• Ricardo Baesso de Oliveira – Juiz de Fora/MG
Em torno da questão gênero sexual – masculino/feminino – Kardec tece importantes considerações em artigo publicado na Revista Espírita de janeiro de 1866, intitulado As mulheres têm alma?
As principais ideias apresentadas pelo nosso codificador são estas:
01- Os Espíritos não têm sexo, pois os sexos só existem no organismo; são necessários à reprodução dos seres materiais; os Espíritos não se reproduzindo uns pelos outros, os sexos seriam inúteis no mundo espiritual;
02- Os Espíritos se encarnam nos diferentes sexos, a fim de cumprir os deveres de cada uma dessas posições, e delas suportar as provas;
03- O Espírito encarnado sofrendo a influência do organismo, seu caráter se modifica segundo as circunstâncias e se dobra às necessidades e aos cuidados que lhe impõem esse mesmo organismo;
04- Essa influência não se apaga imediatamente depois da destruição do envoltório material, do mesmo modo que não se perdem instantaneamente os gostos e hábitos terrestres;
05- Não é senão o que ocorre a um certo grau de adiantamento e de desmaterialização que a influência da matéria se apaga completamente;
A necessidade de vivenciar experiências reencarnatórias em ambas as polaridades sexuais, segundo Kardec, está relacionada aos deveres inerentes a cada uma dessas posições e as provas a elas vinculadas.
Recentes estudos na área da biologia do comportamento vieram trazer novas luzes sobre o tema, permitindo-nos uma melhor compreensão do pensamento de Allan Kardec.
Um resumo atual desses estudos foi apresentado pelo neurocientista de Harvard, Steven Pinker, no livro Tábula rasa:
01- Homens e mulheres possuem todos os mesmos genes, com exceção de um punhado no cromossomo Y. O corpo humano contém um mecanismo que faz com que o cérebro dos meninos e o das meninas difira durante o desenvolvimento fetal. O cromossomo Y desencadeia o crescimento de testículos em um feto masculino que secretam testosterona. A testosterona tem efeitos duradouros sobre o cérebro durante o desenvolvimento fetal, nos meses seguintes ao nascimento e durante a puberdade, e tem efeitos transitórios em outros períodos da vida. Os estrogênios, hormônios sexuais femininos, afetam também o cérebro por toda a vida. Receptores desses hormônios são encontrados em várias regiões do cérebro;
02 – Os cérebros dos homens diferem visivelmente dos das mulheres de vários modos. Os homens têm cérebros maiores, embora as mulheres possuam uma porcentagem maior de matéria cinzenta.
Regiões do hipotálamo relacionadas ao comportamento sexual e à agressão são maiores nos homens;
03 – Quando mulheres em preparo para uma cirurgia de mudança de sexo recebem testosterona, melhoram nos testes de rotação mental e pioram nos de fluência verbal.
04 – Mulheres com níveis elevados de testosterona sorriem com menos frequência e têm mais casos extraconjugais, uma presença social mais marcante e até um aperto de mão mais forte. Quando os níveis de estrogênios estão altos tornam-se melhores em tarefas que tipicamente executam melhor como a fluência verbal. Meninas com hiperplasia suprarrenal congênita, que têm produção excessiva de hormônios masculinos, crescem com jeito de moleque, brincam de luta, demonstram mais interesse em caminhões que em bonecas;
05 – Os homens têm preferência muito mais acentuada pelo sexo sem compromisso com várias parceiras ou parceiras anônimas, como vemos na prostituição e na pornografia visual. Os homens têm muito maior probabilidade de competir uns com os outros violentamente. A habilidade de manipular mentalmente objetos tridimensionais e o espaço também é bem maior nos homens. Embora os homens sejam, em média, melhores em fazer a rotação mental de objetos e mapas, as mulheres são melhores para lembrar pontos de referência e as posições dos objetos. Os homens têm melhor pontaria, as mulheres são mais jeitosas. Os homens são melhores na resolução de problemas matemáticos expressos em palavras, as mulheres são melhores para fazer cálculos. As mulheres são mais sensíveis a sons e odores e são muito melhores na leitura de expressões faciais e da linguagem corporal. As mulheres vivenciam emoções básicas com mais intensidade, excetuando-se, talvez, a raiva. As mulheres têm relacionamentos sociais mais íntimos, são mais preocupadas com eles e sentem mais empatia por seus amigos. Elas fazem mais contato visual, sorriem e riem com mais frequência. As mulheres são mais atentas ao choro corriqueiro de seus bebês e mais solícitas com os filhos em geral.
Concluindo, mostra-nos a Biologia comportamental que ambas as polaridades sexuais têm o que oferecer ao Espírito encarnado. Depende dele, portanto, aproveitar, ao máximo, aquilo que a evolução lhe propõe em suas experiências reencarnatórias, superando com coragem as “fraquezas” relacionadas a cada gênero sexual e desenvolvendo as possibilidades inerentes a eles.