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quinta-feira 21 novembro 2024
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Coluna de Cinema – Os Novos Mutantes

Depois de muita burocracia corporativa, vem chegando aos cinemas brasileiros, na medida em que a reabertura nos permite, o último filme da franquia dos X-Men antes da compra da Fox pela Disney. Declarado como ação, terror e ficção científica, os gêneros até combinam com a áurea de lenda urbana adquirida pelo longa, já que o primeiro trailer foi lançado em 2017, antes de passar por inúmeras mudanças de data de estreia. Uma vez que estávamos desacreditados, finalmente tudo virou realidade. O que talvez seja uma pena.

A expectativa é inimiga de qualquer realidade, mas principalmente quando a realidade não colabora. Essa é a maior sensação ao assistir Os Novos Mutantes, já que após anos de adiamentos, refilmagens e troca de cabeças pensantes por trás da produção, a curiosidade pairava sobre o resultado que seria entregue pela Disney. Resultado, porém, que se mostra bem aquém do terror psicológico pintado nos trailers, que prometia um frescor à franquia. Mantendo os protagonistas dentro de uma espécie de hospital para tratarem seus poderes e aprenderem a controla-los, o enredo poderia seguir por alguns cominhos interessantes na exploração dos traumas que cada um carrega, bem como flertou com essa possibilidade. A opção pelo rápido desenrolar da trama, porém, deixou de lado qualquer profundidade que as histórias poderiam ter, se atentando a dar foco na personagem Dani (Blu Hunt), que faz a trama acontecer.

Com um conceito bem intimista e econômico, a produção carece tanto de personagens e desenvolvimento que desafia a suspensão de descrença do público ao mostrar que os jovens super poderosos são mantidos encarcerados por uma única pessoa. Doutora Reyes, vivida pela brasileira Alice Braga, é a responsável não só por mantê-los presos, mas também impor respeito e extrair cooperação. Tal situação fica extremamente superficial ao passo que o roteiro deixa de explorar qualquer motivação crível que nos faça acreditar que os mutantes são forçados ou convencidos a permanecerem daquela forma.

Ainda assim, os jovens personagens são o ponto mais interessante do longa. A relação entre Dani e Rahne (Maisie Williams) se cria rapidamente, porém de forma natural e compreensível. Com uma duração também econômica, o filme não tem tempo de mostrar tanto quanto gostaríamos de saber sobre todos os mutantes. O brasileiro Roberto da Costa (Henry Zaga), por exemplo, tem seu trauma pincelado com uma das cenas mais legais, visualmente, da produção, mas não consegue passar de um coadjuvante um tanto esquecido pelo roteiro e utilizado apenas convenientemente. Illyana, vivida por Anya Taylor-Joy, é mais uma que, perceptivelmente, tem uma história de fundo a ser explorada, um visual chamativo e poderes que servem bem a tela grande, entretanto subutilizados, guardados para o clímax. Momento esse que tenta esconder a computação gráfica duvidosa em cenas escuras.

Tentando ser um filme sobre amadurecimento e passando longe de carregar os argumentos necessários para tanto, Os Novos Mutantes não acerta no terror, resumido a algumas criaturas sem criatividade que aparecem por alguns minutos e não fazem nada.

Não acerta na ação. E, muito menos, na ficção científica. A direção de Josh Boone é apenas operante, mas nada inventiva. Apesar dos pesares, apresenta personagens intrigantes que, se bem trabalhados, renderiam histórias melhores. Pela curta duração, é uma diversão totalmente descomprometida. Não entrega nenhum êxtase, mas, por outro lado, não chega a ser ofensivo. Era, apenas, melhor no imaginário coletivo enquanto a produção não se tornava realidade.