Search
sexta-feira 8 novembro 2024
  • :
  • :

Coluna Espírita – A coragem necessária

• Ricardo Orestes Forni – Tupã/SP
“A coragem é valor moral para enfrentar a luta e perseverar nela, nunca a abandonando sob qualquer pretexto. O esforço contínuo permite o prosseguimento da ação, que realiza o programa estabelecido.” – Joanna de Ângelis.
Quando jovem fui acostumado a programas de televisão de conteúdo cultural de relativa profundidade. Depois de velho, movido pela esperança de reencontrá-los, percorro canais aleatoriamente. Num determinado dia, vi uma reportagem sobre uma família muito pobre, dessas que representam bem a tristeza de muitos brasileiros que não vivem nem com o mínimo necessário para uma vida decente. Constituía-se ela no casal e quatro filhos. Os últimos, gêmeos do mesmo sexo, dois meninos fortes e bonitos. “Apenas” um detalhe: siameses! Exatamente. Dois meninos unidos pelo ventre. Irão ser submetidos a uma cirurgia para verificar a possibilidade de separá-los, caso tenham órgãos que permitam ser separados em número e extensão suficientes. Mas, francamente falando, não foram as crianças nessa situação o que me chamou a atenção. Foi a resignação da mãe que, ainda jovem, cuidava daqueles dois meninos como se fossem seu maior tesouro, o que, sob o ponto de vista espiritual, são mesmo!
Só a Justiça Divina pode saber qual é o drama anterior que prepara quitação numa situação dessas! Reputo como falta de caridade e excesso de autoridade ficar levantando hipóteses diante de um fato que só nos cabe auxiliar na medida em que podemos. A mãe abraçava com extremo carinho as duas crianças que precisam ser pegas ao mesmo tempo no colo, já que estão unidas pelo ventre em comum. E essa mãe jovem acabava sempre por encontrar uma colocação adequada dos filhos em seu colo. Era admirável vê-la fazendo a mudança de posição das crianças unidas pelo ventre para poder alimentá-las no seio. Muitas vezes escorava-se a jovem mãe em uma parede para obter o devido apoio e alavancar as crianças contra o seu peito devido ao peso apresentado pelos dois meninos siameses.
A casa em que moravam o casal e esses quatro filhos tinha um cômodo só, dividido entre as funções de cozinha, quarto e banheiro. Ficava numa ladeira com muitos degraus para chegar até à rua, o que a mãe realizava com grande esforço devido ao peso que tinha que carregar representado pelos dois filhos siameses. Quando foi informada que muitas doações estavam chegando diante da dificuldade que ela e o marido enfrentavam, ela respondeu muito alegre que já tinham alugado uma casa bem maior: de dois cômodos! Para essa mulher os dois cômodos representavam essa dimensão, embora não os tivesse. Outra causa de alegria muito grande para essa heroína foi ganhar um presente que ela desejava muito: uma máquina de lavar roupas! Com ela, disporia de mais tempo para os dois meninos.

E o outro presente ganho que representou a realização de um dos seus sonhos era uma visita ao zoológico da cidade. Nunca tinha estado em nenhum lugar desses!
Esse casal e essas crianças preencheram meu Espírito com os ensinamentos de Joanna de Ângelis enunciado acima: a coragem é o valor moral para enfrentar a luta e perseverar nela, nunca a abandonando sob qualquer pretexto. Ao mesmo tempo lembrei-me das palavras de Emmanuel na página intitulada Não te impacientes: “A Paternidade Divina é amor e justiça para todas as criaturas. Quando os problemas do mundo te afogueiam a alma, não abras o coração à impaciência, que ela é capaz de arruinar-te a confiança. Quantos perderam as melhores oportunidades da reencarnação, unicamente por se haverem abraçado com o desespero! A impaciência é comparável à força negativa que, muitas vezes, inclina o enfermo para a morte, justamente no dia em que o organismo entra em recuperação para a cura. Aguarda o melhor da vida, oferecendo à vida o melhor que puderes. Quem trabalha pode contar com o tempo. Se a crise sobrevém na obra a que te consagras, pede a Deus não apenas te abençoe a realização em andamento, mas também a força precisa para que saibas compreender e servir, suportar e esperar”.
Na questão de número 715 de O Livro dos Espíritos, Kardec indaga como pode o homem conhecer o limite do necessário. E a resposta nos ensina que o sábio o conhece por intuição e muitos o conhecem por experiência e às suas custas. Penso que o casal que a reportagem apresentou para todo nosso país, está sendo preparado para ser o sábio de amanhã. Hoje conhece duramente por experiência e às suas custas não importando os motivos que o isso o levou. Nas futuras reencarnações, conhecerá pela intuição das lições gravadas na atual existência.
Tudo isso sabemos através dos ensinamentos do Espiritismo, o que torna o seguinte alerta válido: nossa conduta na atual reencarnação revela que somos sábios ou candidatos às experiências dolorosas do aprendizado que a Vida traz conforme nossas necessidades e rebeldias perante a Lei?