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quarta-feira 11 dezembro 2024
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Coluna Espírita – A questão é de conceito e não de preconceito

• Rogério Miguez
A conduta religiosa primitiva surgiu naturalmente no seio da humanidade, como uma forma salutar e segura de se ligar o homem a Deus. A centelha divina cumpriu o seu papel de fazer florescer no íntimo dos Espíritos esta busca instintiva e incessante pelo próprio Criador.
Na medida do desenvolvimento e do aperfeiçoamento do homem, ganhando experiências e conhecimentos, tornando a vida mais elaborada e complexa, este foi também modificando aquelas práticas rudimentares naturais e quase intuitivas, por rotinas mais sofisticadas, criando aqui e ali procedimentos formais para promover esta reaproximação com Deus.
Uns ingênuos, outros maldosos, alguns mesmo sinceros, com o passar do tempo, criaram estruturas elaboradas para aprisionar o homem em sua crença, fazendo-o crer ser a sofisticação e a complexidade das práticas formas de melhor agradar a Deus.
Quando Jesus reencarna na Terra, de modo simples, direto e de forma cristalina, fez recuperar aquele sentimento nato em todos nós da existência do Deus Amor, ensinando e exemplificando sobre a impossibilidade da divindade se deixar influenciar por práticas religiosas esdrúxulas e complicadas.
Entretanto, a humanidade, avançando ainda, foi criando mais e mais formalismos religiosos, esquecendo pouco a pouco a singeleza do Mestre, cultuando o Deus Ouro e a Deusa Prata.
O século XIX se apresentou radiante e esperançoso, surgindo outra proposta de religação entre criatura e Criador, contudo, para ficar conosco eternamente, sem um autor, sem personificação, um conjunto de ideias abrangente sem possuir um “dono”: A Doutrina dos Espíritos.
E o Espiritismo se materializa como uma proposta pura, sem máculas, sem formalismos, sem dogmas, sem subterfúgios, sem privilegiados, em uma clara tentativa de recuperar mais uma vez, agora de forma definitiva, aquela religiosidade primitiva única a agradar a Deus.
Entretanto, apesar desta nova dádiva de Deus, é constante a intromissão daqueles desejosos do antigo domínio sobre as mentes pelo maravilhoso, insistindo em sugerir rotinas estranhas e sem qualquer fundamento, em uma tentativa clara de conquistar pelas aparências e não pelos sentimentos a humanidade tão carente de simplicidade, cansada de tanta pompa e desvios de toda a ordem nos Templos dos tempos modernos.
Religiosos de diversas correntes: uns ingênuos, outros maldosos, alguns mesmo sinceros, obstinam-se em propor novidades a esta última revelação de Deus, repetindo a antiga e surrada tentativa de recuperar os formalismos que tanto nos agradaram e deslumbraram no passado.
Ao proporem as suas práticas ultrapassadas, encontram adeptos no Espiritismo já avisados e prevenidos desta semeadura deturpada, não se alinhando de modo algum com suas novas ideias, muito pelo contrário, resistem às intromissões indesejadas, até quanto podem, às vezes com sucesso, outras vezes em vão.
Tudo indica ser comum este conflito entre aqueles desejosos de permanecer adeptos a uma proposta religiosa simples, ausente de: hierarquia, vestimentas especiais, práticas complexas, dogmas, cantos particulares, formalismos de toda ordem, locais santos, terminologias e palavreado específicos e já plenamente superados, incensos, velas, passes esdrúxulos, e aqueles ainda prisioneiros do maravilhoso e de propostas geralmente sem qualquer fundamento, atrelados que se encontram aos formalismos e vestuários especialíssimos, com seus símbolos e artefatos mágicos, como se qualquer destes, em qualquer época, pudesse ter agregado um ponto, por menor que seja, na escala evolutiva do praticante, ou fazê-lo melhor entender as leis da vida promovendo a sua melhora íntima.
Nestas horas de embate argumentativo, sempre salutar e recomendado, é comum os defensores da Doutrina dos Espíritos sejam taxados de fanáticos, puristas, arcaicos, ortodoxos, e finalmente preconceituosos, em uma tentativa vã de colocá-los em posição frágil, pois a sociedade moderna busca, e o mesmo faz a Doutrina dos Espíritos há bom tempo, varrer do horizonte todas as condutas e propostas preconcebidas. Acredita-se assim agirem os “puristas” por despeito, ou por possuírem entendimento obtuso, temerosos que seriam do moderno, sendo ainda inaptos a perceber o quanto a Doutrina estaria defasada do homem hodierno, afirmam.
Todo espírita deveria conhecer uma literatura básica intitulada: O Espiritismo e as Doutrina Espiritualistas1, esclarecendo com muita propriedade e com extrema lógica quais são as diferenças existentes entre a Doutrina espírita e o: Umbandismo; Crenças Orientais; Igrejas Reformadas; e mesmo o pensamento católico, entre outros. Em uma abordagem direta, lúcida e sem outras intenções, com o fim de apenas demonstrar a distinção entre as propostas, discorrendo honestamente sobre as Religiões, especificando simplesmente o que é, e o que não é Espiritismo. Escrito pelo nobre Deolindo Amorim, é um marco, indispensável a todo aquele desejoso de sinceramente entender os aspectos das propostas religiosas do momento e do passado. Meditemos profundamente sobre as lições deste livro, de modo a não mais acatar nenhuma ideia absurda contrária àquelas apresentadas pela Doutrina.
Ensinam os precisos e preciosos conceitos da Doutrina, e o fazem de forma magistral e absoluta, a vigilância contra o preconceito, lição fundamental para conduzir a vida em harmonia e respeito a todos, independente do credo, idade, orientação sexual e raça. Todavia, respeito não é conivência, e não devemos aceitar, sob pena de respondermos à justiça maior, esta desatenção, descambando para a leniência em muitos casos. Quando a sugestão ou a proposta surgir de macular a Doutrina, não nos calemos diante daqueles que, insinuantes, nada mais desejam além de obter poder e destaque no âmago do povo. Ao surgirem levantando bandeiras com dizeres sobre a extemporaneidade do Espiritismo, digamos não, e não os aceitemos!
1 AMORIM, Deolindo. O espiritismo e as doutrinas espiritualistas. 4.ed. Rio de Janeiro: CELD Editora, 1989.