Search
domingo 22 dezembro 2024
  • :
  • :

Coluna Espírita – Falando do amor

• Cláudio Bueno da Silva – Osasco/SP
“As ideias do homem estão na razão do que sabe” ¹ – Allan Kardec
Encontrei, fortuitamente, uma conhecida a quem não via há muito tempo. Depois dos cumprimentos de praxe, conversamos um pouco e, numa empreitada que julguei oportuna e espirituosa no momento, convidei-a a juntar-se aos “Protetores dos Irmãos Menores”, de que faço parte. Ela me olhou desconfiada e imprimiu no rosto uma feição questionadora.
Antes que pairasse qualquer mal-entendido entre nós, apressei-me em explicar:
– Trata-se de um grupo de pessoas amigas protetoras dos animais e da natureza.
O que acabara de dizer só reforçou nela o semblante estranho e inquiridor. Parece que eu não tinha usado as palavras certas para me fazer entender. Compreendi que precisava estender-me um pouco mais na explicação:
– Veja, é simples. Há pessoas que têm afinidades umas com as outras. Isso as aproxima. São tendências, ideias, gostos, sentimentos similares que as fazem ser parecidas.
– No meu caso – continuei –, por gostar muito dos animais e me preocupar com questões que envolvem a vida na sua plenitude, busco conviver com pessoas que têm as mesmas preocupações. Quando soube desse grupo, aproximei-me e conheci o trabalho que realizava. Hoje sou um “protetor dos irmãos menores”, com várias tarefas na associação.
A jovem lançou-me um olhar de tal modo hebetado que, confesso, naquele instante, questionei a mim próprio se não estava a perder o meu tempo.
Contudo calculei, num relance, que minhas obrigações do dia podiam esperar um pouco. Calcei-me de indulgência e com um sorriso calmo e compreensivo me predispunha a ir mais fundo na orientação, quando ela, sem controle das travas da língua, despejou a opinião que tinha sobre o assunto:
– Olhe aqui, amigo, eu o respeito bastante, mas que conversa fiada, hein! Onde já se viu perder tempo com animais?! Esse negócio de meio ambiente é coisa de estrangeiro!
Eu realmente não esperava, não estava preparado para aquele tipo de argumento, ainda mais assim, à queima-roupa. Esbocei reação, cortada energicamente pela minha interlocutora:
– Veja, há tanta coisa pra se fazer na vida, pessoas passando fome, gente doente, tragédia em todo canto, e você se preocupando com bicho, com plantinha! Este país não anda enquanto tiver gente pensando assim!
Do jeito que a coisa ia, ou vinha daquela boca a serviço de mente em desalinho, achei melhor aguardar que esgotasse a sua munição. Calei e arrumei-me na defensiva mental otimista.
Ela continuou elucidando suas razões práticas:
– Observe… Tem gente que não gosta de gente, vai gostar de animal? Fala-se muito de poluição, desmatamento, coisas assim, mas como saber se é verdade? Tem muito dinheiro envolvido nisso… Não vale a pena, não! A vida é uma só e curta!
Pela respiração funda que ela deu, entendi que finalizara. Então, envolvi minha amiga num sorriso largo e sincero e fui me despedindo com um abraço, encerrando o rápido encontro. Aproveitei e lhe disse que gostei da sua franqueza, era a sua opinião e eu respeitava. E acrescentei meio de viés:
– Nosso caminho é ainda muito longo, temos muito que caminhar…
– Do que está falando? – ela perguntou.
– Amor. Estou falando do amor – respondi.
E saímos, cada um numa direção.
¹ Revista Espírita, Allan Kardec, março de 1865, em “Onde é o céu?”.