• Astolfo O. de Oliveira Filho – Revista Virtual O Consolador – Londrina/PR
“Desculpe o desabafo, mas hoje tive uma discussão com uma evangelizadora de 25 anos (tenho 44) que disse que não estamos na evangelização para dar limites, e sim para evangelizar. Que quem tem que dar limites são os pais. Não concordo, acho que evangelizar é mostrar disciplina, limites, chamar a atenção sim, não deixar que as crianças façam o que elas querem fazer. Ela disse que não podemos ser bruscos (procuro falar com autoridade, mostrando para aqueles espíritos em corpos de crianças que eles têm limites, e que eles não podem fazer o que querem). Enfim, ela quis me mostrar que meu jeito de trabalhar é errado, me levando às lágrimas quando cheguei em casa, pois trabalhei 15 anos na evangelização infantil (3,4,5 e 6 anos) e nunca me chamaram a atenção. (…) Será que os tempos mudaram? Será que agora só temos que ficar de meiguice com os pequenos? Será que não tenho perfil para evangelizar? Será que meu trabalho de 15 anos foi todo por água abaixo, me iludi achando que fiz algo por aqueles pequenos?”
A resposta dada na ocasião pode ser vista clicando-se neste link: http://www.oconsolador.com.br/ano5/210/cartas.html
Completando nossa resposta, conforme prometemos naquela oportunidade, apresentamos os esclarecimentos que sobre o assunto nos foram prestados por três trabalhadores espíritas que atuam na área da evangelização infantil.
Sinteticamente, eis o que eles nos disseram acerca da questão proposta:
1. Evangelizar é também estabelecer limites, a começar pelo ensinamento “não faças ao outro o que não queres que ele te faça”, mas limites fixados com amor, demonstrando afeto e desaprovando apenas as atitudes da criança, sem, contudo, menosprezá-la.
2. É claro que, em verdade, são os pais que devem dar os primeiros limites à criança, ensinando-lhe respeito a Deus, ao próximo, à natureza, às coisas. Assim, o ideal numa escola de evangelização seria que todas as crianças já trouxessem de casa essa noção de limites, mas isso nem sempre acontece.
3. Pais e evangelizadores devem escutar atentamente a criança, procurando ver o mundo e as situações sob a ótica dos pequenos, sempre agindo amorosamente, ou seja, agindo com calma, sem reagir às atitudes erradas, explicando os motivos por que não podem fazer tal ou tal coisa e tentando entender os porquês das atitudes e pedidos que as crianças fazem.
4. A questão dos limites assume papel importante porque numa escola de evangelização espírita é muito difícil para o evangelizador trabalhar com crianças que não têm noções de respeito. Todos sabemos que quando uma criança perturba de modo frequente uma aula o fato impede que as outras crianças exerçam seu direito de assistirem a essa aula em paz.
5. O evangelizador deve organizar a aula e exigir comportamentos de acordo com o ambiente e o momento de aprendizado, o que compreende, da parte dos alunos, esperar a vez de falar, respeitar colegas e professores, fazer as atividades.
6. A tarefa requer, porém, que o evangelizador tenha a necessária paciência para que suas atitudes não resvalem para o campo da dureza, da aspereza. Revela-se, nesse particular, a exigência maior a ser observada por todo aquele que colabora em tais atividades: o esforço de desenvolver a capacidade de amar sem pieguismo e de exigir sem dureza, algo que requer muita vigilância e oração, em um verdadeiro trabalho de autoevangelização.
7. Para que a tarefa tenha êxito é importante também conhecer a história dos evangelizandos, visando desse modo a entender determinadas atitudes, visto que muitas vezes a criança age ou reage de uma maneira que somente poderemos entender conhecendo sua história e a realidade em que ela está inserida. Com isso será bem mais fácil orientá-la para que tenha atitudes e realize escolhas que possam trazer alegria e felicidade para todos.
8. Nesse sentido é muito importante, sempre que houver possibilidade, a visita aos lares dos evangelizandos considerados problemáticos, porque sabemos que o comportamento inadequado numa sala de aula pode ser tão-somente o reflexo do que ocorre no lar daquela criança.
9. Lembremo-nos também de que as crianças tendem a respeitar quem as trata bem com carinho e consideração. Afinal, somente conseguiremos levar os ensinamentos de Jesus ao coração das crianças com muito afeto e respeito pelo
Espírito milenar que ali se encontra, temporariamente, revestindo um corpo infantil.
10. Quanto ao conflito mencionado na carta, é preciso considerar que problemas de relacionamento interpessoal existem e existirão ainda por um bom tempo, mesmo dentro de um ambiente espírita, o que se resolverá com o diálogo e com a boa vontade de cada um em ceder um pouco e observar o ponto de vista do outro, com vistas a encontrar sempre a melhor solução.
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A respeito da importância da evangelização das crianças, sugerimos ao leitor a leitura da entrevista publicada na edição n. 9 desta revista, que pode ser vista clicando neste link: http://www.oconsolador.com.br/9/entrevista.html