Desde 1996, o NUPES – Núcleo de Pesquisas Econômico-Sociais da Universidade de Taubaté, faz a divulgação mensal do custo da Cesta Básica recomendada para uma família com 5 pessoas. Os valores apurados na primeira semana de setembro de 1996 são utilizados como base para observação da evolução dos preços da cesta todos os meses no Vale do Paraíba.
A Cesta Básica Familiar é composta de produtos que, segundo ponderações da evolução da participação dos principais grupos de bens nas pesquisas familiares (Pesquisa de Orçamento Familiar feita pela FIPE-USP-90/91, preenchem as necessidades de higiene pessoal, limpeza e alimentação de uma família-padrão brasileira, com poder de compra de 5 salários mínimos vigentes, que em fevereiro de 2020 era de R$ 5.225,00.
O NUPES calculou o custo da cesta básica recomendada acima nas cidades de Caçapava, Campos do Jordão, São José dos Campos e Taubaté e representa como a cesta básica do Vale do Paraíba. Em fevereiro o valor da cesta básica foi R$ 1.710,65 valor maior do que o verificado em janeiro de 2020 que foi de R$ 1.704,80. Esta variação preços é a primeira variação positiva do ano de 2020 invertendo a deflação observado no mês de janeiro, acompanhando assim o comportamento de alta nos preços da cesta básica em todo o país.
A Tabela 1 apresenta os preços da Cesta Básica Familiar das cidades do Vale do Paraíba e suas variações no mês de fevereiro de 2020, comparado ao mês de janeiro de 2020. Quase todas as cidades obtiveram variações positivas e em apenas uma cidade variação negativa, contudo, a maioria dos percentuais está próximo a zero, ou seja, houve aumentos nos preços médios da cesta básica, porém, pouco expressivos.
Em fevereiro já era esperado um ligeiro aumento dos preços médios em todas as cidades pesquisadas. São José dos Campos teve a maior variação positiva (+ 0,91%), demonstrando um aumento significativo dos preços, porém Caçapava obteve o maior valor da cesta mesmo com variação percentual negativa, registrando assim um valor de: R$ 1.736,91. Já Campos do Jordão continua como a cidade que tem o menor preço da cesta básica regional, de R$ 1.677,19. A diferença da variação percentual dos preços entre as cidades de menor e maior preço em fevereiro foi de 3,56% portanto menor que o verificado no mês de janeiro que foi de 3,99 %.
A Tabela 2 apresenta o comprometimento dos cinco salários mínimos na aquisição da Cesta Básica Familiar, nas cidades pesquisadas e a média do Vale do Paraíba, bem como à disponibilidade financeira para outras despesas.
O percentual da renda necessária à compra da cesta em fevereiro foi em média 32,73% da renda total, portanto superior aos 32,81% do mês de janeiro de 2020. Esse aumento no comprometimento da renda na aquisição da cesta é resultado de fatores climáticos, como o excesso de chuvas em algumas regiões e a seca em outros, que danificou a produção de alguns alimentos, juntamente com o aumento contínuo do dólar que impacta em alguns produtos que compõem a cesta básica.
Tomando como base a renda mensal de cinco salários mínimo (R$ 5.225,00), em fevereiro, a disponibilidade ficou em R$ 3.514,35 sendo este valor superior ao verificado em janeiro de 2020 que foi de R$ 3.490,20. Tal disponibilidade menor da renda decorre do aumento no valor salário mínimo de R$ 1.039,00 para 1.045,00, variação de + 0,58% no salário, superior a variação no preço da cesta de +0,34%. A consequência positiva imediata do valor do salário mínimo e a instabilidade relativa dos preços da cesta básica foi a maior disponibilidade de renda para os outros gastos das famílias, como transporte, saúde, educação, lazer, entre outros bens que compõem a cesta de produtos consumidos por elas.
A Tabela 3 apresenta os itens da cesta, assim como o peso ponderado dos três grupos de produtos. O item alimentação foi responsável por 88,79% do valor da cesta, o item higiene pessoal (6,51%) e, o item limpeza doméstica (4,70%). No mês de fevereiro apenas o segmento de higiene pessoal teve variação negativa no preço médio da maioria dos produtos.
Na comparação dos preços médios de fevereiro de 2020 em relação janeiro de 2020, dos 32 produtos de alimentação pesquisados, 11 apresentaram reduções e 22 aumentos. Dos 5 produtos do item higiene pessoal 2 apresentaram aumentos e 3 reduções. Em relação aos 7 produtos de limpeza doméstica 6 apresentaram aumentos e 1 redução.
A Tabela 5 apresenta a variação nos preços da cesta básica nos últimos 12 meses. A variação positiva de + 0,34% em fevereiro inverte a variação negativa de – 0,18% no mês de janeiro que acumula uma variação positiva nos preços de 0,16% nos dois meses do ano de 2020.
O mês de fevereiro é comum apresentar um comportamento mais instável do consumo das famílias, principalmente, devido aos hábitos diferentes dos verificados nos meses anteriores. As variações de preços em fevereiro foram motivadas por fatores internos relacionados à mudanças climáticas e impactos da variação cambial e, até o problema do corona vírus, que em conjunto refletem nas condições de importação de alguns produtos. Estes fatores impactaram no consumo, o que, em conjunto criam uma expectativa de instabilidade dos preços para os próximos
As condições do ambiente econômico que passam a sinalizar incertezas com os indicadores de desempenho, relacionado a conjuntura econômica e, níveis de renda quase inalterados, também devem ser considerado como responsáveis pelo aumento dos preços da cesta básica, porém em conformidade com o que acontece no País como um todo, porque sinalizam uma redução do consumo das famílias.
Portanto, dois fatores podem explicar, em grande medida, a variação próxima de zero dos preços médios na região. O primeiro relaciona-se às condições de demanda interna influenciada pela peculiaridade da conjuntura econômica atual que gera queda de consumo de bens básicos e, às condições de natureza climáticas e de temperaturas que gerando impactos adversos nas culturas de alimentos, prejudicando principalmente a região com a seca que já ultrapassam dois meses no ano.
As variações negativas do mês de fevereiro da cesta básica alteraram de maneira não significativamente, as variações acumuladas dos últimos 12 meses na região do Vale do Paraíba alcançando 9,50% contra 4,72% do índice geral medida pelo IPCA e divulgada pelo IBGE. Vale notar que a cesta de produtos que estamos tratando na região do Vale do Paraíba é de apenas 44 produtos, categorizados em 03 grupos: Alimentação, Higiene Pessoal e Limpeza doméstica, diferente da inflação nacional que tem uma composição muito mais ampla de produtos, uma vez que contempla vários setores importantes da economia.
Os principais produtos que sofreram variações em seu comportamento de preços assim como os possíveis motivadores seguem abaixo.
PRODUTOS QUE APRESENTARAM ALTA NOS PREÇOS
Cenoura ( + 36,40%)
A alta nos preços é reflexo da redução da oferta de cenouras em todo o País, consequência do clima quente e chuvoso que prejudicaram a safra deste inicio de ano. Segundo os pesquisadores do Hortifrúti/Cepea/USP, vários problemas vêm resultando em descartes, prejudicando a qualidade e a produtividade das raízes, o que dificulta atender à demanda por cenoura de qualidade.
Tomate ( +34,15%)
O excesso de chuva tem atrapalhado a colheita reduzindo a oferta e a qualidade dos produtos nas principais regiões produtoras no país e aumentando a incidência de pragas.
Alho ( + 9,08%)
O aumento nos preços está relacionado ao aumento do dólar e a crise de saúde pública na china, pois o alho é um produto importado proveniente da Ásia.
Abobrinha ( + 6,07%)
O excesso de chuva tem atrapalhado a colheita reduzindo a oferta e a qualidade dos produtos nas principais regiões produtoras no país.
PRODUTOS QUE APRESENTARAM BAIXA NOS PREÇOS
Carnes Bovina: alcatra (- 9,76%) e contrafilé (- 5,29%)
A redução da carne bovina está atrelada a baixa demanda interna e a redução significativa das exportações do mesmo para países Asiáticos, que são nossos principais compradores. Cabe observa a queda no preço dos cortes de carnes bovinas mais nobres (os mais exportados).
Feijão (-5,52%)
Realinhamento de preços coma a chegada de uma nova safra ao mercado. O Feijão havia sido um dos principais vilões nos últimos meses e agora o preço está voltando a normalidade.
Carnes de Frango (-3,54) e de Porco (-4,01)
As baixas na carne branca estão atreladas a baixa demanda interna e o menor ritmo de exportações devido à crise de saúde mundial, determinadas pelo Corona Vírus. Também cabe destacar que a redução nos preços da carne bovina acirrou a competição com outros tipos de carnes – bens substituo – contribuindo para a queda no preço dos produtos.