• Astolfo O. de Oliveira Filho – Revista Virtual O Consolador – Londrina/PR
Segundo Erasto, conforme está dito em O Livro dos Médiuns, no tocante aos objetos transportados de um recinto a outro, o Espírito pode torná-los invisíveis, mas não penetráveis, porque ele não poderia romper a agregação da matéria, o que seria a destruição do objeto. André Luiz diz-nos coisa bem diferente no livro Nos Domínios da Mediunidade e Bozzano, tratando do assunto, o confirma.
De fato, o leitor tem razão. A divergência é evidente, o que leva a crer que Erasto se equivocou ou evitou, propositadamente, dar uma informação que a ciência de sua época não admitia e, por esse motivo, não seria também acolhida por Kardec.
Quem já leu a respeito do método kardequiano, compreenderá perfeitamente que é preciso cautela diante de uma informação que contrarie o conhecimento científico firmado no momento, sinalizando ao receptor da informação que aguarde o decurso do tempo.
Não foi por outro motivo que, aludindo à progressividade da ciência espírita, Kardec consignou em seu livro A Gênese: “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”. (A Gênese, cap. I, item 55.)
O caso do fenômeno de transporte parece-nos semelhante ao caso do tema possessão, que Kardec também rejeitou até determinada época, inclusive em O Livro dos Médiuns, para depois admiti-la de forma clara, como podemos ver no livro A Gênese.
A diferença entre um caso e outro é que, no tocante ao fenômeno de transporte, seria necessário que os fatos comprovassem o equívoco de Erasto, conquista essa que devemos a Ernesto Bozzano e ao seu extraordinário Fenômenos de Transporte, obra traduzida por Francisco Klörs Werneck e publicada pelas Edições FEESP, cujo estudo sequencial e metódico foi publicado em nossa revista nas edições 175 a 183. Para ver a primeira parte desse estudo, publicada na edição 175, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/ano4/175/classicosdoespiritismo.html
De forma resumida, podemos afirmar que Bozzano reuniu provas mais do que suficientes de que os “transportes” se produzem por força do processo, quase instantâneo, de desintegração e reintegração, processo que algumas vezes assume forma inversa com desintegração e reintegração de um furo nas portas e nas paredes, o que não muda a essência do fenômeno.
Anos depois, André Luiz examinou a questão em seu livro Nos Domínios da Mediunidade, cap. 28, pp. 268 a 271, em que relata o fato a seguir sintetizado. Findo o trabalho medicamentoso, um Espírito tomou pequena porção das forças materializantes do médium sobre as mãos e afastou-se, para trazer, daí a instantes, algumas flores que foram distribuídas com os irmãos encarnados, no intuito de sossegar-lhes a mente excitadiça. O Assistente Aulus explicou: “É o transporte comum, realizado com reduzida cooperação das energias medianímicas. Nosso amigo apenas tomou diminuta quantidade de força ectoplásmica, formando somente pequeninas cristalizações superficiais do polegar e do indicador, em ambas as mãos, a fim de colher as flores e trazê-las até nós”. Hilário observou a facilidade com que a energia ectoplásmica atravessou a matéria densa, porque o Espírito, usando-a nos dedos, não encontrou qualquer obstáculo na transposição da parede. Aulus lembrou-lhe que também as flores transpuseram o tapume de alvenaria, penetrando o recinto graças ao concurso de técnicos bastante competentes para desmaterializar os elementos físicos e reconstituí-los de imediato. O Assistente informou que, caso houvesse utilidade, um objeto poderia ser removido da sala de sessões para o exterior, com a mesma facilidade. “As cidadelas atômicas, em qualquer construção da forma física, não são fortalezas maciças, qual acontece em nossa própria esfera de ação. O espaço persiste em todas as formações e, através dele, os elementos se interpenetram”, explicou Aulus.