• Márcio Costa – São José dos Campos/SP
Ao final de uma sexta-feira, três amigos resolvem extravasar o cansaço do trabalho perambulando pela noite de uma cidade antiga, onde estavam em viagem. Jogando conversa fora, saem pelas ruas sem destino até serem atraídos pelas luzes fulgurantes de um bar.
Adentrando ao local se surpreendem com o seu requinte sutil. Diversas luzes em tons quentes se espalhavam pela decoração moderna, onde se misturavam itens sofisticados a um mobiliário retrô que fazia lembrar um boteco dos anos sessenta.
Enfim, não havia dúvidas de que haviam escolhido um local perfeito para ficar. Já no recinto, sentam-se a uma mesa onde uma música ambiente dava o tom perfeito a um cenário requintado para poucos olhos. Logo transformam o canto do bar em bebidas, fumo e gargalhadas.
Com o passar das horas, a mesa foi se enchendo de garrafas vazias que iam se misturando à fumaça dos cigarros tragados. Estavam esgotados. Enfim, sem mais palavras para jogar fora, pedem a conta.
Trocando os passos, voltam às ruas em alta madrugada, onde a névoa rasteira e a escuridão dos becos estreitos formava um cenário sombrio típico. Andando cada vez mais rápido, começam a trocar as gozações mútuas pelo silêncio do medo.
Enfim, conseguem chegar ao hotel onde estavam e um dos amigos exclama:
– “Nunca vi tanta assombração na minha vida. Melhor seria ficar com as boas companhias do bar.”
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A crença da existência de lugares assombrados tem fundamento. Alguns espíritos, ainda sob a influência da matéria, podem se ligar a alguns lugares pelos motivos mais variados e, conforme o caso, até exercerem alguma influência sobre os encarnados (1).
Mas em alguns casos, a imaginação pode também ser incentivada pela imagem tétrica de certos lugares, levando alguém a crer que ali realmente existam fantasmas (2).
Quantas vezes entramos em ambientes vazios e nada percebemos ou nenhum medo sentimos? Por outro lado, pessoas há que nem entram em certos lugares.
As aparências podem enganar.
Voltando à crônica, as ruas supostamente assombradas poderiam até contar com a presença de transeuntes desencarnados. Mas não necessariamente estaria assombrada. Ou seja, com espíritos dedicados a perturbar alguém.
Por sua vez, o bar, nas condições citadas, emanando fluidos de bebida e cigarro, mais provavelmente poderia ser considerado um local efetivamente assombrado. Espíritos ainda ligados aos vícios terrenos podem sintonizar com tais fluidos e com as formas pensamento dos encarnados que estão no lugar, levando a processos obsessivos e até a vampirização dos frequentadores.
Fantasmas (como alguns ainda chamam) podem existir, sim. Alguns em nossa imaginação; outros, por vontade própria; ou ainda, pela nossa sintonia com a qual os atraímos.
Só não podemos esquecer que, sendo fantasmas ou não, são irmãos nossos que partiram deste plano material e ainda continuam entre nós, vendo-nos e acotovelando-nos de contínuo (3).
Procurando levar nossos corações pelos caminhos da caridade e do amor sempre contaremos com fantasminhas bons ao nosso lado, independente do lugar onde vamos estar.
(1) KARDEC, A. Revista Espírita. 1859
(2) KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. 81a ed. Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira, 2013a
(3) KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 93a ed. Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira, 2013b