• Astolfo O. de Oliveira Filho – Revista Virtual O Consolador – Londrina/PR
Qual é, segundo o Espiritismo, o ponto central dos ensinamentos de Jesus?
Conforme as anotações de João (cap. 18:33-37), Pilatos perguntou a Jesus: “És o rei dos judeus?”. O Mestre respondeu-lhe: “Meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, a minha gente houvera combatido para impedir que eu caísse nas mãos dos judeus; mas, o meu reino ainda não é aqui”.
Disse-lhe então Pilatos: “És, pois, rei?”. Jesus lhe respondeu: “Tu o dizes; sou rei; não nasci e não vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade. Aquele que pertence à verdade escuta a minha voz”.
Por essas palavras, lembra-nos Kardec, Jesus claramente se referiu à vida futura, que ele apresentou, em todas as circunstâncias, como a meta a que a Humanidade irá ter e como devendo constituir objeto das maiores preocupações do homem na Terra.
Todas as suas máximas se reportam a esse grande princípio. Com efeito, sem a vida futura, nenhuma razão de ser teria a maior parte dos seus preceitos morais, donde vem que os que não creem na vida futura, imaginando que ele apenas falava da vida presente, não os compreendem, ou os consideram pueris.
Esse ensinamento pode, portanto, ser tido como o eixo do ensino do Cristo, porque só ele justifica as anomalias da vida terrena e a mostra de acordo com a justiça de Deus, o que o Espiritismo veio aclarar, ao comprovar que a vida futura deixa de ser simples artigo de fé, mera hipótese, para tornar-se uma realidade material, que os fatos demonstram, porquanto são testemunhas oculares os que a descrevem nas suas fases todas e em todas as suas peripécias, e de tal maneira que, além de impossibilitarem qualquer dúvida a esse respeito, facultam à mais vulgar inteligência a possibilidade de imaginá-la sob seu verdadeiro aspecto.
De fato, ter uma noção clara de que a vida prossegue noutros planos ajuda-nos a compreender a transitoriedade de nossa passagem por aqui e a desapegar-nos das coisas puramente materiais, cuja utilidade cessa obviamente com nossa transferência deste para o outro plano de vida.
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Jesus também foi criado simples e ignorante, como se dá com todos os Espíritos?
A resposta é sim. E apoiamo-nos, ao fazer esta afirmação, em três autores espíritas respeitáveis: Allan Kardec, Léon Denis e Emmanuel.
No livro O Consolador, questão 243, Emmanuel escreveu: “Todas as entidades espirituais encarnadas no orbe terrestre são Espíritos que se resgatam ou aprendem nas experiências humanas, após as quedas do passado. Com exceção de Jesus Cristo, fundamento de toda a verdade neste mundo, cuja evolução se verificou, em linha reta para Deus, e em cujas mãos angélicas repousa o governo espiritual do planeta, desde os seus primórdios”.
Em Cristianismo e Espiritismo, p. 79, Léon Denis afirmou que Jesus é, de todos os filhos dos homens, o mais digno de admiração, porque nele vemos o homem que ascendeu à eminência final da evolução.
Allan Kardec, comentando a resposta dada à pergunta 625 d’ O Livro dos Espíritos (“Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e de modelo? R.: Vede Jesus”), escreveu: “Jesus é para o homem o tipo da perfeição moral a que pode aspirar a humanidade na Terra.
Deu no-lo oferece como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele estava animado do espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu sobre a Terra”.
Ensino semelhante se lê em Obras Póstumas, págs. 136 e seguintes: “Jesus era um messias divino pelo duplo motivo de que de Deus é que tinha a sua missão e de que suas perfeições o punham em relação direta com Deus” (…). “Para que Jesus fosse igual a Deus, fora preciso que ele existisse, como Deus, de toda a eternidade, isto é, que fosse incriado” (…). “Digamos que Jesus é filho de Deus, como todas as criaturas, que ele chama a Deus Pai, como nós aprendemos a tratá-lo de nosso Pai. É o filho bem-amado de Deus, porque, tendo alcançado a perfeição, que aproxima de Deus a criatura, possui toda a confiança e toda a afeição de Deus”.
Examinando, logo em seguida, na mesma obra, a declaração proferida pelo Concílio de Niceia que elevou Jesus à condição de divindade, escreveu Kardec: “Se pode parecer que a qualificação de Filho de Deus apoia a doutrina da divindade, o mesmo já não se dá com a de Filho do homem, que também Jesus deu a si mesmo, em sua missão”. Essa expressão remonta a Ezequiel e significa: o que nasceu do homem, por oposição ao que está fora da Humanidade. Jesus deu a si mesmo essa qualificação com persistência notável, pois só em circunstâncias muito raras ele se disse Filho de Deus. “A insistência com que ele se designa por Filho do homem parece um protesto antecipado contra a qualidade que, segundo previa, lhe seria dada mais tarde.”
Cremos, portanto, que à vista das palavras acima ficam dirimidas quaisquer dúvidas concernentes à posição de Jesus como um Espírito puro – e não um ser incriado – que ascendeu ao ápice da evolução graças aos seus próprios esforços.