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segunda-feira 25 novembro 2024
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Coluna Espírita – Lei de talião

• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
Hoje em dia, de modo geral, não se sabe quem foi este tal de talião. Assim, a primeira informação de interesse para todos nós é que talião, não foi uma pessoa, é uma palavra oriunda do latim talionis que significa tal, parelho, de tal tipo, por isso não se escreve com letra capital. Também conhecida por Pena de talião, sugere desta forma uma pena ao infrator, semelhante, parelha, tal qual o prejuízo daquele que se sentiu prejudicado.
Relacionava-se às questões do delito e de sua correspondente punição. É vista por muitos como cruel e bárbara. Embora de caráter divino podia e era empregada pelos homens.
Entretanto, esta antiquíssima lei, continua sendo usada a todo o momento, para surpresa e espanto de muitos, sempre que necessário, sob certas condições é fato, entretanto, agora não deveria mais ser aplicada pelos homens.
É o conhecido princípio do olho por olho, dente por dente de Moisés.
A introdução desta prática nas leis da Humanidade visou estabelecer uma primeira noção de justiça nas relações sociais, visto que no passado, a cobrança da dívida, seja ela qual fosse, era desmedida, alcançava o devedor de um modo desproporcional ao prejuízo causado, extrapolava o direito de ressarcimento da possível perda. Os fortes se sobrepunham aos fracos. Então, em tempos bárbaros, a proposta de uma lei que acene com uma visão mais equânime da justiça foi uma dádiva para as sociedades da época, um verdadeiro avanço moral. Tentou equacionar as questões jurídicas, de modo a não incentivar a vingança, devia-se pagar, mas na mesma moeda.
Quando Jesus aqui chegou, o que fez em relação a esta lei? Decreta a sua nulidade como lei de Deus? Não, muito pelo contrário, ratifica o princípio, ao dizer: “Quem com a espada fere com a espada será ferido”.
É certíssimo que Jesus apresentou uma nova e surpreendente proposta ao afirmar: “Tendes aprendido que foi dito: olho por olho e dente por dente. Eu vos digo para não resistirdes ao mal que se vos queiram fazer; mas se alguém vos bate na face direita, apresentai-lhe também a esquerda; e se alguém quer demandar convosco para tomar vossa túnica, abandonai-lhe também vossa capa; e se alguém quer vos constranger a fazer mil passos com ele, fazei ainda dois mil” (Mateus, cap. V, v. de 38 a 41). Propôs deste modo, uma atitude revolucionária para a época, onde sugeria que o ofendido abrisse mão de qualquer represália ou vingança, não pagando o mal com o mal, mas apenas com o bem. Contudo, com a imagem da espada ferindo aquele que com ela fere, não descartou a existência do olho por olho.
Mais uma vez os tempos correm, e chega o momento de uma nova Revelação para a Humanidade: A Doutrina dos Espíritos. Visitando apenas as páginas das obras básicas encontramos várias citações, entre outras, sobre a existência da Lei de talião: O Livro dos Espíritos, questão 764; O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. VIII itens 16 e 21; A Gênese cap. XI, item 34; O Céu e o Inferno, segunda parte cap. VIII.
Seria surpresa encontrar esta lei consagrada nos textos espíritas? De modo algum, visto que é o próprio Allan Kardec que, em A Gênese, capítulo I, item 56, afirma em mais um momento de extrema lucidez espiritual: “A moral que os Espíritos ensinam é a do Cristo, pela razão de que não há outra melhor”.
Tal lei deve existir enquanto o Espírito, ainda tímido em seus avanços morais, não aceita os princípios de outra lei divina, a do Amor, princípios estes que existem para serem exercitados continuamente, sob pena de, em não cumprindo-os, ser surpreendido pelo olho por olho. A lei vigora até que nos conscientizemos de que não se pode ferir com a espada impunemente, sem consequências graves para si e para a sua jornada evolutiva.
Conclui-se que a lei existe, mesmo nos dias atuais. Contudo, quem teria o direito moral de aplicá-la? Seríamos nós, Espíritos ainda em evolução? Não, quem aplica a Lei de talião é o próprio Deus, através da reencarnação, por exemplo, afinal foi Ele que a formulou. Não é lei humana. Mas em que condições?
Registrada no Novo Testamento, há outra lei de Deus que diz: “Sobretudo, amem-se sinceramente uns aos outros, porque o amor perdoa muitíssimos pecados” (I Pedro, 4:8). Deus permitiu que fosse apresentada no passado a sua Lei de talião, permitiu também que os homens a aplicassem, mas no transcorrer do tempo apresentou outra lei informando que todo aquele que amar, poderá se forrar da aplicação da primeira. Quanta beleza na criação: Advertência e Equanimidade na primeira lei, Misericórdia e Salvação na segunda.
Assim, Pedro, o mesmo que foi advertido de que se ferisse com a espada com a espada seria ferido, registrou em sua epístola este tesouro de ensinamento que foi deixado por Jesus em Lucas 7:47.
E aí estão as condições em que sempre se aplicou a Lei de talião. Toda vez que pecamos, e, na visão espírita pecado é qualquer transgressão às leis de Deus, e não reparamos pelo exercício do Amor os prejuízos causados ao próximo pelos nossos atos inconsequentes, ainda nos satisfazendo em continuar ferindo com a espada, Deus, em sua magnânima bondade e sabedoria, nos faz passar pela espada, não para nos punir, mas para nos educar e inibir futuros delitos. Mas, pela segunda lei, a do Amor, estas contas podem ser plenamente sanadas, sem que precisemos passar pelo fio da espada.
Se desejamos um mundo novo de Regeneração, lembremos sempre de Pedro e guardemos igualmente em nossos corações a superior proposta de Jesus que recomenda retribuir o mal com o bem, perdoando, e nada mais, deixando que as sábias e educativas leis de Deus ajam de acordo com o olho por olho onde e quando se fizer necessário e enquanto perdurar a dureza dos nossos corações.