• Ricardo Baesso de Oliveira – Juiz de Fora/MG
A respeito desse tema – o custo do livro espírita – parece-nos relevante o que pensava Chico Xavier. Contou-nos o confrade mineiro, hoje desencarnado, Ronaldo Tornel da Silveira, que, dialogando com Chico, ouviu dele o seguinte comentário:
– O dinheiro do livro espírita deveria ser para o livro espírita!
Chico se referia, obviamente, à prática, quase geral no movimento espírita, de valer-se do dinheiro adquirido com a venda de livros para custear outras atividades, notadamente de apoio social.
É óbvio, que se não houvesse essa prática o livro espírita poderia ter um custo menor.
Vivemos em um país onde grande parte da população ganha apenas o suficiente para manutenção das necessidades físicas, e qualquer outra despesa fica fora do orçamento doméstico. Quando elevamos o preço do livro dificultamos seu acesso a grande número de pessoas.
Curioso observarmos o cuidado que Kardec e Amélie tinham com relação a isso. Da obra Muita luz, de Berthe Fropo, amiga do casal, destacamos o seguinte trecho, onde ela expressa o cuidado do casal no que tange ao custo das obras e seu papel na difusão das obras de Kardec:
Esta propagação não pode ser eficaz, a menos que os livros do mestre sejam baratos, foi o desejo de sua viúva. Ela se impôs, apesar de sua adiantada idade, às mais difíceis privações, de modo a deixar uma fortuna real para o Espiritismo, aceitando comprometer sua saúde, já tão delicada, e ser tratada como uma avarenta para alcançar o objetivo que ela propôs a si mesma: o de divulgar a instrução moral e intelectual entre os seguidores pobres do Espiritismo, para ver crescer a obra de seu marido.[i]
Em outro trecho do livro, referindo-se a uma doação aceita pela Sra. Amélie, Berthe reproduz o pensamento da amiga:
– É difícil, cara amiga, recusar cem mil francos, pois isso pode tornar os livros do meu marido mais baratos.[ii]
Em obra mediúnica recente, recebida pelo médium Vinícius Lara, radicado na cidade de Juiz de fora, MG, o autor espiritual, de nome Ivon, comenta:
Quando pensamos na destinação de trabalhos colhidos através da mediunidade, com frequência os livros espíritas têm sido associados também à manutenção de obras assistenciais, sob o argumento de que o contato com o Invisível deveria simultaneamente multiplicar as verdades imortais, enquanto sustenta as atividades mundanas da instituição em funcionamento. Deparamo-nos aqui com um enorme equívoco. A obra mediúnica, sobretudo através da psicografia e da oratória, não possui a função de manter serviços humanitários – ainda que louváveis – e é sob este tópico que grandes problemas vêm se processando no seio de grupos sérios e dedicados honestamente ao Espiritismo.[iii]
Dentre os problemas aventados pelo autor espiritual, destaca-se a produção de obras mediúnicas por atacado, repetitivas e sem o devido aprofundamento dos temas, porque necessárias à manutenção custosa das obras. Ainda o autor:
O livro espírita é luz para a alma e deve ser destinado a almas que buscam luz. Tendo a obrigação de vender títulos para sustentar programas sociais, médiuns e Movimento espírita se inserem em uma espiral perigosa, em que o que se coloca em questão não é mais o aspecto qualitativo e libertador do Espiritismo, mas a troca pura e simples de alguns recortes espirituais da verdade, sob a argumentação de que, por serem destinados a uma obra de caridade, precisam ser vendidos e comprados, mesmo prestando, em muitas ocasiões, um desserviço à seriedade da ciência espírita.[iv]
Meditemos em torno do tema. A produção de obras de mais baixo custo, ou livros disponíveis gratuitamente através da internet, além de tornar os textos espíritas acessíveis a um número maior de pessoas, colabora, ainda que simbolicamente, na redução da dramática injustiça social que predomina em nosso país.
[i] Muita luz, de Berthe Fropo, disponível on-line.
[ii] Idem.
[iii] Diálogos espíritas, Espírito Ivon, médium Vinícius Lara, comentários de Daniel Salomão e Humberto Coelho; para acessar clique aqui
[iv] Idem.