• Jorge Hessen – Brasília/DF
Muitas Instituições Espíritas mantêm práticas e/ou discussões estéreis em torno de assuntos como: “crianças índigos”, “Chico é ou não é Kardec?”, “ubaldismos”, “ramatisismos”, “apometria”, “cromoterapias”, “militância na política partidária”, “desobsessão por corrente magnética (com direito a choques anímicos) e tantos outros inusitados “ismos” e “pias”. Alguns confrades creem que a apometria vai revolucionar o universo da “cura espiritual”. Pasmem! Ora, quem estuda com seriedade os livros de Kardec sabe que a cura das obsessões não se consegue com o toque de mágica apométrica.
Sabemos que foi descomunal o esforço de Allan Kardec para legar à humanidade uma doutrina imune
a esses atavismos, vícios religiosos e dogmas de toda natureza. Todavia, como as pessoas são pouco entusiasmadas para o estudo metódico e sério, inventam e impõem práticas bizarras, evocam os “benzedeiros do além” para que venham completar esse vácuo causado pala ausência absoluta de bom senso.
Estamos fazendo, no Brasil, um Espiritismo à moda brasileira. Os centros espíritas praticam um “Espiritismo à moda da casa” (para todos os gostos). Há confrades que insistem em usar trajes especiais nas instituições. Porém, sabemos que o Espiritismo não adota indumentárias especiais, nem enfeites, amuletos, colares, vestes brancas (“significando o bem”) ou vestimentas pretas ou vermelhas (“significando o mal”). Os trabalhadores cônscios da realidade Espírita trajam roupas normais, de forma simples, até porque, a discrição deve fazer parte dos que trabalham para o Cristo.
Há médiuns que se ajoelham diante de imagens “sagradas” e de determinadas pessoas; mantêm-se genuflexos e beijam a mão dos responsáveis pela Casa Espírita, como forma de reverenciá-los; benzem-se; fazem sinais cabalísticos; e outros, por incrível que pareça, proferem palavras esquisitas (mantras) para evocar os Espíritos. Isso é compreensível nos terreiros, mas jamais numa casa de orientação espírita.
O misticismo, a mistificação, a mitificação de entes do além e a introdução de práticas atávicas à doutrina têm se tornado comuns para muitos desavisados “espíritas” que, pela leitura de obras “mediúnicas” vazias de conteúdos dignificantes, perdem a capacidade de análise dos fatos e evocam o posicionamento dos “desencarnados” para todas as situações, deixando de ter uma opinião firme e lógica como se faz necessária, ou como diria o mestre Lionês – uma fé raciocinada!
Como se não bastasse tudo isso, encontramos os idólatras, tais como os “divaldistas”, os “rauteixeiristas” e outros. As pessoas estão endeusando esses companheiros justamente por desconhecerem como é a programação espírita desde o século XIX.
Alguns inclusive espelham-se de tal maneira nesses oradores, que copiam até o timbre, a forma de falar e os trejeitos, que são vergonhosamente materializados nas palestras públicas, cujos temas também são plagiados. Pois é! Há palestrantes que promovem, das tribunas, verdadeiros shows da própria imagem, mise-en-scène, esta também protagonizada pelos ilustres diretores de instituições doutrinárias que não abrem mão do uso do pomposo “Dr.” antes do nome.
A questão é: como evitar esses disparates? Como agir, com tolerância cristã, ante os Centros mal orientados, com dirigentes alienados, com médiuns obsidiados, com oradores “show-men”? Enfim, como agir, diante dos cegos que querem guiar outros cegos?
Para os espíritas light (mornos bonzinhos) é interessante a prática do “lavo as mãos” do “laissez faire”,
“laissez aller”, “laissez passer”. Porém, os Benfeitores espirituais são peremptórios e nos advertem que cabe a nós a obrigação intransferível de SALVAGUARDAR os ensinamentos de Allan Kardec, pelo exemplo diário do amor fraterno e pela coragem do diálogo elevado.
Os Centros que praticam as inócuas terapias ou rituais aqui descritos têm liberdade para fazê-lo, porém, não deveriam utilizar o termo espírita nas suas diretrizes. O bom senso obriga que os seus estatutos sejam modificados. Há aqueles que vão inventando “guias” para servirem de embaixadores junto aos espíritos superiores para cuidarem dos seus interesses, assim na terra como no além. Será que as peregrinações para lugares “sagrados” como Uberaba, Salvador, Niterói, Paris etc., não se constituem, na essência, como romarias, trazidas dos atavismos de outros credos?
Os Códigos Evangélicos nos impõem a obrigatória fraternidade para com os confrades equivocados, o que não equivale a dizer que devamos nos omitir quanto à oportuna admoestação, para que a Casa Espírita não se transforme em usina de zumbis.
O que se percebe frente ao que está acontecendo é que muitos “espíritas” estão tão escravizados a símbolos, mitos e fantasias quanto os irmãos de outras crenças místicas. Faz-se necessário, então, que as instituições kardecianas busquem uma melhora qualitativa no âmbito da divulgação, assistência social e formação doutrinária, oferecendo tanto aos principiantes quanto aos demais trabalhadores da instituição uma informação segura, sustentada nas obras basilares sistematizadas por Allan Kardec, a fim de que a Doutrina dos Espíritos possa seguir incólume, livre de sincretismos e perigosíssimas promessas de cura, oferecendo placebos desobsessivos, sem o respaldo dos Bons Espíritos.
Coluna Espírita – Espíritas escravizados a símbolos, mitos e fantasias?
nov 09, 2023RedaçãoColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em Coluna Espírita – Espíritas escravizados a símbolos, mitos e fantasias?Like
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