• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
Observa-se como orientação básica em algumas agremiações espíritas a ideia de ser absolutamente necessário aos médiuns formados na Instituição estarem sempre envolvidos nas reuniões de prática mediúnica da Casa, afinal, “formaram-se” com qual objetivo?
Nota-se, de igual modo, inadvertidamente nos programas “caseiros” de orientação aos médiuns, o ensino de que médium, propriamente dito, só trabalha de fato em atividade mediúnica específica.
Alguns instrutores de mediunidade, com pouca ou escassa experiência, mas com a já famosa “boa vontade”, aventuram-se a coordenar programas de mediunidade, quando, sem embasamento teórico e, muito menos prático, acabam não por formar médiuns, mas desorientá-los em relação aos princípios básicos do entendimento espírita.
Um médium com a sua mediunidade mal desenvolvida e, igualmente deseducado doutrinariamente, acaba acreditando deva passar as vinte e quatro horas do dia em salas mediúnicas, criando embaraços e dificuldades para a Casa em que busca servir.
Estas condutas só se fazem presentes no meio espírita em função dos dirigentes das Casas, nas figuras de seus conselheiros, coordenadores, diretores de doutrina, quando efetivamente existem, às vezes até por desconhecimento, não atuarem doutrinariamente, pois, de fato, muitos nada entendem de mediunidade.
Um quadro preocupante dentro do movimento, pois não se enxerga, a curto espaço de tempo, solução para tal conduta, aumentada na razão direta do desconhecimento de um livro raro hoje em dia de ser lido e estudado, o cada vez mais desconhecido O Livro dos Médiuns.
Outro fato valendo a pena ser comentado se relaciona aos muitos médiuns não espíritas da atualidade, pois não foram e não são adeptos do Espiritismo, no entanto, são tão médiuns quanto os médiuns espíritas. Como fizeram e fazem para exercitar a mediunidade, considerando desconhecerem Allan Kardec?
A atuação propriamente dita mediúnica ocorre em variadas situações:
1. em uma orientação a um amigo ou desconhecido a nos procurar no dia a dia;
2. através do atendimento às muitas necessidades materiais humanas, por exemplo, ajudando na distribuição de sopa aos famintos;
3. no ambiente de trabalho em conversas edificantes com os conhecidos;
4. no seio da família, distribuindo ensinos;
5. evangelizando os pequeninos;
6. em atividades de passe, Johrei…;
7. na atuação sincera religiosa dentro das igrejas, templos, pagodes…
Sem qualquer necessidade de incorporações ou psicografias, estas sim, atividades típicas de salas mediúnicas em Centros espíritas, concretizando-se:
1. pelas intuições recebidas ou captadas e transmitidas aos necessitados;
2. pelos fluidos transmitidos quando do envolvimento sincero com os semelhantes;
3. através da leitura de obras de cunho moral e ético elevados;
4. pela disciplina dos pensamentos não dando guarida às más ideias;
5. se afastando das conversas maliciosas;
6. durante estudos sérios sobre a Doutrina, não precisando ser necessariamente sobre mediunidade;
7. pela leitura atenta de O Livro dos Médiuns, em momentos de recolhimento íntimo;
8. pela interação mental com o guia espiritual que tudo acompanha;
9. orando com fervor pelos necessitados de toda ordem.
Se não fosse assim, só registraríamos médiuns após Kardec e somente entre os espíritas.
A propósito do penúltimo item, interação com o guia espiritual, recordemos os dizeres de um dos mais atuantes médiuns que já existiu – Francisco Cândido Xavier – quando há décadas já exercitava suas várias mediunidades:1
1-Chico, aos quarenta anos de serviço mediúnico, pode você explicar o que seja desenvolvimento de mediunidade? “Do ponto de vista técnico, não sei responder. Pela prática da vida, creio, porém, que desenvolvimento mediúnico é o aumento da intimidade do médium com as entidades espirituais ou a penetração gradativa da pessoa humana na esfera de atividades da alma, habitualmente invisível para os olhos.”
Lembremos aos médiuns sobre a concreta possibilidade de atuarem mediunicamente durante o sono, contudo, raros são aqueles se lembrando de orar ao deitar, se preparando para tanto, e raríssimos são aqueles verdadeiramente se colocando à disposição para trabalhar no plano espiritual durante o período de descanso do corpo físico.
Desta forma, deixemos de lado a falsíssima ideia de que só as salas mediúnicas viabilizam o intercâmbio mediúnico, vejamos o mundo como uma imensa região de variadas possibilidades e nos coloquemos à disposição dos sofredores; em situação delicada, emocionalmente ou materialmente, nossos guias estarão atentos, como sempre, e nos ajudarão a bem exercer o compromisso mediúnico firmado ainda no plano astral, de modo satisfatório e produtivo tanto para nós mesmos, quanto para aqueles interagindo conosco.
Referência:
1 BARBOSA, Elias. No mundo de Chico Xavier. 1. ed. São Paulo: Edição Calvário, 1968. Encontro com Chico Xavier – capítulo 5 – pergunta 1