• Cláudio Bueno da Silva – Osasco/SP
Alguns ensinos de Jesus soam estranhos aos nossos ouvidos. Um exemplo: “Se alguém te ferir na tua face direita, oferece-lhe também a outra” ¹. Aquele que já recebeu um golpe no rosto deve aceitar com naturalidade um novo insulto?
Jesus se valia das circunstâncias da vida social para tirar lições que pudessem chegar ao espírito dos que o ouviam. Evidente que esse pensamento, como todos os outros que emitiu, tem um fundo exclusivamente moral.
Qual é a essência desse ensinamento? Conforme análise de Allan Kardec n’O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XII, aquele que for agredido, usurpado nos seus direitos, material ou moralmente, não deve revidar, “dar o troco”, vingar-se.
Sugerindo uma atitude pacífica, Jesus não proibiu o direito de defesa a quem se sinta ofendido, o que seria um despropósito. Teríamos então um comportamento masoquista se o indivíduo lesado uma vez se permitisse continuar a sê-lo.
O princípio de autodefesa, além de ser um direito, é um recurso sustentado pelo instinto natural de conservação, através do qual zelamos pela nossa integridade física e moral contra qualquer tipo de agressão.
Por outro lado, esse princípio de autodefesa não dá motivo ao prejudicado de impor ao outro o mesmo prejuízo, de violar os seus direitos, de “fazer justiça com as próprias mãos”.
Mas há aqueles que ainda pensam como os homens do tempo de Moisés (3.500 anos atrás), em que o “olho por olho, dente por dente” era lei. São os orgulhosos, de exagerado personalismo, cheios de preconceito, que acham que “levar desaforo pra casa” é desonra, aceitar a sugestão evangélica é ser covarde. Eles estão longe de compreender que é melhor suportar um insulto do que revidá-lo.
Quando se suporta o insulto, a injustiça, a perseguição sem revide ou vingança, se está fortalecendo o coração com o exercício da humildade, numa visão pacífica de situações adversas que muitas vezes não se tem como modificar ou alterar. Há nessa atitude aparentemente passiva de não revidar a essência da caridade e uma grande coragem moral. Do ponto de vista espiritual, não revidar já é uma defesa.
A vingança alimenta o ódio, nos igualando ao agressor, nos enredando a ele, fazendo arrastar um conflito, uma desavença por muito tempo, nessa vida ou “fora dela”.
“Jesus não proibiu a defesa, mas condenou a vingança”, reflete Allan Kardec. “Oferecer a outra face”, por extensão, significa não retribuir o mal com o mal, e que é preferível ser ofendido, injustiçado, perseguido, arruinado, que ser a causa do infortúnio de alguém.
¹ Mateus, V: 38-42.
Coluna Espírita – A outra face
fev 15, 2024RedaçãoColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em Coluna Espírita – A outra faceLike
Previous PostGPS - O Menino do Dedo Verde
Next Post“Crônicas e Contos do Escritor” - E acabou a festa profana!