Search
quinta-feira 19 dezembro 2024
  • :
  • :

Coluna Espírita – Evangelho aplicado à Vida

• José Passini – Juiz de Fora/MG
Kardec soube buscar no Novo Testamento as nobres lições de convivência humana, aplicando-as à vida. Jesus, na visão espírita, não foi um místico, um chefe religioso, comparável a um clérigo ou sacerdote. O Espiritismo resgatou-lhe a figura do educador de almas, tendo em vista o caráter eminentemente santificante e pedagógico de sua atuação, através de ensinamentos sempre voltados à vida em sociedade e não a fugazes momentos de êxtase religioso nos templos.
Como exemplo da aplicação do Evangelho fora dos templos, deve ser notado o diálogo de Allan Kardec com os Espíritos Superiores a respeito do trabalho. No século XIX, a exploração dos trabalhadores era de fato ignominiosa. A jornada de trabalho do operário europeu era superior a 12 horas. (Enciclopédia Larousse). Se o operário adoecia ou envelhecia, era alijado do campo de trabalho como uma peça gasta ou defeituosa é retirada de um mecanismo e lançada fora. Nenhuma voz religiosa se fazia ouvir, lembrando os poderosos de que o operário é também um filho de Deus. A religião estava confinada nos templos. Aquela religião dinâmica, ensinada e vivenciada por Jesus tinha se transformado em práticas solenes e suntuosas vivenciadas apenas no interior das assim chamadas casas de Deus, em nada influindo na vida diária dos cristãos.
Numa demonstração de que entendia a moral cristã como orientadora dos atos da criatura humana em todos os lugares e em todas as atividades, e vendo um distanciamento imensurável entre o que era pregado nos templos, daquilo que era posto em prática na vida comum, Kardec inquire os Espíritos, no sentido de obter deles pronunciamentos sobre inúmeros assuntos nos quais as religiões cristãs não se imiscuíam:
Que se deve pensar dos que abusam de sua autoridade, impondo a seus inferiores excessivo trabalho?
Isso é uma das piores ações. Todo aquele que tem o poder de mandar é responsável pelo excesso de trabalho que imponha a seus inferiores, porquanto, assim fazendo, transgride a lei de Deus. (O L. E. item 684).
Essa resposta, séria advertência do Mundo Espiritual, dirigida àqueles que exploravam o trabalhador, mostrando-lhes que a moral religiosa ouvida nos templos não era para ali ficar confinada, mas aplicada à vida, em todos os relacionamentos humanos, de modo particular no relacionamento capital / trabalho, buscando clarear a visão daqueles que tinham o poder de facultar ao próximo ganhar o “pão nosso de cada dia”.
A consciência profunda de que os valores espirituais não deveriam restringir-se a práticas e comentários nos momentos de culto, Kardec continua, avançando em temas sociais, cuja discussão nem de leve era considerada no seio das religiões cristãs:
Tem o homem o direito de repousar na velhice?
Sim, a que a nada é obrigado, senão de acordo com as suas forças. (O L. E., item 685).
Kardec prossegue, demonstrando que o amar o próximo como a si mesmo, e a Deus sobre todas as coisas, ensinado no Novo Testamento, é para ser aplicado na vida em sociedade, pois prossegue seu diálogo com os Espíritos Superiores:
Mas, que há de fazer o velho que precisa trabalhar para viver e não pode?
O forte deve trabalhar para o fraco. Não tendo este família, a sociedade deve fazer as vezes desta. (O L. E., item 685 – a).