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segunda-feira 25 novembro 2024
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Coluna Espírita – A Páscoa na visão Espírita

• Márcio Martins da Silva Costa – São José dos Campos/SP
No decorrer destes dias muitos estarão envolvidos em atividades voltadas para o período de Páscoa. A tradição milenar destes festejos remonta muitos séculos antes da época de Cristo em comemoração à libertação dos judeus da escravidão egípcia e da consolidação de sua nação livre. Desta forma, o Espiritismo, respeitando os demais credos e sem se opor aqueles que desejam participar de suas tradições, não celebra a Páscoa, limitando-se a rememorar os marcantes fatos históricos ocorridos no mesmo período em que o Divino Mestre caminhava entre nós.
Na sexta-feira, denominada de sexta-feira da Paixão, lembramo-nos dos momentos derradeiros de Jesus, sendo conduzido pela imperfeição humana aos sofrimentos do calvário. Para os Espíritas, esta é uma fase entenebrecida de nossa história. Sem justa causa, levamos a extremos sofrimentos e dor aquele que durante toda a sua vida somente veio plantar o amor e a caridade entre nós.
No Capítulo XV do Evangelho de Marcos, em seus versículos 25 e 33, registram-se os possíveis horários em que a grande tragédia teria ocorrido. Depois de ser entregue aos açoitamentos violentos, às 15h teria ocorrido a crucificação do Mestre. Às 16h a Terra teria sido tomada pelas trevas visíveis aos nossos olhos, permanecendo assim por três horas seguidas até o último suspiro do Cristo. Mais do que a penumbra material, possivelmente a psicosfera daquele momento deveria retratar a penumbra moral em que se revestia a humanidade. Envolvidas nas sombras da incúria, vibrações desequilibradas da multidão certamente entrelaçavam tênues fios obscuros entre as almas daqueles que somente pensavam na condenação do inocente. O dia se encerrava na indiferença de muitos, no despertar de alguns e na dor de poucos.
Na manhã do sábado costuma-se “malhar o Judas”. Mas a consciência do delator certamente não precisaria de tal cerimonial. Uma das maiores dores que podemos sentir em nossas almas é a do ressentimento pelos atos errados que conduzimos. De acordo com a questão número 255 de O Livro dos Espíritos, a natureza do sofrimento de um espírito reside nas angústias morais. Estas corroem muito mais a todos nós do que quaisquer sofrimentos físicos. Se a dor impressa na alma pelos erros que cometemos com o nosso próximo pode nos levar a séculos de angústia, o que pensar da dor de ter traído aquele que representava a expressão encarnada do amor?
Na manhã de domingo a Páscoa celebra-se a ressurreição de Jesus. Para o Espiritismo marca um momento de amenização das dores e a comprovação da elevação do Divino Mestre. Voltando em corpo espiritual Jesus exemplificou a todos a continuidade da vida após a morte. Sua leve ascensão e glória diante de felizes testemunhas comprovava a imortalidade da alma. Logo, o domingo nos traz um momento de júbilo após a tempestade.
Dentre os conceitos que a Páscoa nos traz encontramos o da transformação. Do velho para o novo, da dor para a esperança, a transformação que se faz necessária a cada dia independente de estarmos na Páscoa ou não. Relembrando a expressão de Kardec “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações”, busquemos, espíritas ou não, a nossa transformação moral para que sejamos dignos dos continuados esforços do Mestre Jesus em nos direcionar para o caminho do amor, da paz e da luz.

Referências:
Campos, Humberto de (Espírito), Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Boa Nova. Federação Espírita Brasileira, FEB, 2013.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 4ª ed. Brasília: FEB, 1997.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 116 ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1999.
Evangelho de Marcos. Capítulo XV.