• Ricardo Orestes Forni – Tupã/SP
Todos os homens desejam a paz. Ou pelo menos a maioria, porque viver sem paz é muito difícil. Por isso mesmo buscamos por essa paz em vários tipos de religiões. Quem é que gosta de perder a paz devido a uma doença grave? Ou, até mesmo, por uma simples dor de dente? Quem é que gosta de perder a paz por um atrito grave junto ao marido ou a esposa, se o lar deve ser o lugar de repouso das lutas do dia a dia? Quem é que gosta de perder a paz em virtude de um filho que se desencaminhe apesar das orientações que procuramos passar a ele? Quem é que gosta de perder a paz devido a uma dificuldade financeira séria? Quem é que gosta de perder a paz devido à morte de um familiar querido? Quem é que gosta de perder a paz porque ficou desempregado? Podemos afirmar que ninguém, não é mesmo? Pois então! Por isso afirmamos que as pessoas procuram nas religiões um meio de retornarem à paz. Uns vão ao Centro Espírita em busca da saúde que ficou temporariamente perdida. Outros, em virtude da paz do lar que se fez ausente. Outros, ainda, por um filho ou uma filha que se desencaminhou pela vida. Enfim, buscamos o auxílio para retornar à tranquilidade que tínhamos e que perdemos por um dos motivos que a vida se nos apresenta.
Mas que tipo de paz buscamos? A da ausência de problemas, de dificuldades, sejam elas quais forem? Queremos, por assim dizer, um oásis na Terra? Uma viagem de turismo com tudo pago em hotel cinco estrelas? É isso que significa para nós a paz?
Vejamos o que nos ensinou nosso Modelo e Guia, Jesus, como nos definem o Mestre e os Espíritos superiores. Em João, 14:27, encontramos: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá”.
Observamos bem? Mas bem mesmo? Jesus nos deixa e nos dá a paz Dele, não a paz conforme os padrões do mundo! Se não entendermos essa afirmação do Mestre, poderemos nos decepcionar. Emmanuel, no livro A Semente de Mostarda, psicografia de Chico Xavier, nos traz uma página sobre a paz do Cristo. Vamos relembrá-la:
“PAZ
Quem diz ‘paz em nome do Cristo’, nem sempre observa que a paz, na maioria das vezes, nasce de perigosas situações.
Pensemos em Jesus nas últimas horas do convívio com as criaturas humanas. Preso na véspera do Supremo Sacrifício, trazia o Espírito preocupado ante a deserção dos discípulos; é conduzido ao cárcere onde sofre agressões e vexames; passa a noite injuriado e açoitado pelos agentes do Sinédrio; é vestido pelos próprios verdugos, de modo que a multidão não lhe veja as feridas que eles próprios lhe abriram no transcurso da noite; é duramente humilhado na casa de Antipas; volta ao julgamento, e Pilatos, perante o público que o cobria de impropérios, coloca-o inferior a Barrabás, o criminoso; é obrigado a carregar a cruz do suplício e, quase cambaleando, ao peso do lenho, após depô-lo no chão, foi nele cruelmente crucificado.
Esse mesmo Cristo é que volta das sombras do túmulo e fala aos amigos envergonhados:
–‘A minha paz vos dou…’
Quem estiver esperando a paz, e especialmente a paz de Cristo, recorde o preço da paz obtida por ele, o Divino Mestre e Senhor, e acabará reconhecendo que a paz, muitas vezes, vem até nós, mas através das mais dolorosas e difíceis situações”.
É que a paz de Jesus é a paz interior da consciência pacificada pelo dever cumprido. Ele mesmo passou por tudo o que os homens lançaram covardemente sobre a sua pessoa, para dar cumprimento ao compromisso que tinha assumido perante Deus. Exatamente por isso é bastante claro e enfático ao afirmar que nos deixava a paz, não como o mundo a entende. Não é a paz de uma vida sem problemas, sem dificuldades, pois é na superação dessas dificuldades, desses obstáculos, que se encontra a paz do Mestre. É na luta interior para não reclamar, não se revoltar nos momentos difíceis, nas horas das provas ou expiações, que nos tornamos incluídos no Sermão da Montanha, quando ele afirmou que os sofredores seriam consolados. Os sofredores que souberem – como o Cristo o fez sem nada dever – sofrer as dores que semearam em seu próprio caminho, ou as solicitaram da Providência Divina para o devido aprendizado, é que encontrarão o consolo.
Essa é a paz que a Doutrina Espírita pode auxiliar o necessitado a encontrar nos momentos de dificuldades maiores. A paz de Jesus é a tranquilidade absoluta, interior, enquanto tudo está mal fora do indivíduo. A paz do mundo existe em ambiente contrário. Está fora da pessoa. Mesmo com toda a tranquilidade exterior, por dentro não existe a paz. Se, por acaso, você busca a paz do mundo, percorrerá toda uma existência iludido, pensando tê-la encontrado. Só descobrirá o grande engano quando retornar ao mundo espiritual, como arrendatário da vida física, a prestar as contas ao Senhor da Vida daquilo que fez enquanto no uniforme do corpo físico.
Qual é a paz que você busca, afinal?