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sexta-feira 15 novembro 2024
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Coluna Espírita – E assim um dá cento, outro sessenta e outro trinta por um

• Altamirando Carneiro – São Paulo/SP
Não se trata do bordão de um leiloeiro, ou de um operador da bolsa de valores. Esse é o desfecho da lição contida na parábola do semeador, enunciada por Jesus à beira do mar, sentado em uma barca, ante muitas pessoas. Suas palavras encerram o mais importante alerta aos aprendizes do Evangelho, os quais não poderiam ser mais bem definidos. O Mestre, na ocasião, falou para os que o ouviam, mas, também – num descortino milenar – para a Humanidade do futuro, quiçá melhor preparada para compreender a sua mensagem. Allan Kardec comenta – em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, item 6 – que “a parábola do semeador representa perfeitamente as diversas maneiras pelas quais podemos aproveitar os ensinamentos do Evangelho. Quantas pessoas há, na verdade, para as quais elas não passam de letra morta, que à semelhança das sementes caídas nas pedras, não produzem nenhum fruto!”
Na mesma página, Kardec reafirma que a lição dessa parábola pode ser aplicada “às diferentes categorias de espíritas”. Assim, os que se impressionam com os fenômenos materiais, sem tirar deles nenhuma conclusão – como a parte das sementes que caiu junto da estrada e as aves comeram –, são os que ouvem a palavra do Reino e não a entendem; os que se deleitam com as mensagens espirituais e, contudo, permanecem indiferentes como antes – como a semente que caiu no pedregulho e, nascendo, queimou-se ao sol –, são os que ouvem a palavra, acatam-na, mas por pouco tempo, refugando-a frente às tribulações; os que aceitam os conselhos, sem assumi-los, e os que aplicam aos outros – como a semente que caiu entre os espinhos e foi sufocada –, são os que ouvem a palavra mas permitem que as tentações do mundo as neutralizem; e os que vivenciam os ensinamentos doutrinários – como a semente que caiu em solo fértil e deu frutos –, são os que ouvem a palavra e a entendem, e dão frutos, “e assim um dá cento, e outro sessenta, e outro trinta por um”.
A reflexão que se impõe a cada um de nós, na razão direta da nossa sinceridade, numa autocrítica, é aquela que indaga a que categoria de espíritas pertencemos. A propósito, vale considerar a afirmação de Allan Kardec, na introdução de O Livro dos Médiuns, ao constatar, na – época – que “vem progredindo bastante o Espiritismo, desde alguns anos, mas o seu maior progresso se verifica depois que entrou no rumo filosófico, porque despertou a atenção de pessoas esclarecidas. Hoje não é mais uma diversão, mas uma doutrina de que não riem os que zombavam das mesas girantes. Esforçando-nos por sustentá-lo neste terreno, estamos certos de conquistar adeptos mais úteis do que através de manifestações levianas. Temos a prova disso todos os dias, pelo número de adeptos resultante da simples leitura de O Livro dos Espíritos. Deduz-se que, hoje, não deve ser diferente.
De Kardec aos nossos dias – passados 158 anos –, uma condição delineia nossa caminhada como espíritas: o estudo e a prática do Espiritismo. “Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo”, asseverou o Espírito de Verdade. Essa assertiva implica no conhecimento da Doutrina Espírita em seus aspectos e consequências. Se o estudo, a rigor, se constitui numa tarefa fácil, o amor se apresenta como o desafio mais difícil.
Ganha prevalência, na atualidade, o caráter ético da Doutrina Espírita, que sobressai na terceira parte de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, em que explana as Leis Morais. “Ora, o que preceitua essa moral?” – pergunta Allan Kardec, em Viagem Espírita de 1862, e responde – “Amai-vos uns aos outros; perdoai os vossos inimigos; retribuí com o bem o mal; não tenhais ira, nem rancor, nem animosidade, nem inveja, nem ciúme, sede severos para convosco mesmos e indulgentes para com os outros. Tais devem ser os sentimentos do verdadeiro espírita, daquele que se atém ao fundo e não à forma, do que coloca o Espírito acima da matéria. Este pode ter inimigos, mas não é inimigo de ninguém, pois que não deseja o mal a quem quer que seja e, com maiores razões, não procura fazer o mal a ninguém”.
Será preciso acrescentar mais alguma coisa?