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segunda-feira 25 novembro 2024
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Coluna Espírita – Conflitos de conduta e subjugação

• Jorge Hessen – Brasília/DF
Charity era viciada em drogas e deu à luz o menino Páris. Nove anos depois engravidou novamente e teve a menina Ella. O menino era mais introvertido e tímido, enquanto Ella era extrovertida, teimosa e determinada.
Charity conseguiu ficar longe das drogas por alguns anos. Porém, quando Páris tinha 12 anos e Ella 3, teve uma recaída (por seis meses) com cocaína. Foi difícil para Páris perceber que sua mãe era uma viciada. Transtornado, com 13 anos de idade, ele sufocou e esfaqueou sua irmã 17 vezes com uma faca de cozinha. Após o crime, ligou para o 911, o número de emergência local. Páris disse à polícia que estava dormindo e que, ao acordar, viu que Ella tinha se transformado em um demônio em chamas. Então, ele teria pegado a faca e tentado matar o “demônio”.
Em 2007, Páris foi condenado a 40 anos de prisão pelo assassinato. Charity estava convencida de que o crime não havia sido um acidente ou resultado de uma psicose temporária, pois, para ela, Páris realmente quis matar a irmã. Charity acredita que a recaída nas drogas contribuiu para deixar Páris furioso. Entretanto, do mesmo modo, crê que grande parte do que está por trás da personalidade do filho seja genética, pois o pai de Páris tinha esquizofrenia do tipo paranoica, caracterizada, por exemplo, pela presença de ideias frequentemente de perseguição, em geral acompanhadas de alucinações.
Cremos que o ambiente familiar e social tem papel importante no desenvolvimento e manutenção de transtorno de conduta. Em alguns casos o uso de álcool e drogas pela mãe durante a gestação, e também de alguns medicamentos, já foram confirmados. As pessoas com transtorno de conduta são caracterizadas por padrões persistentes de comportamento socialmente inadequado, agressivo ou desafiante, com violação de normas sociais ou direitos individuais. São pessoas carentes de amor e de apreço pela sociedade, por isso ignoram o outro. Adotam costumes criminosos sem nenhum remorso, conservando-se frios e insensíveis ao que ocorre ao seu redor.
Para a psicologia o “self” nessas pessoas é desconectado do “ego”, padecendo uma rachadura que impede o completo relacionamento que determinaria a sua adaptação ao grupo social. O Espiritismo explica que isso procede de legados morais e espirituais que brotam das experiências infelizes de outras existências, quando o Espírito delinquiu, camuflando a sua culpa e se esquivando da coexistência social. E há, em muitos casos, influências espirituais que podem levar a desvios de conduta e mau caráter.
Allan Kardec esclarece que há vários tipos de obsessão, sendo o mais grave o de subjugação, em que o obsessor interfere e domina o cérebro do encarnado. A subjugação pode ser psíquica, física ou fisiopsíquica. Assim, as doenças mentais ou físicas também podem, de acordo com o conhecimento espírita, sofrer influências externas.
Recuando à época de Jesus, conferimos que os evangelistas anotaram diversos episódios de obsessões. A exemplo de Lucas, que descreveu o homem que se achava no santuário, possuído por um Espírito infeliz, a gritar para Jesus, tão logo lhe marcou a presença: “que temos nós contigo?”. [1]
Numa ação obsessiva, seguida de possessão e vampirismo, o evangelista Marcos escreveu sobre o auxílio seguro prestado pelo Cristo ao pobre gadareno, tão intimamente manobrado por entidades cruéis, e que mais se assemelhava a um animal feroz, refugiado nos sepulcros. [2] No episódio da obsessão envolvendo alma e corpo, o apóstolo Mateus anotou que o povo trouxe ao Mestre um homem mudo, sob o controle de um Espírito em profunda perturbação e, afastado o hóspede estranho pela bondade do Senhor, o enfermo foi imediatamente reconduzido à fala. [3]
Na obsessão indireta, cuja vítima padece de influência aviltante, sem perder a própria responsabilidade, o discípulo amado João registrou que um Espírito perverso havia colocado no sentimento de Judas a ideia de negação do apostolado. [4] E na complicada obsessão coletiva causadora de “moléstias-fantasmas”, encontramos o episódio em que Filipe, transmitindo a mensagem do Cristo entre os samaritanos, conseguiu que muitos coxos e paralíticos se curassem, de pronto, com o simples afastamento dos Espíritos inferiores que os molestavam. [5]
Diante dessas inquietações espirituais, Emmanuel afirma que o Novo Testamento trata o problema da obsessão com o mesmo interesse humanitário da Doutrina Espírita. Em face disso, devemos manter-nos atentos e ampliar o serviço de socorro aos processos obsessivos de qualquer procedência, porque os princípios de Allan Kardec revivem os ensinamentos de Jesus, na antiga batalha da luz contra a sombra e do bem contra o mal. [6]
Referências bibliográficas:
[1] Lucas, 4: 33, 35.
[2] Marcos, 5: 2, 13.
[3] Mateus, 9: 32, 33.
[4] João, 13: 2.
[5] Atos, 8: 5, 7.
[6] XAVIER, Francisco Cândido. Seara dos Médiuns, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 2001.