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sábado 23 novembro 2024
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Coluna Espírita – Abusos de poder, de autoridade ou quaisquer outros

• Orson Peter Carrara – Matão/SP
Não se assuste o leitor com o momento complexo da atualidade, dentro e fora do Brasil. Abusos e explorações de todo gênero continuam a ocorrer, escancarando nossas necessidades que gritam aos nossos próprios ouvidos e deixam à mostra nossa mediocridade moral.
A justiça humana, sempre falha e adaptável a variados interesses, tem progresso muito lento e abre sempre brechas para fraudes, equívocos e atendimento de interesses egoístas.
A Justiça Divina, todavia, perfeita, imutável e agindo sem cessar, coloca cada um de nós no seu devido lugar, no tempo certo, ensinando-nos a respeitar a vida.
Busque-se a clareza de três questões de O Livro dos Espíritos, para percepção dessa sábia grandeza que dirige a vida e nos conduz aos aprendizados que todos precisamos assimilar.
Valemo-nos de apenas três delas, embora o assunto nunca se esgote. Pela clareza, transcrevemos na íntegra. A última selecionada é de uma expressão impressionante para as ocorrências em curso. Acompanhe, trazendo o assunto à nossa realidade atual:
273. Será possível que um homem de raça civilizada reencarne, por expiação, numa raça de selvagens?
“É; mas depende do gênero da expiação. Um senhor que tenha sido de grande crueldade para os seus escravos poderá, por sua vez, tornar-se escravo e sofrer os maus tratos que infligiu a seus semelhantes. Um, que em certa época exerceu o mando, pode, em nova existência, ter que obedecer aos que se curvaram ante a sua vontade. Ser-lhe-á isso uma expiação, se ele abusou do seu poder, e Deus poderia impô-la a ele. Também um Espírito bom pode querer encarnar no seio de povos selvagens, ocupando posição influente, para fazê-los progredir. Em tal caso, desempenha uma missão.”
684. Que se deve pensar dos que abusam de sua autoridade, impondo a seus inferiores excessivo trabalho?
“Isso é uma das piores ações. Todo aquele que tem o poder de mandar é responsável pelo excesso de trabalho que imponha a seus inferiores, porquanto, assim fazendo, transgride a lei de Deus.”
807: Que se deve pensar dos que abusam da superioridade de suas posições sociais, para, em proveito próprio, oprimir os fracos?
“Merecem anátema! Ai deles! Serão, a seu turno, oprimidos: renascerão numa existência em que terão de sofrer tudo o que tiverem feito sofrer aos outros.”
Estudando, todavia, a questão 807, no livro Religião dos Espíritos (Chico/Emmanuel, edição FEB), o autor espiritual amplia a questão com exemplos impressionantes que não deixam dúvidas para quem aprofunde o assunto.

Transcrevo na íntegra o capítulo 26 – Na Terra e no Além. A mensagem foi transmitida na reunião pública de 13 de abril de 1959.
Interessado em desfrutar vantagens transitórias no imediatismo da existência terrestre, quase sempre o homem aspira à galhardia de apresentação e a porte distinto, elegância e domínio, no quadro social em que se expressa; entretanto, conduzido à Esfera Superior, pela influência renovadora da morte, identifica as próprias deficiências, na tela dos compromissos inconfessáveis a que se junge, e implora da Providência Divina determinados favores na reencarnação, que envolvem, de perto, o suspirado aprimoramento para a Vida Maior.
É assim que cientistas famosos, a emergirem da crueldade, rogam encarceramento na idiotia; políticos hábeis, que abusaram das coletividades a que deviam proteção e defesa, suplicam inibições cerebrais que os recolham a precioso ostracismo; administradores dos bens públicos que não hesitaram em esvaziar os cofres do povo, a favor da economia particular, solicitam raciocínio obtuso que lhes entrave a sagacidade para o furto aparentemente legal; criminosos que brandiram armas contra os semelhantes requisitam braços mutilados, assinando aflitivas sentenças contra si mesmos; suicidas que menosprezaram as concessões do Senhor, atendendo a deploráveis caprichos, recorrem a organismos quebrados ou violentados no berço, para repararem as faltas cometidas contra si mesmos; tribunos da desordem pedem os embaraços da gaguez; artistas que se aviltaram, arrastando emoções alheias às monstruosidades da sombra, invocam a internação na cegueira física; caluniadores eminentes, que não vacilaram no insulto ao próximo, requerem o martírio silencioso dos surdos-mudos; desportistas eméritos e bailarinos de prol, que envileceram os dons recebidos da Natureza, exoram nervos doentes e glândulas deficitárias que os segreguem a distância de novas quedas morais; traidores que expuseram corações respeitáveis, no pelourinho da injúria, demandam a própria detenção no catre dos paralíticos; mulheres que desertaram da excelsa missão feminina, a se prostituírem na preguiça e na delinquência, solicitam moléstias ocultas que lhes impeçam a expansão do sentimento enfermiço, e expoentes da beleza e da graça que corromperam a perfeição corpórea, convertendo-a em motivo para transgressões lamentáveis, requestam longos estágios em quadros penfigosos que lhes desfigurem a forma, de modo a expiarem nas chagas da presença inquietante as culpas ominosas que lhes agoniam os pensamentos…
Ajudai-vos, assim, buscando no auxílio constante aos outros o pagamento facilitado das dívidas do pretérito, porquanto, amanhã, sereis na Espiritualidade as consciências que hoje somos, abertas à fiscalização da Verdade, com a obrigação de conhecer em nós mesmos a ulceração da treva e a carência da luz.
Nada mais a acrescentar, senão sugerir ao leitor reler as questões acima e situá-las no presente momento histórico da Humanidade.