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terça-feira 24 dezembro 2024
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Coluna Espírita – Arma, para que te quero!?

• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
Considerável parcela da população brasileira assiste estarrecida a consolidação de proposta direcionada a armar o cidadão para que este, por não contar com a segurança adequada que deveria ser proporcionada pelas instituições responsáveis, defenda-se por si mesmo a qualquer preço dos muitos perigos rondando o cotidiano, mesmo à custa da morte do agressor.
Ventos estranhos sopram neste início do século XXI na Terra do Cruzeiro.
Há uma expectativa imensa da humanidade por uma convivência mais pacífica considerando a existência de tantas guerras e conflitos registradas em nossa história, e de tantos atritos ainda hoje existentes entre nações com o potencial de levar à destruição total do planeta Terra.
A história não consegue registrar um período sem que ao menos duas nações ou civilizações estivessem digladiando-se, por motivos torpes, alguns mesmo banais, agravando sobremaneira o quadro imenso de dívidas morais para os seus fomentadores e participantes, consequentemente, sedimentando o terreno para futuras e atrozes expiações para os envolvidos, considerando esta parcela da Humanidade Universal.
Quando teremos um pouco de paz, perguntamo-nos apreensivos?
Acordar e saber que podemos seguir as nossas vidas sem nos preocuparmos com as bombas atômicas, os mísseis balísticos, as armas futuristas que dispensam a presença física dos soldados no seu manuseio, pois são teleguiadas. Os arsenais militares aumentam a cada dia, a indústria bélica se robustece incorporando estoques de armamentos de todos os tipos, são cada vez maiores os percentuais de recursos financeiros alocados para o armamento e a suposta defesa das nações, já se fala no retorno da guerra fria quando a humanidade vivia sob o pavor de ser aniquilada instantaneamente após o pressionar de apenas alguns botões, do leste e do oeste.
E neste cenário belicoso da atualidade, como se não bastasse tanta violência e insensatez, tamanho desregramento moral e ético, somos obrigados a conviver com mais uma corrida às armas, não por países do hemisfério norte, muito menos por nações do oriente, mas, pasmem, dentro das fronteiras da nossa própria pátria, em uma busca desenfreada e absurda para tentar garantir a paz e segurança tão desejadas.
Seria isto mesmo? Estaríamos vivendo um pesadelo, um sonho ruim, uma indisposição momentânea? Infelizmente não, é a pura realidade!
As armas batem às nossas portas com insistência, divulgadas e encaminhadas por administradores despreparados, ignorantes e imprudentes, contudo, há muitas razões para não receber estas visitantes indesejadas. Entre tantas considerações sobre esta despropositada proposta, destacamos algumas para nossa reflexão:
• Não compro uma arma visto que não quero fazer ao próximo o que não gostaria que me fosse feito, princípio basilar da boa convivência em sociedade apresentado há milênios.
• É extremamente perigoso manter uma arma em casa, uma criança pode encontrá-la e um fim trágico pode suceder.
• Alguns diriam ainda bem que não possuem dinheiro. Sim, pois a proposta é para os ricos, os abastados, os pobres jamais poderão comprar legalmente uma arma. Seria este um indicativo de que os ricos são os que instintivamente mais temem os perigos da sociedade desarvorada em que vivemos em função de seus muitos “pecados”, por isto desejam armar-se? Neste particular caso ainda é preciso ajuizar: mesmo possuindo o valor necessário para a aquisição de uma arma, jamais deveríamos fazê-lo.
• Outros sabiamente diriam: Não quero fazer justiça com as próprias mãos, pois creio não existir o acaso no ordenamento divino, cabendo a Deus e as leis humanas a aplicação das penas ou punições cabíveis.
• Uns mais ilustrados nos princípios espíritas poderiam asseverar: espero nesta vida não matar mais ninguém, tendo em conta que no passado muitos já tiramos a vida de outros tantos.
• Sou cristão e Jesus jamais recomendaria a ninguém armar-se para defender-se, recordemos a lição dada a Pedro: “quem com a espada fere com a espada será ferido”.
Se perguntássemos aos espíritas se gostariam de se armar para supostamente garantir a paz e a segurança própria e de seus familiares, a grande maioria certamente diria não, porquanto conhecem a advertência de André Luiz1: Esquivar-se do uso de armas homicidas, bem como do hábito de menosprezar o tempo com defesas pessoais, seja qual for o processo em que se exprimam. O servidor fiel da Doutrina possui, na consciência tranquila, a fortaleza inatacável.
Sim! A consciência tranquila é a nossa base, o nosso esteio de tranquilidade, o baluarte maior, a fonte inesgotável de paz, mas, a paz do Cristo. Se nada tememos interiormente, nada precisamos recear oriundo do exterior.
Desta forma, não façamos apologia ao armamento da população, muito pelo contrário, lembremos sempre do Cristo nestas horas incertas, o nosso modelo e guia, exemplo maior de pacificação, cordura e misericórdia, além disso, Deus não deseja a morte do pecador, mas sim do pecado.
Não se combate violência com violência, pois violência gera sempre mais violência!
1 VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André Luiz. 32. ed. 6. imp. Brasília: FEB, 2015. cap. 18 – Perante nós mesmos.