• Leda Maria Flaborea – São Paulo/SP
Uma característica de Jesus era a exaltação das qualidades das pessoas, incentivando-as a buscarem o reino interior: “Vós sois o sal da terra”…; “Vós sois a luz do mundo”…; “Resplandeça a vossa luz diante dos homens”…; “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus”…
Jesus ensinava a redenção e o amor. Conquistava a todos com sua personalidade radiante. Ele cativava, atraía. Despertava cada um para a realidade espiritual que existe em cada ser, pela condição divina de filhos de Deus que todos temos. Destacava as qualidades superiores e estimulava para a ação no bem e para a vivência em nível superior. Por essa razão, fez o convite para sermos perfeitos, como Deus o é. Mas é importante lembrarmos que essa perfeição é relativa e representa a soma de virtudes como:
– a tolerância para com todos, mas principalmente para com aqueles que convivem conosco;
– a indulgência, que é a aceitação do outro como ele é, sem querer mudá-lo;
– o devotamento, que se traduz na ajuda ao próximo, mesmo com sacrifícios pessoais;
– e tantas outras virtudes que nos levam a pensar primeiro no outro e depois em nós.
Tudo isso representa a essência da perfeição. Como ainda não conseguimos entender o significado moral dos Seus ensinamentos, Jesus nos propôs um modelo que nos permite essa compreensão: apresentou o Pai como síntese absoluta da perfeição, inalcançável para nós, porque o Espírito jamais poderá igualar-se ao seu Criador. Essa busca sugere, portanto, a transformação moral, que é possível de ser conquistada, apesar das nossas atuais imperfeições.
Vamos pensar um pouco sobre isso:
1 – O homem é um ser criado para viver em sociedade, porque somente no contato com o outro é que ele tem a oportunidade de evoluir. Nessa troca, podemos aprender, ensinar, ajudar e sermos ajudados. O próprio Jesus mostra essa verdade, quando pediu a Deus que ajudasse seus discípulos, após a sua partida, sem, contudo, afastá-los do mundo. E que de outra forma poderiam levar os conhecimentos que o Mestre trazia, se não fosse em contato com as pessoas? Mesmo pessoas virtuosas necessitam viver com os outros e como os outros, não importando se são bons ou maus, amigos ou inimigos.
É importante sabermos que Deus nos criou para ajudá-Lo na transformação deste mundo, a partir da nossa própria transformação íntima, com trabalho e alegria pelas oportunidades que nos são oferecidas todos os dias.
2 – Então, se precisamos dos outros para evoluir, o amor ao próximo é um dos caminhos para essa realização. O que podemos entender por amar ao próximo? Companheirismo, solidariedade no sofrimento e na alegria, amizade nas situações embaraçosas, capacidade de perdoar, produzindo uma vinculação afetiva capaz de suportar os atritos e os conflitos de cada qual.
Esse é um amor diferente daquele que oferecemos aos desafetos. E o que podemos oferecer a eles? O bem em troca do mal; a oração para que encontrem a mesma paz que buscamos; não nos alegrarmos com seus fracassos; enfim, ajudá-los mesmo que não saibam. E isso é bom? É, pois estamos sendo tolerantes e tendo compaixão por aqueles que não nos querem bem e que ainda não compreendemos.
3 – Mesmo já tendo aprendido esses ensinamentos, precisamos, agora, colocá-los em prática: por exemplo, transmitindo, pelas nossas atitudes, aos que nos cercam, a grandeza dos ensinos de Jesus, porque nos transformamos nos novos semeadores das suas palavras.
E como fazer isso? Em primeiro lugar, acreditando na capacidade que cada um de nós tem de se modificar e, com isso, modificando o que estiver ao seu redor; depois, não desistindo de ensinar, através do exemplo, a quem ainda não consegue aprender, levando esperança, fé e amor, mesmo que seja a corações envoltos em sentimentos infelizes.
Talvez as palavras não os toquem, mas os exemplos, sim.
É importante lembrarmos que, em qualquer tempo e em qualquer lugar, onde existir um coração aflito e uma mente em desalinho, as lições do Mestre Jesus ali estarão como o pão que mata a fome, como a água que alivia a sede, como o remédio que cura todos os males do Espírito, nas palavras de Emmanuel.
4 – Um outro ponto sobre o qual podemos refletir diz respeito às oportunidades de trabalho de que dispomos no presente, levando em conta as que perdemos no passado para não cairmos nos mesmos enganos. Mas, antes de mergulharmos na aceitação das novas tarefas, seria bom examinarmos, com cuidado, se já compreendemos os nossos próprios deveres, ou seja, deveres morais para conosco, para com os que estão ao nosso redor e para com o meio no qual estamos vivendo e progredindo.
Temos uma conta corrente com as Leis Divinas e é certo que não nos convém ficarmos em débito com ela. Necessitamos estar atentos às dificuldades que temos na execução desses deveres, porque eles se acham em antagonismo com os nossos desejos e nossos interesses pessoais. E temos dificuldades em cumpri-los, porque estamos entregues ao nosso livre-arbítrio, ao direito que temos de escolher entre o certo e o errado, entre o fazer e não fazer.
E a luta torna-se grande, porque nossa consciência nos adverte que estamos no caminho errado e nos estimula a decidir pelo bem. O dever é sempre estimulado pela consciência e não pelas regras sociais. E quem ganha essa luta? Por causa do nosso grau evolutivo, quase sempre são os interesses pessoais, os caprichos, os desejos, enfim, o egoísmo, as regras sociais. O importante é não desistirmos de nós próprios, porque somos capazes de nos modificar: somos luzes, somos filhos de Deus. Somos capazes, sim, de nos transformar, alterando, também, para melhor o meio em que vivemos. Já temos algum conhecimento dos ensinamentos de Jesus e não podemos mais esperar para fazer o que deve ser feito. Mãos à obra, então!
KARDEC, Allan – O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. XVII