• Maria Lúcia Garbini Gonçalves – Porto Alegre/RS
O egoísmo é a negação da caridade. Ora, sem a caridade não haverá descanso para a sociedade humana. Digo mais: não haverá segurança. Com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira em que vencerá o mais esperto, uma luta de interesses, em que se calçarão aos pés as mais santas afeições, em que nem sequer os sagrados laços da família merecerão respeito. (E.S.E, cap.11, item 11)
Vivemos num planeta onde as pessoas não têm mais segurança. Nossas casas precisam de grades para nos proteger dos arrombamentos, os carros precisam ser blindados, câmeras de segurança abundam nas cidades, a internet cheia de notícias falsas e falsos profetas, o medo nas ruas é rotina. Muito pior que isso ainda, existem as guerras (1), em plena era tecnológica, enquanto a ciência que tanto avançou já está enviando sondas para explorar o Cosmos. Estamos vivenciando exatamente o que esse trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo nos mostra, num mundo inseguro fruto da negação da caridade.
Na maravilhosa obra Sublime Sementeira – Evangelização Espírita Infantojuvenil, que foi compilada pela Federação Espírita para uso de evangelizadores, encontramos no capítulo intitulado Renovação pela Educação, ditado pelo espírito Vinícius, na obra O Mestre na Educação, aspectos muito interessantes, vejamos:
Procurando a causa de tão inominável insânia que vem, através dos séculos e milênios, mantendo a Humanidade nesse estado de demência coletiva, vamos encontrá-la na educação unilateral, ou seja, na monocultura da inteligência com menosprezo do sentimento. (2)
A sociedade atual tem criado adultos egocêntricos cujo objetivo maior é ser rico e realizar todos os seus desejos, nem que tenha que prejudicar o outro. A competição é incentivada desde a idade escolar. O próprio vestibular já é uma competição para o jovem entrar na faculdade, que marginaliza mais os que não tiveram acesso a uma educação melhor. O mais inteligente vence, o mais rico, vence, o pobre fica marginalizado, com heroicas exceções.
Já ensinou o inigualável Educador de Nazaré que só há um pecado e uma virtude: esse pecado é o egoísmo e essa virtude é o amor. O mais, tudo, seja na esfera do mal, seja na esfera do bem, são efeitos que daqueles dois elementos decorrerem.
O egoísmo tem suas raízes mergulhadas nas profundezas do nosso passado, requerendo por isso grande soma de esforços a sua erradicação. Nada obstante, os homens porfiam em acoroçoá-lo, de vez que a inteligência, muito amanhada, sem o controle do sentimento, fornece ambiente e terreno propício à sua expansão cada vez mais acentuada. (2)
O verbo “porfiar” tem um significado bíblico (3) que significa uma briga que acontece quando as pessoas são teimosas e insistem em ganhar a discussão, não dando o braço a torcer. Daí originam-se guerras e desentendimentos que estamos vendo. Hoje até temos o Brasil dividido por razões políticas, que ainda causam separações entre famílias e amigos. Tudo por orgulho, egoísmo de querer ter mais razão que o outro. E os poderosos carismáticos, que dominam as massas, querem ter cada vez mais poder, pois os sentimentos estão congelados por valores materialistas e os menos avisados caem em suas armadilhas.
Quando o egoísmo chega aos níveis que estamos presenciando hoje na nossa maltratada nave Terra, com o seu equilíbrio abalado pela nossa ambição desmedida, parece que não temos mais solução, mas, muita calma nesta hora, tudo isso é esperado numa transição para um planeta de Regeneração que estamos vivenciando.
Vejamos no Livro dos Espíritos, a questão 784, Kardec pergunta: A perversidade do homem é bastante intensa, e não parece que ele está recuando, em lugar de avançar, pelo menos no ponto de vista moral?
Ao que os espíritos respondem que se observarmos bem, estamos avançando, pois acabamos por compreender bem o que é o mal e no dia a dia vamos nos corrigindo e observam: É preciso que haja excesso do mal, para fazer-lhe compreender as necessidades do bem e das reformas.
Esse compreender bem o que é o mal é a chave de questão. Quando o sofrimento chega em nós, pois o mal chegou ao seu ápice, é o ponto em que nossos sentimentos farão a ponte para a nossa evolução. Vejamos um exemplo de um alcoólatra que num momento de sobriedade compreende tudo o que ele está causando na sua vida e de seus familiares e decide tratar-se. É o momento do “basta, não posso mais andar por esse caminho”.
Mas, vamos ficar otimistas, porque muitos de nós já sentimos o valor do amor no nosso dia a dia. O bem está avançando, novas almas estão reencarnando para formar o exército da salvação, da segurança, que há de renovar tudo aqui. Cada coração deve criar a paz em si, iluminando as sombras do egoísmo interior, para somarem-se às forças que precisamos para a virada para a luz. Está em nós aderir à nova frequência que vibrará, que é a do amor. Quando fugimos da reforma íntima, optando pela porta larga das paixões humanas, estamos aderindo a uma frequência antiga e ultrapassada que não estará mais em harmonia com este planeta, e então seremos naturalmente atraídos para reencarnar em um outro planeta mais parecido com o que somos.
Inspiremo-nos nas seguintes palavras do inolvidável Apóstolo dos Gentios: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vossa mente, para que saibas qual é a boa perfeita vontade de Deus. (2)
Um dia todos nós saberemos que fora da caridade não há salvação, ou segurança.
Referências:
(1) Guerras ativas no mundo, segundo a CNN – https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/guerras-no-mundo-quantos-conflitos-estao-ativos-neste-momento/;
(2) FEB, DIJ. Sublime Sementeira, capítulo: Mensagens de Vinícios, subcapítulo: Renovação pela Educação;
(3) https://www.respostas.com.br/o-que-e-porfia/#:~:text=A%20porfia%20%C3%A9%20uma%20briga,lutar%20para%20atingir%20um%20objetivo.