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quarta-feira 5 fevereiro 2025
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Coluna Espírita – Arte e poesia no Espiritismo

• Mário Frigéri – Campinas/SP
A poesia e as artes, em suas múltiplas expressões, possuem papel fundamental no Espiritismo ao servirem como pontes entre o humano e o espiritual superior. Por meio da sensibilidade estética, as artes nos elevam a um plano mais sutil de percepção, onde o belo se torna veículo de reflexão e inspiração mais sublimada. A poesia, em especial, traduz sentimentos profundos e universais, criando uma linguagem simbólica que nos conecta ao infinito. Essa transcendência artística está em sintonia com a essência do Espiritismo, que busca despertar a alma para realidades superiores e cultivar o ideal do progresso moral e intelectual.
No contexto da Doutrina Espírita, as artes promovem a educação dos sentimentos e ajudam na sublimação das emoções. Uma pintura tocante, uma bela melodia ou um poema inspirado são capazes de operar verdadeiras transformações interiores, amainando as tempestades da alma e favorecendo o cultivo da virtude. Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, destaca a excelência de se desenvolver as qualidades morais, e a arte, ao sensibilizar o coração humano, torna-se grande aliada nesse processo. É por meio dela que muitas vezes conseguimos acessar as verdades espirituais de forma intuitiva e universal.
A mediunidade artística, frequentemente abordada nas obras espíritas, ilustra a contribuição direta dos Espíritos superiores para a criação de obras de arte que edificam e consolam. Poemas psicografados, músicas inspiradas, pinturas e esculturas mediúnicas são exemplos de como as esferas espirituais influenciam nossa cultura terrena. Essas manifestações revelam que a arte se projeta além da mera técnica e se torna instrumento de conexão entre os mundos físico e espiritual, reforçando os ideais de beleza, harmonia e fraternidade que o Espiritismo busca disseminar.
As artes, portanto, incluindo a poesia, cumprem o papel de universalizar a mensagem espírita, atingindo corações que talvez resistam à abordagem puramente racional. Por meio delas, a mensagem de amor, solidariedade e imortalidade da alma alcança pessoas de diferentes culturas e crenças, plantando sementes de transformação. Assim, o Espiritismo, ao valorizar a arte como expressão sublime do espírito humano, promove uma visão integral da vida, onde razão e emoção, ciência e beleza caminham juntas na construção de um mundo melhor.
O poeta, ao transformar a prosa de um grande escritor em poema, realiza a tarefa de transmutar a essência de uma ideia em nova forma de beleza, acrescentando ritmo, musicalidade e simbolismo que ampliam a sua ressonância emocional. Ele se torna um alquimista das palavras, captando o espírito da mensagem original e apresentando-a em uma dimensão artística que toca o coração de maneira mais intuitiva e profunda.
Foi o que procuramos fazer com a página “O pêndulo da vida”, escrita por Vinícius e constante de seu livro Em torno do Mestre, publicado pela FEB:

O Pêndulo da Vida
Dormem os olhos, dormem os ouvidos,
Dormem o olfato e todos os sentidos.

Dormem também o cérebro, a razão;
Dormem a língua, o canto, a exclamação.

Dormem prazer e dor como criança,
A lágrima, o riso e a esperança.

Só o coração não pode repousar,
Pulsando dia e noite sem parar!

Marcando sempre, batida a batida,
O ritmo isócrono da Vida!

Existem para todos noite e dia,
Sono e vigília, em suave harmonia.

Mas para o coração só está presente
O Sol no zênite, perpétuo e quente!

Tudo adormece, exceto o coração,
Santuário do Amor e do Perdão.

É o pêndulo da Vida e da Bondade,
Sempre a oscilar por toda a Eternidade!