• Altamirando Carneiro – São Paulo/SP
Segundo Anna Blackwell, que fez o retrato de Kardec, o interesse do Imperador pelos fenômenos espíritas não era segredo para ninguém.
Nascido em Lyon, na França, no dia 3 de outubro de 1804, Allan Kardec desencarnou em 31 de março de 1869, em Paris, devido à ruptura de um aneurisma. Foi aluno brilhante de João Henrique Pestalozzi, na Suíça. Dedicou-se à observação e estudo dos fenômenos espíritas, sem a euforia natural das pessoas imaturas e inexperientes.
Seu nome verdadeiro era Hippolyte Léon Denizard Rivail. O pseudônimo Allan Kardec foi extraído do nome que teve em uma encarnação anterior, nas Gálias. Como Allan Kardec, codificou os livros básicos da Doutrina Espírita, portentoso repositório das Verdades eternas.
Surgem os livros da Codificação Espírita: O Livro dos Espíritos – 1ª. Edição em 18 de abril de 1857, com 501 questões e a segunda edição, revista e ampliada, em 1860, com 1.019 questões; O Livro dos Médiuns – janeiro de 1861; O Evangelho segundo o Espiritismo – abril de 1864; O Céu e o Inferno – agosto de 1865; A Gênese – janeiro de 1868.
Publicou a Revista Espírita, que dirigiu de 1858 a 1869, e fundou a primeira sociedade espírita regularmente constituída, em Paris, no dia 1º de abril de 1858: a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
Sem falar nas outras obras, vê-se que a sua vida foi de intenso trabalho. A missão foi tão árdua que em 1º de janeiro de 1867 ele se referia a ingratidões de amigos, de inimigos, a injúrias e calúnias de elementos fanatizados. Mas jamais esmoreceu diante da tarefa.
Oferecemos ao prezado leitor o verdadeiro retrato físico e psicológico de Allan Kardec, feito pela inglesa Anna Blackwell, que traduziu para o inglês vários livros de Kardec e conheceu o Codificador em Paris, transcrito por Conan Doyle na obra História do Espiritismo, traduzida por Júlio Abreu Filho (Editora Pensamento):
Pessoalmente Allan Kardec era de estatura média. Compleição forte, com uma cabeça grande, redonda, maciça, feições bem marcadas, olhos pardos, claros, mais se assemelhando a um alemão que a um francês. Enérgico e perseverante, mas de temperamento calmo, cauteloso e não imaginoso até a frieza, incrédulo por natureza e por educação, pensador seguro e lógico, e eminentemente prático no pensamento e na ação. Era igualmente emancipado do misticismo e do entusiasmo… Grave, lento no falar, modesto nas maneiras, embora não lhe faltasse uma certa calma dignidade, resultante da seriedade e da segurança mental, que eram traços distintos de seu caráter.
Nem provocava nem evitava a discussão mas nunca fazia voluntariamente observações sobre o assunto a que havia devotado toda a sua vida, recebia com afabilidade os inúmeros visitantes de toda a parte do mundo que vinha conversar com ele a respeito dos pontos de vista nos quais o reconheciam um expoente, respondendo a perguntas e objeções, explanando as dificuldades, e dando informações a todos os investigadores sérios, com os quais falava com liberdade e animação, de rosto ocasionalmente iluminado por um sorriso genial e agradável, conquanto tal fosse a sua habitual seriedade de conduta que nunca se lhe ouvia uma gargalhada. Entre as milhares de pessoas por quem era visitado, estavam inúmeras pessoas de alta posição social, literária, artística e científica. O Imperador Napoleão III, cujo interesse pelos fenômenos espíritas não era mistério para ninguém, procurou-o várias vezes e teve longas palestras com ele nas Tuileries, sobre a doutrina de O Livro dos Espíritos.
Nota do autor:
Napoleão III (1808/1873), presidente e posteriormente imperador da França (1852/1870), foi o terceiro filho de Luís Bonaparte, rei da Holanda e Hortência de Beauhamais, respectivamente irmão e cunhada de Napoleão Bonaparte.