• Márcio Martins da Silva Costa – São José dos Campos/SP
Em uma consulta com o psicólogo, um jovem acometido de ansiedade foi questionado pelo profissional sobre a existência de Deus, o qual respondeu sem hesitar:
– “Deus?! Não vejo motivos para acreditar na existência de Deus. Para mim tudo é ciência”.
Tendo em vista que o tema se aplicava no contexto da avaliação do paciente, o senhor pediu que o jovem explicasse melhor a sua argumentação:
– “Para mim existe uma força do universo que rege tudo.”
– “Sabendo que quanto mais mergulhamos nas questões complexas da ciência, sentimos a necessidade de exercitarmos cada vez mais a inteligência para obtermos respostas, como explica a questão da inteligência? – perguntou o Psicólogo.
– “Nós, seres humanos, somos inteligentes. O resto é a ‘força’ do universo que rege”.
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À luz do Espiritismo, a aplicação do termo ‘força’ empregado pelo jovem remete à vaga intuição que todos nós trazemos no íntimo da existência de um Ente supremo. À medida que o espírito evolui, suas condições morais e sua intelectualidade desnudam gradativamente os véus de sua compreensão, até que passamos a sentir Deus como sendo a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. [1], [2] Inteligência esta que se espalha por todo o universo, do macro ao micro, por meio do Fluido Elementar ou Hálito Divino que, por meio de forças dinâmicas, expressa o Pensamento do Criador. [3]
Partindo do posicionamento do jovem, dentro de uma perspectiva que vai do micro ao macro, poderíamos formular, respectivamente, duas hipóteses para uma breve análise de sua argumentação.
Na primeira delas, consideremos células do organismo que compõem a estrutura básica da organização dos seres vivos. Partindo delas ao mundo microscópico, sabemos que são compostas por organelas que, por sua vez, atendem a uma estrutura bioquímica que, indo mais ao micro, são formadas pela ligação de partículas elementares que formam a matéria. Delas surgem nossos tecidos, os órgãos, nossos sistemas… conforme explica a ciência. Mas se elas são, em sua essência, formadas de partículas elementares, em que nível da aglomeração entre esses elementos e por que uma “força” daria início à formação dos tecidos?
Voltando-se ao macrocosmo, contemplemos as organizações das galáxias que se expandem pelo universo, observando leis astrofísicas que transcendem a compreensão humana. Neste diapasão, sabemos que os planetas orbitam em torno de estrelas, obedecendo ao posicionamento harmônico com o qual se distribuem em torno do seu Sol. Por sua vez, outros sistemas solares se organizam em dinâmicas diferenciadas, mantendo ainda a harmonia com seus vizinhos para a formação das galáxias. Estas, com dimensões inimagináveis, organizam-se pelo universo infinito. Nesta estonteante complexidade remontamos à mesma questão. Em que parte deste processo extremamente robusto e por que uma “força” atuaria na matéria que gravita no espaço?
Entre estes exemplos limítrofes, reside a inteligência humana capaz de pensar, laborar e criar interagindo com o ambiente à sua volta, conforme as conquistas que obtém no desenvolvimento de seu intelecto. Mas cabe ressaltar que, independentemente de nosso progresso, nossa inteligência sempre carece da interação com o meio para que seus feitos se realizem. Em outras palavras, as invenções de nossa inteligência não se criam sozinhas sem as nossas ações que as concretizem. Um computador não se faz sozinho; um avião não sai de nossa mente para os céus; um satélite não vai ao espaço se nada fizermos. Logo, há a necessidade de que a nossa inteligência dirija uma “força” proporcional sobre a matéria para que possamos “dar vida” às nossas criações.
Para os dois casos de análise propostos poderíamos entender que as argumentações do jovem fariam sentido se estas dinâmicas fossem incertas, entregues ao acaso. Mas muito pelo contrário, elas seguem processos de extrema complexidade aos quais a própria inteligência humana levou ou ainda levará anos para entender e desvendar. Assim, da mesma forma como nossa inteligência interage no meio limítrofe onde se encontra, há de existir uma inteligência proporcional para interagir com as inimagináveis dimensões do micro e dos macrocosmos.
Podemos chamar de “força”, de “poder” ou de qualquer outra denominação. Mas a lógica nos leva a crer que não pode existir nenhuma força transcendente ao ser humano, se não houver uma inteligência suprema que a dirija e que seja a causa primária de todas as coisas.
[1] A. Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, 131a. Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira, 2013.
[2] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, 93a. Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira, 2013.
[3] F. C. Xavier, Mecanismos da Mediunidade. Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira.