• Cláudio Bueno da Silva – Osasco/SP
Vivemos um tempo em que se quer falar, mas não se quer ouvir. Alguns falam compulsivamente e, estando com alguém, parecem estar sozinhos. Não apenas estes, mas praticamente nós todos estamos com uma premente necessidade de expor o que pensamos e sentimos, pois achamos que os outros precisam saber. É como se a ansiedade moderna estivesse nos cobrando alguma coisa.
Com o advento da Internet e das mídias sociais, o instrumento da fala deixou de ser a boca e passou a ser um teclado, fixo ou móvel. E as pessoas passaram a se comunicar basicamente por aparelhos, o que tem encurtado muito as distâncias, às vezes tão curtas.
Isso é ruim, pois deteriora a convivência, afastando-nos uns dos outros. Tudo esfria, nos acomodamos com o distanciamento, e vão diminuindo entre nós as oportunidades de se aprender com a experiência das relações presenciais. Não percebemos a solidão chegar devagarinho.
Uma pessoa junto a um teclado se desinibe. Fala (digo, escreve) o que talvez não ousasse exprimir diante de um interlocutor. Sente-se investida de um poder qualquer que quase a obriga, nas redes sociais, por exemplo, a emitir a sua opinião sobre tudo e todo assunto, mesmo não conhecendo nada sobre tantas coisas. Passa grande parte do dia, cabeça baixa, olhos numa tela. Não controla a vontade de dizer (digo, mostrar) onde esteve, está, aonde vai, guardando a certeza de que ninguém irá duvidar da felicidade estampada “naquele sorriso”. Ela não percebe que essa prestação de conta pública pode esconder um sentimento caprichoso de vaidade.
Mas sejamos justos, nesses tempos acelerados, fazer visitas, puxar a cadeira para conversar, contar ou ouvir um segredo ao pé do ouvido fica bem difícil. Há tanta coisa para “ver”, que o dia é curto. Sabe? Eu acho que, bem compreendido, esse comportamento quase generalizado não é assim tão censurável. Ele faz parte do processo um tanto infantil que demonstramos diante das grandes novidades, ainda mais as novidades tecnológicas que nos fazem sentir empoderamento assim que as dominamos.
Esse fascínio pelas tecnologias frias, assim como a volúpia juvenil de ser o primeiro a reagir e o último a falar, desaparecerá. Esse desperdício de energias, essa postura alienante, o descuido com o espaço, que a verdade e a justiça precisam ter, irão se transformar na proporção em que formos descobrindo os reais valores e finalidades da vida em família e em sociedade.
Sou daqueles que acreditam que Deus não nos fez para dar errado. Há uma lei universal que impulsiona tudo e todos ao progresso. Mesmo sem que muitos percebam, nós, Espíritos, passamos da infância para a juventude, daí avançamos para a maturidade, ansiando a tudo quanto Deus nos permita alcançar para o nosso bem.
Então as frivolidades, as mesquinharias a que hoje damos tanta importância, não significarão mais nada.
Ah! meu Deus, o progresso tecnológico é muito bem-vindo, mas acaba trazendo junto algumas dificuldades novas, dando tratos à bola! *
*Dar tratos à bola: 1 – Empenhar-se, esforçar-se intelectualmente para obter determinado resultado; 2 – Resolver problema. (Dicionário informal: Dicionário Online.)