• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
Olhando pela janela de casa, ao alvorecer de mais um dia, observei um grupo de cinco adolescentes, todos vestidos de preto – tudo indica ser a cor do momento -, conversando com alegria e andando rapidamente em direção à inauguração de nova escola, que abria suas portas no primeiro dia letivo de mais um ano escolar.
Qual não foi a minha vontade de entrar na mente de cada um deles para conhecer seus sonhos, suas metas, seus ideais, suas expectativas. Cabeças, certamente, fervilhando diante de tantas esperanças, características da juventude, de Espíritos recém-chegados à Terra para cumprir mais uma etapa de aprendizado e evolução.
Contudo, observando detidamente aquele grupo refleti como é preocupante a situação da juventude em nosso país. Confesso que um pouco de tristeza invadiu a minha alma.
Lembrei da conhecida máxima de que os jovens são o futuro! Bradam todos, inclusive os espíritas, entretanto, refleti que se muitos agora não possuem as condições adequadas para se tornarem amanhã bons cidadãos, como esperar que promovam as mudanças tão necessárias nos costumes e leis da nossa sociedade materialista, preconceituosa, misógina, homofóbica, armamentista, racista, antiecológica…?
Todo cidadão precisa ter oportunidades de estudo e trabalho, não esquecendo a tão necessária saúde, de modo a viver dignamente, mas como alcançarão esta condição se a sociedade egoísta e utilitarista privilegia os poucos que conseguiram, alguns a duras penas, penetrar no sistema?
É quase revoltante observar as classes dominantes se embriagarem com o supérfluo, em relação aos bens de consumo, detendo as melhores possibilidades de instrução e lazer, enquanto massas incalculáveis se digladiam para obter apenas o mínimo imprescindível para sua subsistência.
E para piorar, já está sobejamente comprovado que o sistema econômico regendo este mundo, basicamente materialista, é concentrador de renda, e, curiosamente, apenas os detentores destes provisórios bens do Criador em abundância é que descreem desta realidade.
Não se consegue trilhar um caminho seguro sem apoio daqueles já amadurecidos na escola da vida e, para piorar, muitos ainda acusam os jovens de irresponsabilidade e inutilidade.
O que fazer meu Deus!?
Como o jovem vai suportar esta conjuntura de quase abandono que lhe relegam as elites dominantes que insistem em se alegrar com o uso de bens de altíssimo custo, esbanjando a falsa alegria em face de tantos sofrimentos?
Sem saída – a curto e médio prazo -, muitos, infelizmente, com extremo pesar, se encaminham resolutos rumo à injustificável porta de escape representada pelo suicídio, como estamos testemunhando nos dias modernos, realidade prevista, ainda no século XIX por Allan Kardec.
As estatísticas não mentem: o número de suicídios entre os jovens está aumentando e, aqueles que deveriam se preocupar com este triste indicador, providenciando medidas concretas para estancar estes infelizes índices, em muitos casos, nada mais fazem do que apenas lamentar e noticiar, prosseguindo em suas vidas de luxo e supérfluos:
Cerca de mil crianças e adolescentes, na faixa etária entre 10 e 19 anos de idade, cometem suicídio no Brasil a cada ano, de acordo com a série histórica levantada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) entre 2012 e 2021. O dado se baseia em registros do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.1
Abandonando a vida por meio deste tortuoso caminho, criam dificuldades futuras de grande expressão, pois a maioria desconhece que continuará vivo, entretanto, com os problemas agravados, pedindo solução e reparo em próximas reencarnações, sob condições piores daquelas que os fizeram desesperar e desistir da ingrata existência.
Focalizando, particularmente, o ambiente espírita, o quadro também se apresenta preocupante, pois as cabeças encanecidas predominam nos salões, e, os jovens, a eterna promessa, pouco participam das atividades.
De modo geral, não há renovação no quadro de trabalhadores em uma instituição espírita. Sem as seguras explicações doutrinárias sobre a continuidade da vida, a juventude permanece desconhecendo a proposta renovadora e alentadora do Espiritismo, um significativo freio moral para o cometimento do suicídio.
É comum sugerir aos jovens que não desanimem, contudo, é o que se pode e se deve mais uma vez lembrar. Busquem com ardor seus objetivos, não desertem de seus compromissos, não se intimidem pelas barreiras construídas aos seus avanços por uma sociedade ainda tão injusta, tal qual a nossa.
REFERÊNCIA:
1 https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2023-09/brasil-registra-1000-suicidios-de-criancas-e-adolescentes-por-ano – Acesso em: 06/01/2024.