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domingo 22 dezembro 2024
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Coluna de Cinema – Bloodshot

Adaptação de super-herói dos quadrinhos. Essa descrição soa familiar? Apesar de ainda estarmos vivendo em pleno período dos heróis no cinema, a grande saturação do gênero acaba sendo uma seleção natural da espécie, tornando o público mais seletivo para consumir tanto material parecido. Diante dessa barreira oriunda da própria indústria, surge mais um soldado com poderes incríveis direto das HQs, dessa vez, porém, desligada das grandes Marvel e DC.
Tendo origem nos anos 90, em um grande movimento de novos heróis de quadrinhos que buscavam seu lugar ao sol, a Valiant Comics, lançou, além de alguns outros, Bloodshot. Seu plot é simples: ex-soldado dos EUA, morto em combate, trazido de volta a vida com a ajuda da nanotecnologia que, não só o torna basicamente imortal, mas provém, ainda, força sobre-humana, acesso a computadores, banco de dados, redes elétricas e, claro, regeneração acelerada. Não por acaso essa descrição parece uma amálgama de poderes de alguns X-Men, uma vez que, nessa época, os mutantes estavam no ápice de suas revistas.
Com Vin Diesel abraçando o personagem já fica claro o tipo de filme que podemos esperar, afinal o ator parece ter cláusulas de contrato muito bem definidas para realização de seus filmes. Frases de efeito, humor questionável, perseguições exageradas, moças bonitas ao seu redor, regata branca, salvar o mundo e um carisma quase inexistente são algumas das características sempre presentes em seus trabalhos, não sendo diferente aqui. É impossível esperar grande profundidade ou desenvolvimento do protagonista, uma vez que Diesel, pelo menos aqui, é incapaz de expressar reais emoções.
Apesar de apresentar vários problemas em praticamente todos os fatores, dois deles se destacam ao incomodar mais. O primeiro, certamente, é o roteiro. Não é como se esperássemos muito de uma história como essa, mas ao tentar criar uma trama mais inteligente que as costumeiras em filmes do gênero, o roteiro acaba perdendo a grande chance de surpreender ao utilizar o mesmo enredo de Amnésia, de 2000 (o que não é um spoiler, pois deixaram isso bem claro nos trailers), e, para piorar, entregar a reviravolta da maneira mais pífia e sem força possível, tirando qualquer chance de serem lembrados, ao menos, como uma boa “releitura” da obra inspiradora. A inspiração é tão delineada que transcende para a metalinguagem, tendo como grande vilão o ator Guy Pierce, responsável outrora por ninguém menos que o protagonista no próprio Amnésia.
Se tudo isso ainda tem chance de passar despercebido pelo público que, talvez, não conheça as referências e inspirações do longa, o outro quesito que gera grande incômodo é bem mais perceptível. A montagem da produção é alucinante. E não digo no bom sentido. Mesmo em cenas de diálogos e momentos de alívio, os takes são rápidos demais, gerando muitos cortes e mudanças de ângulo em uma mesma cena, causando desconforto e exaustão para quem assiste. Não dá tempo de contemplar o que está sendo mostrando. Nas cenas de ação, esse é um conceito já bem difundido, mas aliado com a direção de Dave Wilson, temos lutas genéricas e pouco inspiradas, recorrendo mais de uma vez ao recurso de poeira (ou farinha) no ar e luzes vermelhas na tentativa de uma fotografia de uma atmosfera interessante.
Tendo muita coisa para ser relevada ao ponto de ser apreciado, Bloodshot desperdiça a chance de engrenar uma franquia trazendo uma trama mal contada e um protagonista sem carisma. É um filme de ação genérico com escopo bem parecido com outros de Vin Diesel e, portanto, recomendado para aqueles que já tendem a gostar das obras do ator.

Por Giuseppe Turchetti