• Maria Lúcia Garbini Gonçalves – Porto Alegre/RS
Por que é tão difícil a evolução moral para nós?
Joanna de Ângelis (1) nos ensina que:
“O inconsciente comanda o eu consciente através de automatismos muito bem elaborados durante todo o percurso socioantropológico, permanecendo mais na área do instinto primário repetitivo do que no racional lúcido, bem delineado. Os automatismos do inconsciente funcionam de tal forma, que se faz necessário racionalizar os atos, a fim de adquirir consciência da própria realidade, em processo do pleno autodescobrimento.”
Temos construído o nosso jeito de agir e reagir diante das situações da vida, boas ou más, há muitas reencarnações, e sabemos que para criar um hábito basta repetir muitas vezes a ação até que ela fique automática, ou seja, nem precisamos mais pensar para executá-la. E para largar esse hábito, há que se ter inicialmente uma genuína vontade de mudar. Isso nos leva às duas questões de O Livro dos Espíritos: 919, que diz que o meio mais eficaz para melhorarmos é seguir o ditado milenar “conhece-te a ti mesmo”, e 909, que poderemos vencer as nossas más tendências, mas com esforço fruto de uma firme vontade. Então quando iremos aprender? Quando quisermos, quando a vontade usar a razão para conter os nossos velhos e ultrapassados impulsos sombrios. Note-se que para racionalizarmos os atos, conforme Joanna, precisamos de conhecimento para a lucidez das ideias. Assim construiremos a nossa casa sobre a rocha. E seguindo essa rota, o fardo é mais leve, logo, mais fácil, não difícil.
No momento em que descobrimos algum deslize conosco mesmo e tentamos mudar, o amor venceu. Por exemplo, se estamos muito agressivos no trânsito, precisamos ser pacientes e educados, então esse esforço de autoamor se refletirá no próximo, que não receberá a carga de nossas energias deletérias, e pela Lei da ação e reação, geramos uma gotinha de paz em nós mesmos e no nosso meio. Foi difícil? Não!
Quando mudamos para melhor, o benefício é também aos que convivem conosco. É um momento em que calamos o nosso ego em favor ao outro, e isso é caridade para todos.
Luz é feita para brilhar. Quanto mais nos conhecemos, mais luz ilumina a nossa sombra.
“Sem o egocentrismo perturbador, o indivíduo descobre quanto lhe é significativa a existência, investindo, em cada momento, de forma agradável e compensadora, esforços de autossuperação, que se transformam em fonte geradora de felicidade. O sentimento de autoestima desabrocha, dando início a sentimentos de alta magnitude, graças aos quais surgem estímulos para amar ao próximo, permitir-lhe perceber a realidade em que se encontra, suas glórias e deficiências, os horizontes da vera fraternidade e dos relacionamentos edificantes responsáveis por uma sociedade realmente harmônica.”
Quando Joana refere-se a perceber as nossas próprias deficiências, não disse martirizar-se e aumentar a carga de culpas, mas acolher a nossa sombra com harmonia e autoperdão, reconhecendo nossas falhas, mas iluminando-a com o amor em ação.
Paulo de Tarso, quando na estrada de Damasco para assassinar o cristão Ananias, tentando deter a disseminação do cristianismo, depara-se com Jesus que lhe pergunta o porquê de sua perseguição. Ao sentir em todo seu ser a vibração de amor indescritível do Mestre, Paulo, que então era chamado de Saulo, compreendeu tudo e ao invés de martirizar-se culpando-se, pergunta: “Senhor, que quereis que eu faça?” e aceitou a primeira missão dada por Jesus: ir à cidade indicada, partindo logo para a ação. A luz em Paulo já ensaiava seus primeiros raios, ofuscando o sentimento equivocado que tinha sobre Jesus. Ele deu-se conta que o que ele julgava errado estava absolutamente certo, e esse conhecimento abriu um novo caminho na sua vida.
A vida nos ensina na hora certa as lições que precisamos, mas precisamos estar abertos ao novo, buscar saber cada vez mais sobre nós mesmo, sobretudo para que esse conhecimento nos ajude a esculpir um ser humano mais fraterno e caridoso.
Então, nada de lutar contra nós mesmos, sofrer com autojulgamentos. A ideia é aceitar e acolher a nossa sombra, aceitar-se como um ser imperfeito, mas passível de evolução, com o potencial de fazer brilhar a nossa luz com o nosso esforço em desenvolver as nossas virtudes, seguindo os passos do Mestre, que é o ser mais perfeito que encarnou neste planeta.
Referência:
(1) FRANCO, Divaldo Pereira. O Despertar do Espírito – pelo espírito Joanna de Ângelis. Cap.: Encontro com a Harmonia, subtítulo: O Ser humano perante si mesmo.