• Maroísa Baio – Limeira/SP
Em sua correspondência regular, chegavam a Kardec mensagens mediúnicas obtidas em grupos de diversas localidades. Seus autores davam a ele a liberdade de dispor delas como bem entendesse, com a esperança de vê-las publicadas na Revista Espírita. Ele tinha em mãos mais de 3.600 mensagens para serem analisadas, por isso, considerou melhor algumas reflexões em torno da qualidade das mesmas:
“Em grande número encontra-mo-las notoriamente más, no fundo e na forma, evidente produto de Espíritos ignorantes, obsessores ou mistificadores e que juram pelos nomes mais ou menos pomposos que as assinam. Publicá-las teria sido dar armas à crítica. Circunstância digna de nota é que a quase totalidade das comunicações dessa categoria emana de indivíduos isolados e não de grupos. Só a fascinação poderia levá-los a ser tomados a sério, e impedir se visse o lado ridículo. Como se sabe, o isolamento favorece a fascinação, ao passo que as reuniões encontram controle na pluralidade das opiniões.”
Para sua alegria, a maioria delas encerrava bons pensamentos e excelentes conselhos mas, disso não se seguiria que todas fossem boas para publicação, e expõe os motivos que o levavam a tal cuidado:
“Para apreciar as comunicações, relativamente à publicidade, não podem ser vistas de seu ponto de vista, mas do público. Compreendemos a satisfação que se experimenta ao obter algo de bom, sobretudo quando se começa; mas além de que certas pessoas podem ter ilusões relativamente ao mérito intrínseco, não se pensa que há centenas de outros lugares onde se obtém coisas semelhantes; e o que é de poderoso interesse individual pode ser banalidade para a massa.”
Ele não pretendia desencorajar a publicação das mensagens, mas mostrar que a escolha rigorosa é necessária pois as comunicações mediúnicas haviam aumentado em número e qualidade e os espíritas eram mais numerosos e esclarecidos:
“Para começar, convém delas afastar tudo quanto, sendo de interesse privado, só interessa àquele que lhe concerne. Depois, tudo quanto é vulgar no estilo e nas ideias, ou pueril pelo assunto. Uma coisa pode ser excelente em si mesma, muito boa para servir de instrução pessoal; mas o que deve ser entregue ao público, exige condições especiais.”
Foi com tais critérios que, das 3.600 comunicações, ele encontrou 3.000 com boa qualidade e com excelente fundo; mas dessas, havia somente 300 para publicidade e destas, apenas 100 com um mérito incontestável.
Adverte também que os bons escritores espirituais são raros; que um determinado Espírito pode ser apto a dar uma boa comunicação isolada ou um excelente conselho em particular, mas é incapaz de produzir um trabalho completo que suporte um exame, sejam quais forem suas pretensões ou o nome atrás do qual se proteja.
“Publicando comunicações dignas de interesse, faz-se uma coisa útil. Publicando as que são fracas, insignificantes ou más, faz-se mais mal do que bem. Uma consideração não menos importante é a oportunidade. Umas há cuja publicação é intempestiva e, por isso, prejudicial. Cada coisa deve vir a seu tempo. Várias delas que nos são dirigidas estão neste caso e, posto que muito boas, devem ser adiadas.”
Kardec também alerta para o seguinte fato: se o Espírito ¬ficar insistindo na publicação de seus escritos, é sinal evidente de obsessão por parte do médium, que pode iludir-se com uma possível notoriedade. Estejamos, portanto, atentos a essas orientações, pois elas oferecem equilíbrio e segurança no exercício da mediunidade!
Coluna Espírita – Análise das comunicações mediúnicas
mar 19, 2020RedaçãoColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em Coluna Espírita – Análise das comunicações mediúnicasLike
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