• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
Incontáveis textos espíritas têm sido escritos sobre a família. Notória lei de Deus, consagrada também pelo Espiritismo, proporciona o mecanismo básico mais adequado a promover o progresso dos Espíritos.
Antes da reencarnação, geralmente, há acertos entre Espíritos, se comprometendo já do lado de lá a manter e estruturar mais uma família. Contudo, ao chegar à Terra, acontece a benção do provisório esquecimento do passado1, e os familiares, mesmo reiteradamente avisados pela voz da consciência e regularmente orientados pelos seus Guias espirituais, em muitos casos, acabam por negligenciar seus compromissos, relaxando os cuidados nos relacionamentos familiares, tornando estes últimos problemáticos a ponto de causar a ruptura total ou a quebra parcial do organismo familiar.
Futuros pais, ainda no espaço, obrigam-se a bem orientar certos Espíritos que sob sua guarda temporariamente permanecerão, encarnados, todavia, se “impaicientam”, agindo de forma quase passional, quando não há o atendimento de suas particulares expectativas em relação à prole, esquecidos da realidade, pois, seus rebentos, de fato, não lhes pertencem, antes são filhos de Deus, foram criados originalmente por Ele. Não se lembram serem os filhos Espíritos independentes com extensa bagagem particular forjada em muitas vidas, sendo em alguns casos, mais antigos do que os próprios genitores. Estes filhos agora detêm tendências e inclinações inatas construídas em vivências passadas, quando estiveram integrando outros agrupamentos familiares. Nem sempre, estes traços antigos de caráter são positivos, daí a necessidade imperiosa dos pais em primar pela mansidão e pela pacificação.
Os filhos, por sua vez, de igual modo, não se recordam de seus pais como aqueles mesmos compromissados a tentar (re) orientá-los, se tornando rebeldes a todas as tentativas de (re) educação por parte dos “impaicientes”, se transformando, pouco a pouco, em consequência, nos assim chamados “aborrecentes”. Tornam-se avessos a tudo, contestam os continuados esforços dos pais em aconselhá-los.
Os pais são considerados antigos, obsoletos e arcaicos segundo a vida moderna e tecnológica.
Este “conflito” parece não ter solução, considerando, a primeira vista, tudo indicar a existência constante de um enorme fosso de entendimento e intransigência, entre uns e outros, oriundo do próprio progresso do planeta, ao avançar rapidamente. Ora, se os Espíritos integrantes da família se encontrarão sempre razoavelmente defasados em evolução, é de se esperar embates contínuos entre gerações a se repetirem indefinidamente.
Entretanto, felizmente, este não é o caso, pois na medida da aproximação dos Espíritos na escala evolutiva, em função de seus esforços, e isto faz parte da programação de Deus, as gritantes diferenças tornam-se cada vez menores, não criando mais tantos desentendimentos entre genitores e filhos.
Além disso, dependendo de como pais e filhos se conduzem, sendo mais brandos e cuidadosos mutuamente, agindo com mais compaixão, os conflitos se atenuam, podendo mesmo desaparecer. Nada obriga-nos a nos conduzir desta, ou daquela forma, temos livre-arbítrio, deste modo, mesmo se apresentando a possível lacuna de entendimento estre familiares, estes podem superar os atritos pelo exercício continuado das muitas virtudes conhecidas.
A propósito, tudo indica ser a Paciência uma das importantes virtudes para o sucesso da família. Sobre esta nobre virtude, há posição de muita sabedoria, expressa por Vinícius, em seu livro Em torno do mestre2. Nesta obra, o autor esclarece-nos sobre o conhecido dito popular: Perdi a Paciência. Esta expressão usada tão corriqueiramente por todos nós quando se configura situação de acentuado desconforto ou atrito e explodimos em revolta, não se sustenta, considerando só se poder perder o que se tem. Ao se desenvolver virtudes, seja qual for, diz a lei de Deus, não ser possível o desaparecimento destas conquistas da intimidade do ser, não mais se apagam, mesmo após os continuados processos de desencarnação e reencarnação. Neste particular caso, o uso correto da expressão popular poderia ser: Ainda sou Impaciente! Não detenho a virtude da Paciência!…
No relacionamento entre pais e filhos, cabe aos primeiros a maior responsabilidade de encaminhamento de solução nos conflitos. Pelo fato de terem sido aceitos ou se apresentado como futuros educadores de outros Espíritos, já indica um preparo maior, pois Deus não designaria, pelas suas leis sábias, Espíritos despreparados para, sob sua guarda, ensinar outros Espíritos durante uma vida, não seria prudente. Ademais, os progenitores já tiveram também a escola do Mundo para se preparar, se encontrando, em princípio, em melhores condições para orientar seus filhos.
Para o triunfo da família, neste caso em análise, deve existir muita tolerância de ambos os lados, compreensão mútua, respeito às individualidades, às bagagens de experiência de uns e outros. O êxito em família, igualmente, não de deve esquecer, depende muitíssimo do exercício continuado do amor, virtude máxima que tudo conquista, tudo pode e engloba todas as outras.
A tarefa é grave e de muita responsabilidade, pois, a organização familiar, seja na paternidade seja na maternidade, representa a primeira missão para Espíritos reencarnados.
Há seguramente outros possíveis caminhos para vencer em família, entretanto, podemos com certeza afirmar serem as atitudes sugeridas abaixo, acertadas providências auxiliando-nos a alcançar este objetivo:
Sejamos menos impaicientes!
Sejamos mais compaissivos!
Sejamos menos paissionais!
Paicifiquemos, agindo com regular mãessidão.
1 Reformador, ano 130, n, 2197, p. 32-34, Abril, 2012.
2 Vinicius (Pseudônimo de Pedro de Camargo). Em torno do mestre. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1985. p. 24 a 26.
Coluna Espírita – Impaiciente x Aborrecente
dez 05, 2020RedaçãoColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em Coluna Espírita – Impaiciente x AborrecenteLike
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