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sexta-feira 22 novembro 2024
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Coluna Espírita – As questões políticas (partidárias) eram coibidas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas

• Jorge Hessen – Brasília/DF
Para nós, os espíritas, não há e nem deve haver “representantes oficiais” do Espiritismo em qualquer setor da política partidária seja em âmbito municipal, distrital, estadual ou federal. Até porque o Espiritismo não estimula o engajamento em ideias e políticas partidárias. Não deve colocar sua tribuna a serviço da propaganda política de candidatos, de partidos ou de movimentos políticos. Isso deveria ser tema pacífico entre os espíritas.
Há os que dizem que o problema não é de como o espírita entra na política partidária, mas de como dela sai. Cremos que o espírita, se estiver vinculado a alguma agremiação político-partidária, se deseja concorrer como candidato a cargo eletivo, tem incondicional liberdade de ação, mas que aja bem longe dos recintos espíritas, para que tudo que fizer ou disser, dentro da Instituição Espírita, não venha a ter uma conotação de atitude de camuflada intenção, mirando atrair os votos de seus confrades.
Quando da fundação da SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS, criada em 1º de abril de 1858, o Estatuto que foi aprovado registra no Capítulo I- Objetivo e Formação da Sociedade, no seu art. 1º, o seguinte – “A Sociedade tem por objeto o estudo etc.”… e remata tal artigo com a seguinte ADVERTÊNCIA: “As questões POLÍTICAS [partidárias], de controvérsia religiosa e de economia social nela são interditas”. (Grifei)
É inadmissível trazer para as hostes dos Centros ou Instituições Espíritas as querelas da política partidária, embora, como cidadão, cada espírita tenha a liberdade de militar no universo fragmentado das ideologias políticas. Mas o Espiritismo não é fragmento da política partidária, e nem tampouco envolve-se com grupos políticos sectários, que utilizam meios incoerentes com os fins de poder.
A política do legítimo espírita é a favor do ser humano e de seu crescimento espiritual. Não se submete e não se omite diante do poder político, e nem tampouco assume o lugar de oposição ou de situação. Elucida Emmanuel que “o discípulo sincero do Evangelho não necessita respirar o clima da política administrativa do mundo para cumprir o ministério que lhe é cometido. O Governador da Terra, entre nós, para atender aos objetivos da política do amor, representou, antes de tudo, os interesses de Deus junto do coração humano, sem necessidade de portarias e decretos, respeitáveis, embora”. (1)
A rigor, “iniciados na luz da Revelação Nova, os espiritistas cristãos possuem patrimônios de entendimento muito acima da compreensão normal dos homens encarnados”. (2) Por isso mesmo, sabem à saciedade que “a missão da doutrina é consolar e instruir, em Jesus, para que todos mobilizem as suas possibilidades divinas no caminho da vida. Trocá-la por um lugar no banquete dos Estados é inverter o valor dos ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras em face da necessidade de renovação de todas as fórmulas do homem na lei do progresso universal”. (3)
Se o mundo gira em função de políticas econômicas, administrativas e sociais, não há como tolerar militância política dentro das hostes espíritas. Os Benfeitores espirituais nos advertem que não se sustentam as teses simplistas de que só com a nossa participação efetiva nos processos políticos ao nosso alcance ajudaremos a melhorar o mundo. Recordemos que Jesus cogitou muito da melhora da criatura em si. Não nos consta que Ele tivesse aberto qualquer processo político-partidário contra o poder constituído à época. Nossa conduta apolítica não deve ser encarada como conformismo. Pelo contrário, essa atitude é sinonímia de paciência operosa, que trabalha sempre para melhorar as situações e cooperar com aqueles que recebem a responsabilidade da administração de nossos interesses públicos.
É importante lembrarmos que, nas pequeninas concessões, vamos descaracterizando o projeto da Terceira Revelação. Por isso mesmo urge que façamos uma profunda distinção entre Espiritismo e Política. Somos políticos desde que nascemos e vivemos em sociedade. Isso é real, porém a Doutrina Espírita não poderá, jamais, ser veículo de especulação das ambições pessoais, nesse campo.
Pela transformação do comportamento individual, lutando pelo ideal do bem, em nome do Evangelho, os espíritas não estão alheios à Política; engana-se quem pensa o contrário. Os espíritas honestos, fiéis à família, aos compromissos morais, são integralmente cidadãos ativos que exercem o direito e/ou obrigação (depende do ponto de vista) de votar, porém sem vínculos com as querelas e questiúnculas partidárias.
O Espiritismo não pactua com irrelevantes e transitórios interesses terrenos. Estamos investidos de compromisso mais imediato, ao invés de mergulharmos no mundo da política saturada por equívocos lamentáveis.
Referências bibliográficas:
(1) XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999, cap. 59.
(2) idem, cap. 60.
(3) XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1984, pergunta 60.