• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
Há aproximadamente dois mil anos o Governador da Terra nos ensinou uma oração, que vem servindo de guia e modelo por séculos à incontáveis religiosos desejosos em fazer contato mais íntimo com o Criador intitulada: Oração dominical ou Pai nosso.
Essa oração vem sendo repetida mecanicamente pela maioria dos profitentes, sem sequer refletir sobre as palavras que a compõem, com a agravante de que creem que por conta da repetição quantitativa desta oração, ou seja pela sua insistência, Deus os favoreceria de modo especial. Talvez pensem que vencerão Deus pelo cansaço, de modo que Ele os escute!
Certamente, uma atitude infantil e imatura, típica daqueles que não compreendem os mecanismos reguladores da vida e muito menos a magnanimidade do Todo Poderoso.
Por não refletir sobre este modelo de oração, originalmente endereçada ao povo hebreu, que já conhecia e mantinha elementos dessa oração em seus antigos escritos e tradições, não se percebe que certas partes do texto não fazem sentido, se observadas literalmente, quando confrontadas com as leis de Deus e a forma como Ele estruturou o nosso processo evolutivo.
Tomemos um pequeno trecho desta oração.
Não nos deixes entregues à tentação!
Será que a divindade nos criou para estarmos sujeitos à tentações e, se não solicitarmos que Ele nos livre desse mal, ficaremos à mercê dos incontáveis apelos à perdição? Afinal, quem cria as tentações do caminho, nós mesmos ou os outros, ou seria alguma entidade maligna, popularmente intitulada de Diabo!? Domar os muitos apelos para trilhar o mau caminho, não é uma tarefa de cada qual, um desafio pessoal?
Para melhor entender estas palavras, basta ajuizarmos que as tentações do cotidiano surgem, provocando seus efeitos indesejados se atendidas, na medida direta em que vivemos afastados da intimidade dos postulados divinos. Caso observássemos, por exemplo, as características do homem de bem listadas em O Evangelho segundo o Espiritismo, em seu capítulo XVII – Sede perfeitos -, certamente venceríamos os desejos inadequados que pontilham a trajetória de Espíritos ainda imperfeitos como nós e que tanto mal nos causam.
A propósito, o Diabo nunca existiu e jamais existirá, pois os mecanismos de evolução do Criador não comportam a possibilidade de uma de suas criaturas existir única e exclusivamente voltada à prática do mal.
Mas livra-nos do mal!
Já aprendemos que o mal acontece pela ausência do bem, como a sombra que surge pela falta de luz, e o primeiro não existe por si mesmo, mas parece que ao pedir para que Ele nos livre do mal, poderia sugerir que o mal sempre existiu e sempre continuará existindo pelos tempos afora e precisaríamos nos esquivar dele, sempre que aparecesse repentinamente, sem aviso, para nos tentar e prejudicar.
Entretanto, cabe a quem não praticar o mal? Não são as nossas condutas, pensamentos e palavras que criam o temido mal em nossos caminhos? O mal vem de fora ou vem de dentro de nós?
Pode-se argumentar nesta hora de que o mal é irresistível, não há possibilidade de dominá-lo e sempre cairíamos moralmente, mais cedo ou mais tarde. Para esclarecer essa questão, basta consultar outra obra de Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – e aprender:
909. O homem sempre poderia vencer suas más tendências mediante seus próprios esforços?
“Sim, e às vezes com pouco esforço. O que lhe falta é a vontade. Ah! como são poucos os que se esforçam entre vós!”
Observemos: Pouco esforço!
Sendo assim, pensemos detidamente sobre a nossa responsabilidade em afastar as tentações e o mal em nossa jornada quando repetirmos: Não nos deixes entregues à tentação, mas livra-nos do mal.