• Astolfo O. de Oliveira Filho – Revista Virtual O Consolador – Londrina/PR
Para a maioria dos espíritas, excetuados os adeptos do chamado Espiritismo laico, é ponto pacífico: o Espiritismo é, sim, religião, pois a própria obra kardequiana o define como tal de forma inequívoca.
Em seu discurso “O Espiritismo é uma religião?”, publicado na Revue Spirite de dezembro de 1868, Allan Kardec perguntou: “O Espiritismo é uma religião?” E, em seguida, respondeu: “Ora, sim, sem dúvida, senhores”.
Mais adiante indagou: “Por que, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião?” Ou seja, por que declarara anteriormente que o Espiritismo não era religião? E ele mesmo esclareceu: “Porque não há uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo não tem”.
Trata-se, pois, de uma religião não hierarquizada, sem pastores nem sacerdotes, sem cultos nem rituais, mas com um objetivo definido, que é religar a criatura ao Criador.
No mesmo discurso, o Codificador foi além, e explicou qual é “o Credo, a religião do Espiritismo”:
“Crer num Deus todo-poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua imortalidade; na pré-existência da alma como única justificação do presente; na pluralidade das existências como meio de expiação, de reparação e de adiantamento moral e felicidade crescente com a perfeição; na equitável remuneração intelectual; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na do bem e do mal, conforme o princípio: a cada um segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração da expiação limitada pela imperfeição; no livre-arbítrio do homem, que lhe deixa sempre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade que religa todos os seres passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterna; aceitar corajosamente as provações, em vista do futuro mais invejável que o presente; praticar a caridade em pensamentos, palavras e obras na mais larga acepção da palavra; esforçar-se cada dia para ser melhor que na véspera, extirpando alguma imperfeição de sua alma; submeter todas as crenças ao controle do livre exame e da razão e nada aceitar pela fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais irracionais que nos pareçam e não violentar a consciência de ninguém; ver enfim nas descobertas da ciência a revelação das leis da natureza, que são as leis de Deus: eis o Credo, a religião do Espiritismo, religião que pode conciliar-se com todos os cultos, isto é, com todas as maneiras de adorar a Deus.”
O assunto foi tratado nesta revista em algumas ocasiões, como na edição 41, de 3/2/2008, nos textos A religião do Espiritismo – http://www.oconsolador.com.br/41/editorial.html – e É o Espiritismo uma religião? – http://www.oconsolador.com.br/41/especial.html
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Há bom tempo, um leitor declarou à revista Época que alguém, em nome da CEPA, afirmou que o Espiritismo não é religião. Afinal, o Espiritismo é ou não é religião?
A CEPA – Confederação Espírita Pan-Americana é dirigida há muito tempo por confrades nossos, espíritas como nós, que insistem em defender o chamado Espiritismo laico, isto é, sem caráter religioso, apegando-se ao que Allan Kardec escreveu em suas primeiras obras, quando enfaticamente disse que o Espiritismo não era uma religião, mas uma ciência. Eles ignoram deliberadamente o que o Codificador declarou em novembro de 1868 a respeito do caráter religioso do Espiritismo, oportunidade em que esclareceu por que havia dito anteriormente o contrário. O assunto consta da Revista Espírita de dezembro de 1868.
É evidente, no entanto, que a religião espírita não apresenta alguns aspectos e aparatos que tradicionalmente associamos ao conceito de religião, como o sacerdócio organizado, os rituais, as vestimentas especiais, a relação de dependência entre igreja e fiéis. O objetivo do Espiritismo é exatamente possibilitar a libertação do indivíduo de quaisquer peias, aproximando-o do Criador graças ao aprimoramento de suas virtudes, e não por meio de artifícios e aparências exteriores. O homem, ensina o Espiritismo, só se aproxima de Deus evoluindo moralmente. Esse é o objetivo primordial da religião espírita.