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domingo 22 dezembro 2024
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Coluna Espírita As lenhas e o sofrimento

• Maria Lúcia Garbini Gonçalves – Porto Alegre/RS
Fomos passar as férias em família em El Calafate, pequena cidade turística da Patagônia, na Argentina. Em um dos passeios, subindo montanha à cima, avistamos muitas árvores de troncos claros e meio retorcidos, cercadas por muitos troncos da mesma espécie ao solo. O guia turístico contou-nos que antigamente as famílias cortavam as árvores para usá-las para lenha, o que era muito necessário devido ao frio da região. Porém, notaram que as árvores estavam ficando fracas e a mata diminuindo, então resolveram somente usar os troncos caídos no solo. Mesmo assim, elas continuavam enfraquecendo e morrendo, diminuindo a mata. Foi quando decidiram contratar um especialista para estudar o que estava acontecendo com elas. Descobriram que para que as árvores que nasciam tivessem força para crescer, as outras mais velhas se sacrificavam, pois a região é desértica e elas tinham um ciclo fechado, que não permitia o aumento da mata. Quem acha que as árvores não têm um certo nível de consciência engana-se? A natureza realmente nos surpreende.
Poucos de nós, humanos, daríamos nossa vida pelo bem comum. É uma atitude de extremo entendimento e altruísmo digna de um espírito mais iluminado. Os nossos sofrimentos são ainda em nível de Provas e de Expiações compulsórias. Como ensina-nos Joana de Ângelis, em “Plenitude” (1), o sofrimento é um dos caminhos para a nossa saúde, que “é via de redenção espiritual”… “A sua presença vige, enquanto se faz necessária a depuração. As únicas exceções se apresentam nos quadros de iluminação coletiva, quando os missionários do bem e do amor mergulham nas sombras do mundo, a fim de clareá-las com os seus exemplos. Não mais lhes sendo necessárias as dores físicas e morais, elegem-nas ou aceitam-nas como holocaustos espontâneos, a fim de ensinarem coragem, abnegação e sacrifício aos que estão na retaguarda, comprometidos com a ignorância e a ilusão, a rebeldia e a violência, o egoísmo e a negação do dever, todos eles geradores de sofrimentos, de enfermidades e dores.”
As lenhas da Patagônia, tal qual os missionários do bem, nos ensinam que todos somos conectados, dependentes uns dos outros e que o sofrimento é necessário para a nossa própria saúde.
Sabemos que muitos cristãos foram mortos, dentre eles, Joana de Ângelis – Joana de Cusa, nos tempos de Cristo -, e ficaram conhecidos por seus atos heroicos de mártires. Todos eles ajudaram a formar uma nova consciência espiritual no planeta.
Mas nós, humanos medianos, viemos para polir as nossas arestas rústicas e animalescas. Viemos também “nos matar”, como as lenhas Patagônicas, mas não no sentido de suicídio, mas de matar a nossa ignorância, a nossa ilusão, a nossa rebeldia, a nossa violência, o nosso egoísmo e a nossa negação do dever, entre outras imperfeições. A cada “morte” interna, daremos um passo para a paz interior e para a paz no mundo. A psicosfera ao nosso redor melhora, e por consequência, a vida fica mais leve.
Joana acrescenta “Jesus sintetizou no amor a força poderosa para a anulação das causas infelizes do sofrimento e para a sua compensação pelo bem.”
O sacrifício das lenhas é uma espécie de amor entre as árvores, um sofrimento que vale a pena pela preservação de toda a mata.
Continuaremos a subir a longa escada da vida, vencendo os degraus do autoconhecimento, do autoamor, da caridade, da humildade, e outras virtudes mais, até que um dia venceremos o sofrimento, até que o amor tenha nos fortalecido ao ponto que a dor do corpo físico não é mais importante que a causa do bem na Terra. Tal qual o nosso Irmão Maior, Jesus, que morreu na cruz por nós, e talvez as lenhas da Patagônia quisessem fazer o mesmo, quem sabe?
Referência:
(1) FRANCO, Divaldo Pereira. Plenitude, ditado pelo espírito Joanna de Ângelis. Capítulo 8: Caminhos para a Saúde.