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quinta-feira 28 novembro 2024
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Coluna Espírita – A importância da indulgência

• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
“Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”1 Quando Allan Kardec, já quase ao final da parte terceira de O livro dos Espíritos, abordou temas referentes à Justiça, Amor e Caridade, de modo a melhor compreender esta tríade de destacados assuntos, elaborou uma pergunta direta, é a questão anteriormente transcrita.
O primeiro destaque em relação à pergunta é o fato de Allan Kardec ter perguntado aos Espíritos a opinião de Jesus sobre o tema caridade. Por qual razão não perguntou genericamente: Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade? Como devemos praticar a caridade? Como Deus entende a caridade? O que é caridade segundo as leis de Deus? São muitas opções, mas o Educador de Lion se interessou particularmente pela visão específica de Jesus, como se esta representasse uma orientação de destaque sobre o tema.
A surpresa da resposta, foi quando os Espíritos, quem sabe o próprio Jesus, desconhecemos quem ditou a resposta, citou apenas modalidades da caridade moral ou imaterial, para bem expressá-la, àquela não dependendo de bens objetivos, mas apenas de tesouros subjetivos, plenamente se realizando pelo exercício das conhecidas virtudes.
É fato ter o dileto discípulo de Pestalozzi, mais à frente, por outras indagações, explorado especificamente a posição da famosa esmola, a mais direta, talvez a mais fácil forma de se praticar a caridade. Em sentido mais abrangente podendo representar qualquer doação material a necessitados, seja o que for: cobertor, moeda, sopa, remédio…
Contudo, naquele momento, quando se construía a pedra fundamental do Espiritismo – O livro dos Espíritos -, a caridade moral, tudo indica, aparentemente foi designada como a mais relevante, importante e meritória. Afinal, é o entendimento de Jesus, embora tenhamos plena consciência da temática caridade ter sido explorada de mil formas, descrevendo incontáveis facetas, ao longo dos compêndios espíritas.
Destaca-se também da resposta o fato dos Espíritos terem apontado exatamente estas três, entre tantas possibilidades: Benevolência, Indulgência e Perdão, como virtudes mais representativas da prática da caridade, especificamente moral.
Da percepção comum, benevolência expressa a qualidade de alguém que é benevolente, quer dizer, é afetuoso, age com estima em relação ao próximo. Pode significar também demonstrar bondade, ou mesmo boa vontade. Ou seja, se expressa caridade por esta virtude, através de atitudes simples, no trato com os outros, sendo igualmente compreensivo e tolerante.
A propósito, quando perguntaram a Chico Xavier em que matéria Emmanuel era mais exigente, o médium mineiro afirmou: No trato com os outros2.
Reflitamos agora ligeiramente sobre a indulgência. Característica de quem é indulgente, isto significa ter facilidade em perdoar faltas alheias. Intimamente vinculada à clemência, tolerância e perdão, que são atitudes ligadas à absolvição de outrem sobre castigos e punições. Interessante notar que do latim indulgentia, que provém de indulgeo, tem o significado de para ser gentil ou perdão de uma pena. Desta forma, indulgência está intimamente ligada à benevolência e ao perdão.
A terceira indicação de Jesus seria perdoar. Liberar alguém de uma culpa, ofensa, dívida, sendo fundamental não guardar ressentimentos, rancor, raiva. É de se notar que pode ser aplicada a si mesmo, da mesma forma que a indulgência, visto que podemos também nos auto perdoar.
Desta despretensiosa análise das sugestões do Cristo, ou da interpretação do pensamento de Jesus, pelos Espíritos superiores responsáveis pela resposta, observa-se que a segunda recomendação possui uma fronteira com a primeira quando se imagina o ser gentil como uma atitude indulgente, de igual modo, também possui uma interface com a terceira, no que tange ao ato de perdoar, é a essência da indulgência.
Sendo assim, poderíamos destacar entre as três, a indulgência, pois se exercitada na sua plenitude, poderia abranger as outras duas.
Entretanto, como nos é difícil viver a indulgência!
Eis aí um desafio, para os aprendizes das leis eternas do Pai, valendo a pena lembrar que ser indulgente não significa ser conivente, entendimento obtuso desta prática que comumente alcança os espíritas, acreditando que por conta de serem indulgentes devem: tudo tolerar, tudo aceitar, tudo permitir, principalmente nas atividades dentro das casas espíritas, por conta deste equivocado entendimento, vemos desvios doutrinários, na prática e na teoria, sendo exercitados nas agremiações espíritas.
Não somos juízes da conduta alheia, tampouco censores do entendimento do próximo, contudo, há que existir bom senso, equilíbrio, não permitindo que o movimento espírita, através de suas unidades praticantes, os centros, deem exemplos lamentáveis aos que nos procuram em busca de orientação de fato espírita, desorientando-os em função de entendimentos particulares de seus dirigentes.

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Parte terceira – Da lei de justiça, de amor e de caridade – Capítulo XI. q. 886
2 BARBOSA, Elias. No mundo de Chico Xavier. Encontro com Chico Xavier. cap.5. q. 14