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quinta-feira 19 dezembro 2024
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Coluna Espírita – De que lado está a verdade?

• Maroísa Baio – Limeira/SP
Em outubro e novembro de 1861, Allan Kardec visitou alguns grupos espíritas nas cidades de Lyon e Bordéus (França), a convite de espíritas dessas localidades, os quais eram, na maioria, operários das fábricas locais. Ele se surpreendeu, não apenas pela recepção simples e carinhosa que recebeu, mas também pela união sincera que constatou entre aquelas pessoas sofridas e trabalhadoras.
Os representantes de cada grupo tiveram a oportunidade de discursar, agradecendo à ilustre presença, mas o discurso mais aguardado era o de Kardec. Suas palavras trazem valiosos ensinamentos, tanto para os grupos espíritas quanto para cada espírita em particular, destacando-se, sobretudo, por sua humildade:
“Se me sinto feliz com este acolhimento cordial, é que nele vejo uma homenagem à doutrina que professamos e aos bons Espíritos que no-la ensinam, muito mais que a mim pessoalmente, que não passo de um instrumento nas mãos da Providência. Convencido da verdade desta doutrina, e do bem que ela está convocada a produzir, tratei de lhe coordenar os elementos; esforcei-me por torná-la clara e para todos legível. É tudo quanto me cabe e, assim, jamais me considerei seu criador. A honra cabe inteiramente aos Espíritos. É, pois, a eles só que se devem dirigir os testemunhos de gratidão; e não aceito os elogios que me dirigis de boa vontade senão como um encorajamento para continuar minha tarefa com perseverança.”
Comentou sobre as lutas que enfrentou, o quanto trabalhou para o estabelecimento do Espiritismo e a preocupação com a clareza dos ensinamentos. Não se considerava médium, mas um coordenador dos ensinamentos dos Espíritos:
“Não sou médium, no sentido vulgar da palavra, e hoje compreendo que para mim é uma felicidade que assim o seja. (…) Assim foi possível fazer uma seleção dos diversos ensinamentos, sem prevenção e com inteira imparcialidade. Vi muito, estudei muito, observei muito, mas sempre com o olhar impassível e nada mais ambiciono do que ver a experiência que adquiri posta em proveito dos outros.”
Destacou que a melhor oposição aos adversários do Espiritismo está no amor e na caridade, fazendo-os esmorecer e que, em torno dessa bandeira, devem se reunir os verdadeiros espíritas. Propôs, então, a seguinte questão:
“Se as opiniões estão divididas sobre alguns pontos da Doutrina, como saber de que lado está a verdade?”
Apresentou, a seguir, dois critérios. Eis o primeiro:
“É a coisa mais fácil. Para começar, tendes por peso o vosso julgamento e por medida a lógica sã e in¬flexível. Depois, tereis o assentimento da maioria; porque, acreditai, o número crescente ou decrescente dos partidários de uma ideia dá a medida de seu valor; se ela fosse falsa, não conquistaria mais adeptos do que a verdade; Deus não o permitiria; Ele pode deixar que o erro surja aqui e ali, para nos fazer ver suas atitudes e nos ensinar a reconhecê-lo. Sem isto, onde estaria o nosso mérito, se não tivéssemos escolha a fazer?”
E o segundo:
“Quereis um outro critério da verdade? Eis um, infalível. Desde que a divisa do Espiritismo é Amor e Caridade, reconhecereis a verdade pela prática desta máxima, e tereis como certo que aquele que atira a pedra em outro, não pode estar com a verdade absoluta.”
Dois critérios imbatíveis: o bom senso e a caridade! Embora suas orientações tenham sido dirigidas em especial aos espíritas daquelas regiões e daquele tempo, elas continuam válidas, na atualidade, para todo aquele que queira pautar sua conduta agindo sempre lado a lado com a verdade!