais, considerando a falta de critério na circulação de textos e publicações supostamente espíritas, podemos, com extremado respeito ao insigne pensador, adaptar seu pensamento reescrevendo-o: Melhor é não divulgar dez verdades do que divulgar uma única falsidade, uma só teoria errônea.
Bons Estudos!
Referências:
1 Reformador. Literatura Espírita: Uma breve reflexão. nº 2.026. jan.1998.
2 VIEIRA, Waldo. Seareiros de volta. Autores diversos. cap. Estudo espírita.
3 KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. FEB Editora, 1996. cap. XX. it. 230.
NOTA: Joaquim Travassos foi o primeiro tradutor para o português de obras fundamentais da Codificação nos anos de 1875 e 1876.